A comentar a situação mundial a partir da Alemanha, numa mesa redonda virtual, Carlos Tavares, o CEO da Stellantis, chamou a atenção para os efeitos nefastos associados ao combate à recessão, no que respeita à venda de veículos eléctricos. Defende o gestor português que a necessidade de limitar a travagem da economia, por parte dos governos dos diferentes países, vai potencialmente reduzir a sua capacidade de ajudar a venda de modelos eléctricos, ainda mais caros e a depender dos incentivos fiscais.

Argumenta Tavares que os governos dos diferentes países vão sofrer um rude golpe na sua contabilidade, uma vez que a recessão está a fazer disparar os custos com o serviço da dívida, impulsionada pelo incremento das taxas de juro. Isto vai reduzir as verbas disponíveis para funções sociais e despesas várias, entre as quais as ajudas e incentivos à aquisição de veículos eléctricos, o que terá como consequência uma queda na procura por este tipo de veículos.

O responsável pela Stellantis receia que a necessidade de lutar contra o deficit vá limitar as ajudas à compra de modelos eléctricos, reduzindo assim a sua competitividade, sobretudo junto da classe média, aquela que mais depende de incentivos para adquirir este tipo de veículos. Os veículos eléctricos mais caros não dispõem de tantos apoios, mas para a gama média e até a mais acessível, as ajudas são determinantes.

É certo que, no que diz respeito aos veículos eléctricos, Carlos Tavares vê sempre o copo meio cheio, uma vez que a perda de poder de compra pela classe média (já para não falar da baixa, tradicionalmente com maiores dificuldades financeiras) devido à crise, fará igualmente reduzir o interesse em adquirir automóveis novos, mesmo os equipados com mecânicas tradicionais, com motores de combustão. E o grosso das vendas das marcas da Stellantis, bem como dos restantes construtores tradicionais, está centrado nos modelos com motores de combustão.

Tavares defende ainda “uma estabilidade das regras de emissões”, de acordo com o The Detroit News, e aconselha que “se deixe de brincar com as regras”. Isto acaba por parecer uma crítica à Associação Europeia dos Construtores Automóveis (ACEA), cujo lobbying tem tentado por diversas vezes, nos últimos anos, suavizar as regras pré-determinadas, anunciadas e aprovadas, para o controlo das emissões dos veículos comercializados no Velho Continente.

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