O Conselho do BCE agendou uma reunião extraordinária para esta quarta-feira, uma iniciativa pouco comum que será uma oportunidade para que os responsáveis do banco central possam analisar a recente volatilidade dos mercados financeiros. No topo das preocupações está a rápida desvalorização do euro face ao dólar e a outras divisas – um fator que, em si mesmo, impulsiona a inflação – e, também, a pressão que se gerou nas últimas semanas sobre os títulos de dívida soberana dos países mais endividados da zona euro, incluindo Itália e Portugal.

Embora não existam mais detalhes sobre aquilo que o BCE poderá anunciar esta quarta-feira – se é que irá anunciar alguma coisa concreta – a notícia desta reunião de emergência já levou a uma inversão dos dois movimentos. Por um lado, o euro voltou a aproximar-se dos 1,05 dólares, com uma subida de quase 1% que atenua as fortes perdas recentes.

No final de maio o euro valia 1,075 dólares, por exemplo, e no início do ano rondava os 1,15 dólares – uma desvalorização que tem preocupado o BCE porque tende a agravar a inflação que se gera nas importações energéticas, de produtos que são denominados em dólares. O banco norte-americano vaticinou na terça-feira que o euro atingiria a paridade face ao dólar no espaço de um mês, e a provável subida das taxas de juro que a Reserva Federal irá anunciar ao final desta tarde poderia acentuar esse movimento de desvalorização do euro face ao dólar.

Euro desce cerca de 10% face ao dólar este ano, com a perceção de que a Reserva Federal dos EUA seria mais rápida e agressiva do que o BCE na subida das taxas de juro. FONTE: TradingEconomics

Por outro lado, tão ou mais preocupante para o BCE é que os investidores viram com desilusão o facto de Christine Lagarde não ter conseguido reunir consenso na última reunião do banco central para que se anunciasse algum tipo de ferramenta concreta para fazer face à eventual subida das taxas de juro (e divergência dos prémios de risco implícitos) dos países mais endividados, como Itália e Portugal.

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BCE. Lagarde atira à inflação e acorda “fantasma” da dívida de países como Itália e Portugal

A cerca de duas semanas de terminarem oficialmente as novas compras de dívida pública nos mercados, por parte do BCE, Christine Lagarde limitou-se a garantir que o BCE teria toda a abertura para anunciar algum tipo de instrumento – fosse ele apenas cautelar ou, mesmo, com intervenção concreta – que fosse uma garantia de que a subida dos juros não criava riscos de fragmentação da política monetária, o que em termos simples significa taxas de juro muito diferentes no seio dos vários países da zona euro. Mas nada foi anunciado.

O BCE também tem sublinhado que vão continuar a reinvestir-se, de forma flexível, todos os valores que o BCE receber de reembolsos e juros de dívida (pelos títulos que adquiriu ao longo dos anos). Porém, recusa-se a quantificar exatamente o “poder de fogo” que está em causa, pelo que os participantes do mercado de dívida pública estão a especular que os países endividados irão sentir mais dificuldades na missão de obter o financiamento de que necessitam a juros sustentáveis.

As taxas de juro de Portugal superaram os 3% e as de Itália os 4%, o que traduz uma divergência crescente face aos custos de financiamento da Alemanha, a quem os mercados estão a pedir 1,7% para comprar dívida a 10 anos.

A reunião de emergência do BCE levou a várias mudanças de hora no agendamento de um evento público que o Banco de Portugal promove nesta manhã de quarta-feira: a apresentação, por Mário Centeno, do Boletim Económico trimestral em que serão atualizadas as projeções económicas para este ano e para os próximos. A conferência de imprensa passou a estar agendada para as 12h00 desta quarta-feira.