A Mercedes apresentou o AMG One em 2017, um hiperdesportivo com um chassi sofisticado e eficaz, em fibra de carbono para ser rígido e leve, montando uma mecânica similar à que recorrem os modelos de F1 da marca. Não é o primeiro desportivo de estrada com motor de F1, pois esse mérito coube ao Ferrari F50, mas é de longe o hiperdesportivo com o motor mais pequeno do mercado, uma vez que os F1 usam desde 2014 um motor 1.6 V6 com 700 cv, que depois chega a atingir 1000 cv em ritmo de qualificação com recurso a motores eléctricos.

Conceber o AMG One foi fácil, mas convencer o 1.6 V6 a respeitar as normas antipoluição foi mais complexo e um dos motivos que levaram a Mercedes a admitir que venderá o One na Europa, mas não nos EUA, pois isso limitaria ainda mais o motor. Agora que o hiperdesportivo foi finalmente revelado na sua versão definitiva, já se conhecem todos os pormenores do melhor Mercedes da história, que pretende ser excelente em estrada mas igualmente em pista, com a marca a ter já os olhos postos no recorde no circuito de Nürburgring.

O 1.6 V6 soprado por um turbocompressor é similar aos F1 de 2015, mas numa versão mais calma, uma vez que está limitado a 11.000 rpm, em vez das habituais 14.000 rpm, sendo ainda “sufocado” pelas normas de emissões, o que lhe permite debitar apenas 574 cv. Mas se este é o único motor de combustão a bordo, não é a única unidade motriz, uma vez que o One possui mais quatro motores eléctricos. O primeiro, com 122 cv (90 kW) está acoplado ao turbocompressor (tal como acontece nos F1), destinando-se a colocá-lo imediatamente às 100.000 rotações, assim que se toca no acelerador, para evitar o atraso na resposta do turbo – o tradicional “turbo lag”. Este motor é ainda capaz de gerar energia com o excesso de pressão do turbo não utilizada, recarregando a bateria, que possui apenas 8,4 kWh, recarregável numa tomada com 3,7 kW.

Uma revisão pode custar 850.000€

Os restantes três motores eléctricos possuem todos 163 cv (120 kW), estando um deles acoplado à cambota, para reforçar a potência do motor de combustão e recarregar a bateria nas travagens e desacelerações. Os outros dois motores estão associados a cada uma das rodas da frente, garantindo tracção integral enquanto a bateria tiver carga e funcionar em modo eléctrico durante 18,1 km. Este cocktail permite à Mercedes reivindicar para o AMG One 1063 cv, o que se obtém somando a potência do motor térmico e dos três motores eléctricos de 163 cv. Mas a matemática, neste caso, só garante os 489 cv das unidades eléctricas enquanto a bateria de 8,4 kWh possuir energia, uma capacidade que não anda longe de algumas scooters eléctricas do mercado.

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O AMG One vai ser entregue por 2,75 milhões de euros a unidade, a que será necessário somar os impostos, o que só com o IVA o leva a atingir 3,38 milhões de euros. Contudo, ainda falta fazer frente aos outros impostos, relativos às emissões, com o One a anunciar um consumo de 8,7 l/100km, a que correspondem 198 g de CO2/km.

Se acha caro, é bom que saiba que o motor de F1 não aguenta muito e, apesar de estar “suavizado”, exige um “recondicionamento” a cada 50.000 km. Não se trata de uma revisão, mas sim de substituir peças para fazer de um motor velho outro em estado novo, capaz de percorrer mais 50.000 km. E o custo deste “recondicionamento”, que obviamente depende do estado do motor, é estimado pela marca num valor que pode atingir 850.000€, o que com IVA supera 1 milhão de euros.

Juntamente com as especificações técnicas, foram também libertados os dados relativos à performance do One, com o “super” Mercedes a anunciar uma velocidade máxima de 352 km/h, o que é pouco para um carro com cerca de 1000 cv, bem como a capacidade de ir de 0-200 km/h em 7 segundos. A imprensa alemã menciona igualmente a capacidade de ir de 0-100 km/h em 2,9 segundos, associada a um peso bastante elevado, de 1770 kg.

Afinal, o AMG One ganha ou perde para o Valkyrie?

Colocados frente-a-frente, parece óbvio que estamos perante dois dos mais exuberantes hiperdesportivos do mercado. Menos orientados para a potência bruta e para o luxo, ao contrário do Bugatti Chiron, mas mais para a eficácia e rapidez em pista, pois ambos visam bater os recordes em todas pistas em que realizem treinos cronometrados.

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Em termos de nobreza da mecânica, o Aston Martin parece estar uns pontos acima do Mercedes, e aqui utilizando os mesmos argumentos que permitiram à marca alemã reclamar para si os motores mais sofisticados e nobres quando possuíam um maior número de cilindros. E a realidade é que o V12 com 6,5 litros atmosférico do Valkyrie, com redline às 11.100 rpm, não só tem um gritar apaixonante – é bom recordar que o ruído destes pequenos 1.6 V6 de F1 sempre foi um dos pontos mais criticados –, como fornece 1013 cv, a que alia mais 163 cv do sistema KERS similar aos F1. Daí que o Valkyrie anuncie 402 km/h, um valor que ofusca em 50 km/h a velocidade máxima do AMG One, modelo que também é batido no arranque, com o Aston Martin a necessitar de apenas 2,7 segundos para chegar aos 100 km/h, contra 2,9 do One, para depois a barreira dos 200 km/h ser franqueada em 5,9 segundos, contra os 7,0 segundos do Mercedes.

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Mas talvez a maior desvantagem do Mercedes-AMG One provenha do facto de o Valkyrie, cujo V12 concebido pela Cosworth pesa apenas 206 kg, ser bem mais leve. Ronda os 1100 kg, o que lhe assegura uma vantagem de quase 600 kg face ao seu mais “gordo” rival alemão. O hiperdesportivo da Aston Martin usufrui de vantagens a travar, a curvar e a acelerar, ao passo que o seu adversário alemão junta menos potência a mais peso, pelo que as probabilidades de o Valkyrie vencer são esmagadoras. Este Aston Martin é proposto por 2,5 milhões de libras antes de impostos, ou seja, cerca de 2,9 milhões de euros. Mas a ligeira diferença no preço, face ao rival germânico, será largamente compensada por uma manutenção mais em conta no modelo inglês.