Sete anos de discussão resumidos a um par de horas de votação para encontrar a “verdade”. A Assembleia Geral Extraordinária da Federação sufragava esta quarta-feira a história do futebol português a nível de títulos entre 1922 e 1938, com dois pareceres pedidos pelo órgão federativo a académicos das universidades de Lisboa, Porto e Coimbra e um terceiro introduzido pelo Sporting, feito também por académicos, que tinha sido enviado à FPF em dezembro de 2020. Com isso, havia um de quatro cenários possíveis: a aprovação do parecer 1, do parecer 2, do parecer 3 (que estava noutro ponto da ordem) ou ficar tudo igual. E foi essa última via que acabou por sair “vencedora”, após o sufrágio por votos secreto de 62 delegados.
Contas feitas, nenhum dos pareceres conseguiu reunir os 43 votos que seriam necessários para a maioria que permitisse uma alteração na análise histórica caso marcassem presença os 84 delegados, 32 perante os 62 que votaram. E esse cenário ficou longe: o parecer 1 teve 13 votos, o parecer 3 ficou-se pelos oito, o parecer 2 reuniu somente um e houve mais sete abstenções além de um total de 33 delegados que consideraram que não deveria ser feita qualquer mudança. Com isso, ficou tudo como estava até hoje na ótica da Federação Portuguesa de Futebol. E o Sporting, que “reclamava” 23 Campeonatos, tem assim 19.
Antes ainda dessa votação, uma outra acabou por ficar suspensa, neste caso a do Regulamento Disciplinar que tinha sido aprovado em Assembleia Geral da Liga de Clubes. Ou seja, o processo terá de ser repetido e o documento reformulado com uma nova reunião magna antes de voltar à Federação. Entre vários pontos que geraram discussão nos últimos dias, a mudança do artigo 150 foi o que mais celeuma levantou por, na proposta que iria a votos, acabar com as sanções a jogadores que não se apresentem às suas seleções. Em contrapartida, o Regulamento da Arbitragem foi votado e aprovado na reunião desta quarta-feira.
Quem é quem e quem votava na Assembleia Geral Extraordinária
- Sócios da FPF (29): Associações Distritais e Regionais (22), Liga de Clubes (1), Sindicato de Jogadores (1), Associação de Treinadores (1), Associação de Árbitros (1), Associação de Dirigentes (1), Associação dos Médicos (1) e Associação dos Enfermeiros e Médicos (1)
- Delegados (55): Liga de Clubes (20), clubes não profissionais (8), clubes distritais (7), Sindicato de Jogadores (5), Jogadores amadores (5), Treinadores (5) e Árbitros (5)
- Quem representa agora a Liga: Sporting (2), FC Porto (2), Benfica, Sp. Braga, V. Guimarães, Rio Ave, Boavista, Marítimo, Portimonense, P. Ferreira, Moreirense, Desp. Chaves, Académica, Nacional, Penafiel, Tondela, Feirense e Belenenses SAD
Parecer 1: até 1934 são Campeonatos, durante a Liga experimental são Taças
O primeiro parecer, feito por três elementos indicados pela Universidade do Porto (Amândio Barros, Manuel Janeira e Ricardo Pereira) e um da Universidade de Lisboa (Sílvia Alves), defendia que as equipas vencedoras do Campeonato de Portugal entre 1921/22 e 1933/34 deviam ser consideradas campeãs nacionais tal como as que ganharam também o Campeonato da Liga (considerada então como uma Liga experimental) entre 1934/35 e 1937/38, ao passo que os vencedores do Campeonato de Portugal entre 1934/35 e 1937/38 ficavam com os títulos revertidos em Taças de Portugal e não Campeonatos Nacionais.
- Campeonatos Nacionais: 39 do Benfica (mais dois), 33 do FC Porto (mais três), 21 do Sporting (mais dois), quatro do Belenenses (mais três), um do Boavista, um do Carcavelinhos (mais um), um do Olhanense (mais um) e um do Marítimo (mais um);
- Taças de Portugal: 27 do Benfica (mais uma), 19 do Sporting (mais duas), 19 do FC Porto (mais uma), cinco do Boavista, três do Sp. Braga, três do V. Setúbal, três do Belenenses, duas da Académica, uma do Beira-Mar, uma do Leixões, uma do V. Guimarães, uma do Estrela e uma do Desp. Aves.
Parecer 2: todos os Campeonatos de Portugal devem ser Taças de Portugal
O segundo parecer, feito por Francisco Pinheiro que foi nomeado pela Universidade de Coimbra, tinha um cariz mais conservador sem deixar de colocar mais títulos no palmarés. Aqui, o entendimento era que o Campeonato da Liga era o antecessor do Campeonato Nacional e que o Campeonato de Portugal foi o antecessor da Taça de Portugal, colocando assim os títulos entre 1921/22 e 1937/38 na Taça de Portugal.
- Campeonatos Nacionais: 37 do Benfica, 30 do FC Porto, 19 do Sporting, um do Belenenses e um do Boavista;
- Taças de Portugal: 29 do Benfica (mais três), 22 do FC Porto (mais quatro), 21 do Sporting (mais quatro), seis do Belenenses (mais três), cinco do Boavista, três do Sp. Braga, três do V. Setúbal, duas da Académica, uma do Beira-Mar, uma do Leixões, uma do V. Guimarães, uma do Estrela, uma do Desp. Aves, uma do Carcavelinhos (mais uma), uma do Olhanense (mais uma) e uma do Marítimo (mais uma).
Parecer 3: todos os Campeonatos de Portugal devem ser Campeonatos Nacionais
O terceiro parecer submetido pelo Sporting era assinado por Diogo Ramada Curto e Bernardo Pinto da Cruz, investigadores do Instituto Português de Relações Internacionais. Neste caso, e como assumem desde 2015, era defendido que os Campeonatos de Portugal deviam ser considerados Campeonatos Nacionais do início da sua existência até 1938, sendo considerados também os quatro anos em que, de forma paralela, houve um Campeonato da Liga descrito como uma versão experimental para a principal competição do calendário português que existe nos dias que correm. Além de os jornais da época fazerem uma descrição desses triunfos como “campeões nacionais”, o parecer defendia que o facto de ser uma prova realizada por eliminatórias não apagava o facto de haver apurados das regiões do país a nível nacional. Com isso, o Benfica ganharia três Campeonatos de Portugal mas perderia três do Campeonato da Liga.
- Campeonatos Nacionais: 37 do Benfica, 33 do FC Porto (mais três), 23 do Sporting (mais quatro), quatro do Belenenses (mais três), um do Boavista, um do Carcavelinhos (mais um), um do Olhanense (mais um) e um do Marítimo (mais um);
- Taças de Portugal: 26 do Benfica, 18 do FC Porto, 17 do Sporting, cinco do Boavista, três do Sp. Braga, três do V. Setúbal, três do Belenenses, duas da Académica, uma do Beira-Mar, uma do Leixões, uma do V. Guimarães, uma do Estrela e uma do Desp. Aves.