A uma semana antes de a Comissão Europeia dar o seu primeiro parecer sobre a candidatura da Ucrânia à adesão à UE, Ursula von der Leyen aterrou em Kiev e pareceu dar sinais claros de que a opinião vai ser favorável. Ao lado do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a presidente da Comissão Europeia teceu elogios ao empenho do país no processo, mas também à solidez das suas instituições, e prometeu estar ao lado da Ucrânia nas “reformas” que o país terá de fazer.

No palanque junto a Zelensky, após uma reunião de trabalho, von der Leyen mostrou um tom otimista e elogioso para falar dos ucranianos que “corajosamente” defendem o seu país — e, mesmo “partilhando as lágrimas” pelas vítimas, quis falar de futuro.

“Vejo que a vida está a voltar a Kiev. Estão a reconstruir as pontes, a limpar os destroços, há pessoas a voltar de fora, isto é um bom sinal”, explicou, focando-se na “plataforma de reconstrução” em que está a trabalhar agora com o governo ucraniano.

“O que queremos fazer juntos é criar uma direção comum, ter um plano muito claro sobre como orquestrar esta reconstrução, com total transparência e responsabilidade para ajudar a Ucrânia a levantar-se das cinzas. Para apoiar a Ucrânia no seu caminho europeu, é tão importante ter a combinação de reformas e investimentos”, explicou. E considerou mesmo que o país “já estava no bom caminho antes da invasão atroz. É uma democracia parlamentar presidencialista sólida, com instituições robustas”.

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“Compensa agora terem feito a reforma da descentralização, a administração está a funcionar a todos os níveis apesar da guerra e é resiliente, totalmente capaz de funcionar em circunstâncias incrivelmente difíceis. O país é incrivelmente digitalizado. Já temos acordo de associação e de comércio livre”, lembrou. É, ainda assim, preciso fazer mais pela solidez da Ucrânia enquanto estado de Direito e para garantir que tem as condições necessárias para se juntar à UE.

“O foco está em ultrapassar esta guerra horrível. Mas queremos olhar mais longe. Ainda há reformas a fazer para lutar contra a corrupção, pelo estado de Direito”, avisou.

A conversa com Zelensky, garantiu von der Leyen, serviu precisamente para acabar a avaliação que a Comissão Europeia está a preparar e na qual está a trabalhar “incansavelmente”, garantiu. A previsão tem sido que este primeiro parecer seja positivo mas indique a necessidade de algumas reformas, sobretudo para reforçar a luta contra a corrupção — depois disso, a 23 e 24 de junho, poderá ser mais complicada a cimeira em que os líderes europeus serão chamados a pronunciar-se sobre o assunto, uma vez que não há ainda consenso.

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Portugal é, aliás, um dos países que têm sido, pelo menos, cautelosos na avaliação do processo — uma posição que “surpreendeu” a Ucrânia.

Já von der Leyen, que já se tinha mostrado otimista em relação ao processo, elogiou o empenho da Ucrânia: “O caminho é conhecido e tem base no mérito. Aprecio muito o enorme esforço da Ucrânia neste processo. As pessoas provaram ter uma força e motivação incríveis”.