A decisão do Supremo Tribunal dos EUA em revogar a proteção do direito ao aborto em vigor no país desde 1973 está na origem de uma polémica que envolve o fundador da empresa portuguesa Prozis. Tudo começou, domingo, com uma publicação de Miguel Milhão na rede social Linkedin.

Parece que os bebés por nascer têm os seus direitos de volta nos EUA, a natureza está a curar-se”, afirmou o fundador, que reside atualmente em território norte-americano.

As críticas não se vieram esperar e várias celebridades já se desvincularam da marca de produtos de alimentação e nutrição, como a apresentadora da RTP Rita Belinha. “E assim chegou ao fim uma parceria. Não verão mais publicidade no meu Instagram a esta empresa [Prozis]. É uma questão de princípio. Os valores por detrás das empresas, para mim, são fundamentais na hora de escolher com quem trabalho”, escreveu.

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“Quando esses valores vão contra as minhas maiores convicções, a decisão torna-se fácil. E não, para mim isto não é uma questão de opinião, isto para mim, é como trabalhar com um racista ou um homofóbico“, concluiu.

Também as atrizes Jessica Athayde e Marta Melro manifestaram a sua posição contra as declarações de Miguel Milhão. “Todas as vozes vão ser necessárias neste momento tão grave em que o mundo regride à frente dos nossos olhos“, disse Jessica Athayde nas stories do Instagram, anunciando o fim da sua colaboração com a marca. Uma decisão igualmente seguida por Marta Melro.

À revista MAGG, o fundador da Prozis reforçou o seu apoio à decisão do tribunal norte-americano: “Todos têm direito a diferentes opiniões. Quanto a mim, não consigo fazer mal a bebés. Teria pesadelos à noite. Desculpem.” Já em relação a uma mudança de lei idêntica em Portugal o empresário considera que “cabe aos cidadãos portugueses decidirem que leis querem para o seu país. Já não vivo nem voto em Portugal. Quanto aos Estados Unidos, estou contente pelo caminho que a lei tomou porque acredito nos direitos das crianças que ainda não nasceram.”

No podcast “Conversas do Karalho”, o fundador da Prozis voltou a sua declaração no Likedin — a conta foi, entretanto, apagada pelo próprio — tendo explicado que não é CEO da empresa, apenas acionista, pelo que o seu comentário não deveria ser ligado à gigante dos suplementos alimentares.

Se quiserem cancelar a Prozis, esta não precisa de Portugal, é uma empresa com mercado internacional“, afirmou ainda Miguel Milhão no podcast.

No site da empresa, a Prozis apresenta a linha orientadora da marca e os valores que a regem. “Tratamos os outros da mesma forma que gostamos de ser tratados. Às vezes, agressivos, outras vezes com dureza, mas também suaves e cuidadosos. Não discriminamos com base na cor, religião, sexualidade ou cultura”, lê-se no site. Mas também se deixa o alerta: “não gostamos de pessoas que maltratam os outros. A nossa inspiração está enraizada nos padrões éticos do cristianismo e da cultura ocidental. Não queremos saber sobre o que é politicamente correto. Não tentes mudar-nos, não vais conseguir.”

Apesar desta postura pública da empresa que fundou, Miguel Milhão explicou que a sua opinião tem como base uma posição “ética” e não “religiosa”, dirigindo-se “a esta canzoada” de “filhos da p***” que se manifestou contra a sua declaração.”Se eu tivesse uma criança que tivesse sido violada, eu tentava falar com ela e eu cuidava da criança sem problema, não consigo matar uma futura criança”, disse ainda.