Libertar determinadas funcionalidades de um automóvel apenas mediante a subscrição desse “serviço” não é propriamente uma novidade no sector. Mas, normalmente, são as marcas mais jovens que propõem isso, porque traçaram logo de início o seu modelo de negócio nessa base. E os clientes, como não têm uma relação de longa data com a marca, não estão “mal-habituados”, pelo que não se queixam. Na Europa, por exemplo, a Lynk & Co leva a subscrição ainda mais além, com os programas de assinatura a assumirem-se como uma alternativa à compra do próprio veículo.

Entre os fabricantes ditos “tradicionais”, a Volkswagen já admitiu vir a explorar os diferentes níveis de condução autónoma dessa forma – em linha, aliás, com a Tesla. Mas cobrar um determinado valor para que um cliente tenha o volante e os bancos aquecidos, ou os faróis (adaptativos) com a difusão de luz optimizada, ou a possibilidade de modular a sonoridade do motor é algo muito mais específico e que vai além da cobrança para explorar os assistentes de condução, que tenderá a generalizar-se. Contudo, é esse o caminho que a BMW escolheu seguir e que já iniciou nalguns mercados. Basta lembrar que ao contrário dos restantes fabricantes (premium e não premium), nos modelos do construtor bávaro a simples ligação ao Apple CarPlay exige pagamento, como se fosse um opcional. Agora, da Coreia do Sul, chega a notícia de que a marca de Munique alargou o leque de equipamentos disponíveis para compra ou “aluguer” através da plataforma BMW ConnectedDrive. Para já na Ásia oriental, se bem que mais cedo ou mais tarde a lógica passe por alargar e reforçar esta nova fonte de receita noutros continentes, inclusivamente o europeu.

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Na Coreia do Sul, a BMW propõe uma série de gadgets que, depois de um período experimental grátis, só voltam a ser disponibilizados caso o comprador subscreva a sua utilização. O volante  e os bancos aquecidos custam, respectivamente, 10€ e 18€ por mês (à cotação actual). A anuidade, a subscrição por três anos ou mesmo a compra definitiva são igualmente possíveis, aportando uma maior poupança a longo prazo. Uma das vantagens deste esquema, do ponto de vista do comprador, é que efectivamente não precisa de investir tanto para usufruir de determinadas funcionalidades que vai utilizar apenas pontualmente. Em contrapartida, não deixa de ser verdade que o cliente já comprou o seu BMW preparado para oferecer uma série de comodidades e de funcionalidades que incrementam a segurança de quem segue a bordo, carregando com elas para todo o lado. Quer queira quer não, do peso não se livra mesmo que não as use e, para o fazer, tem de pagar um extra.

A lista de possíveis compras online é mais extensa, incluindo opcionais que são adquiridos definitivamente, como é o caso da conexão sem fios ao Apple CarPlay, com um custo de 305€. Sempre que o cliente decidir abrir os cordões à bolsa, as aquisições ou actualizações pós-compra realizam-se over-the-air, sempre por meio da plataforma BMW ConnectedDrive. Esta nova forma de encaixar receitas implica que o hardware seja incluído no veículo à saída de fábrica, ainda que o software que o activa possa nunca vir a ser solicitado pelo comprador, simplesmente porque não quer pagar mais. Com a condução autónoma e a parafernália de equipamento que exige, a subscrição pode ser mais conveniente para o cliente, mas tratando-se de um carro eléctrico o agravamento do peso exigido por uma tecnologia que não se usa acaba por afectar (negativamente) o mais básico num modelo a bateria, que é a capacidade de percorrer maiores distâncias entre recargas. Apesar dessa desvantagem, o mais natural é que o próprio incremento da autonomia passe a ser disponibilizado como um extra pontual pós-aquisição, para facilitar a vida do utilizador em deslocações mais extensas. O aumento esporádico da potência e da própria velocidade de carregamento tenderão a constituir-se também como fonte adicional de ganhos para os construtores. Segundo estimativas da Stellantis, a subscrição de funcionalidades ou serviços pós-venda tem potencial para gerar 23 mil milhões de euros até ao final da década.

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