O Sistema de Depósito e Reembolso (SDR) de embalagens terá uma taxa de retoma de 90% em três anos, estima a associação SDR Portugal, candidata à gestão deste mecanismo, no qual quer investir até 100 milhões de euros.

“Vemos nos sistemas relativamente maduros, que a mediana anda nos 90%, estou a falar na Dinamarca, Estónia, Finlândia, Alemanha, Islândia, Lituânia, Noruega ou Suécia. Achamos que no primeiro ano não vamos conseguir, mas no prazo máximo de dois a três anos vamos conseguir ter esta taxa de retoma”, afirmou o presidente da SDR Portugal, Leonardo Mathias, em entrevista à Lusa.

A SDR Portugal é constituída por empresas do setor das bebidas e por retalhistas, como a Coca-Cola, Central de Cervejas, Sumol+Compal, Super Bock Group e Unilever (Circular Drinks), e por insígnias como a Auchan, Intermarché, Lidl, Mercadona e Sonae MC (SDRetalhistas).

Esta associação é candidata à licença ou concessão da gestão do Sistema de Depósito e Reembolso de embalagens de bebidas de uso único, cuja entrada em funcionamento estava prevista para 1 de janeiro de 2022, estimando um investimento superior a 100 milhões de euros, 70 milhões de euros dos quais a serem realizados nos primeiros dois anos.

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Até ao momento, mantém-se em vigor um projeto-piloto de recolha deste tipo de embalagens, que atribuiu benefícios aos consumidores, como talões de desconto, revertidos em compras ou donativos a instituições de solidariedade social.

“O Governo passado introduziu os projetos-piloto, que não deixam de ser uma intervenção inteligente e muito importante […]. Ao longo destes últimos dois anos, houve esta aprendizagem, agora o SDR Portugal entende que está pronto para se candidatar legitimamente à licença ou concessão”, sublinhou Leonardo Mathias.

O modelo agora proposto quer ir além dos testes e vê uma garrafa “como um valor” e não como um resíduo.

Através deste sistema, o consumidor passa a reaver uma parte do valor pago pelas embalagens em causa, através do depósito das mesmas nas máquinas disponíveis para o efeito.

Por exemplo, “se uma garrafa [até três litros] custa um euro, o seu valor à saída da fábrica é de 1,10 euros e os retalhistas não podem negociar ou descontar. Contudo, se o consumidor a entregar no local certo, receberá esses 10 cêntimos“.

A SDR Portugal quer instalar cerca de 2.600 máquinas de depósito e reembolso nas grandes superfícies de retalho, assegurando a recolha de embalagens em mais de um terço dos 90.000 pontos existentes no comércio tradicional e no canal Horeca (hotéis, restaurantes e cafés).

Estas máquinas vão ser quase “centrais de valor” e a recolha limpa e unitárias das garrafas de uso único, como as de plástico, aço ou alumínio, vai contribuir para o aumento das taxas de reciclagem e para poupanças ao nível da limpeza dos resíduos.

Segundo um estudo pedido à consultora 3drivers pela associação, baseado em dados qualitativos dos elos da cadeia e em outras análises já desenvolvidas, sobre o impacto do sistema de depósito e reembolso nos Sistemas de Gestão de Resíduos Urbanos (SGRU), prevê-se uma redução nos custos associados à limpeza entre 20 e 40 milhões de euros anuais.

A análise em causa aponta ainda potenciais ganhos dos SGRU e dos municípios entre nove e 20 milhões de euros, com a redução dos custos de recolha e triagem de embalagens e bebidas, que transitam para o SDR.

“Achamos que a nossa indústria de reciclagem tem capacidade instalada para receber mais material. Considerando que as matérias-primas estão tão altas, acho que isto é uma oportunidade muito interessante”, referiu o presidente da SDR Portugal.

Este ecossistema deverá criar entre 1.000 e 1.500 postos de trabalho diretos e indiretos em Portugal, em tarefas ligadas à manutenção das máquinas, limpeza, recolha, distribuição ou reciclagem.

As máquinas vão ser, sobretudo, colocadas nas grandes superfícies, mas a SDR Portugal estuda a possibilidade de estender este sistema a locais que ainda não apresentaram grande recetividade, como escolas, questão que poderá ser ultrapassada com campanhas de comunicação.

Por outro lado, considera “relevante” a recolha sazonal em pontos turísticos.

Leonardo Mathias destacou a importância de haver uma licença única, com concorrência livre, à semelhança do que já acontece com a SIBS, avisando que vários sistemas podem gerar confusão e distorção.

“Se inventarmos uma coisa diferente, não sei que tipo de taxas de retoma vamos conseguir. Nos EUA, as licenças são a nível estadual. O Massachusetts utiliza o modelo que preconizamos com uma única gestão e o Connecticut foi para sistema misto publico e privado. O primeiro tem 90% de recolha e o segundo, em 15 anos, nunca ultrapassou os 50%”, indicou.

O sistema acarreta também alguns desafios, como fazer pagamentos a quem ainda opera em modo analógico, mas também oportunidades, uma vez que ainda não são produzidas máquinas de depósito na Europa.

“Desafiamos as entidades portuguesas a pensar nisto. Não há máquinas na Europa. Julgamos que seria uma belíssima oportunidade para as empresas portuguesas”, concluiu.

A associação sem fins lucrativos SDR Portugal promove esta sexta-feira, no Museu do Oriente, em Lisboa, uma conferência para promover este sistema, contando com vários especialistas do setor.