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Fumo, fogo e mosh pits com A$AP Rocky, elegância soul clássica de Leon Bridges: foi assim o arranque do Super Bock Super Rock

Este artigo tem mais de 2 anos

Sem esgotar o festival, o rapper A$AP Rocky foi quem chamou mais gente no arranque do SBSR, para um concerto explosivo mas não brilhante. Leon Bridges levou a soul e David & Miguel a portugalidade.

A$AP Rocky apareceu em palco de saia, camisola e uma peruca grisalha que acabaria por largar após o primeiro tema
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A$AP Rocky apareceu em palco de saia, camisola e uma peruca grisalha que acabaria por largar após o primeiro tema

Diogo Pereira/World Academy

A$AP Rocky apareceu em palco de saia, camisola e uma peruca grisalha que acabaria por largar após o primeiro tema

Diogo Pereira/World Academy

Um boneco insuflável, uma cabeleira a dada altura retirada, uma saia vestida que se manteve, um soutien apanhado em palco (enviado da plateia), muito fumo, muito fogo e energia explosiva hip-hop and roll. Foi assim o concerto de A$AP Rocky, a estrela rockstar da noite, no primeiro dia de um Super Bock Super Rock que esteve longe de estar lotado — mas que ainda assim, aconteceu.

Um festival realizar-se não costuma ser digno de nota, exceto em circunstâncias excecionais, como a pandemia, que o impediu durante dois verões, ou o calor extremo que se sentiu esta semana no país, que obrigou o Super Bock Super Rock a mudar-se, em três dias, do Meco (Sesimbra) para o Parque das Nações (Lisboa).

Ao longo do dia foram vários os músicos, nomeadamente portugueses, que agradeceram em palco à organização pelo “milagre” que foi a mudança de local em menos de 72 horas. É difícil perceber se a alteração trouxe menos público ou não. Embora seja óbvio que a experiência do Meco era atrativa, sobretudo para campistas (porém, menos recomendável nesta altura de risco de incêndios), para o público lisboeta as vantagens logísticas da nova morada são assinaláveis. Tal não pareceu afetar particularmente A$AP Rocky, que deu um concerto explosivo, ainda que não longo, conseguindo o momento de maior afluência de público do arranque.

O rapper e cantor norte-americano de 33 anos, que se chama na realidade Rakim Mayers, entrou alguns minutos atrasado e deu um concerto que, na sua estrutura (não no alinhamento), não diferiu assim tanto da atuação de 2018 no Primavera Sound do Porto — a primeira vez que pisou um palco português. Ouviram-se vozes pré-gravadas, rimas disparadas ao microfone e batidas explosivas, viu-se mosh pit com fartura e saltos em palco, além daquele sorriso metalizado, sempre presente, de quem apesar do estrelato parece continuar a maravilhar-se com a devoção que vai encontrando de país em país.

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No início do concerto, um aviso escrito e falado enumerou os três mandamentos a seguir (pelo público) no concerto: “Divirtam-se, mantenham-se seguros e cuidem pessoa que está ao vosso lado”. O aviso tornou-se especialmente compreensível nos momentos em que, ao longo da atuação, A$AP Rocky e o seu hype man (que o apoiava com a voz) iam pedindo que se abrisse um mosh pit na plateia.

EPA/JOSE SENA GOULAO

O arranque foi logo fervilhante, com “A$AP Forever”, após um momento (que se repetiu durante o concerto) em que o rapper abriu a mochila para atirar t-shirts para o público. Garantindo que “não há uma festa como uma festa A$AP”, a atuação seguiu com um pedido de desculpas do norte-americano por estar “doente como a porra”. Tal não o pareceu condicionar totalmente, em temas como “Praise The Lord (Da Shine”), originalmente gravado com o britânico Skepta, a balada auto-tune “L$D”, “Love$ick” (colaboração com Mura Masa), “Sundress”, “Everyday” (gravada com Rod Stewart, Miguel e Mark Ronson) e “Lord Pretty Flacko Jodye 2”.

Não foi um concerto tecnicamente brilhante e já não o tinha sido no Porto. As pausas constantes e longas entre canções e a quantidade de som pré-gravado que se ouviu nas colunas tornaram-o menos especial do que o poderia ter sido, uma pena dado o notório carisma e a capacidade de Rocky para as rimas. Não foi sequer o melhor concerto de hip-hop que se ouviu nesta versão do festival no Parque das Nações — e não precisamos sequer de ir a Kendrick Lamar, já que Travis Scott esteve uns furos acima de A$AP. Mas as reações eufóricas do público, que conhecia em boa parte as canções palavra a palavra, mostraram que a festa estava mais ou menos garantida e a noite mais ou menos ganha à partida.

Apaixonar-se por Leo Bridges

Depois de uma série de concertos durante a tarde e início de noite que não deram nem para aquecer, Leo Bridges foi um bem-vinda lufada de ar fresco. O músico norte-americano, que atuou na terça-feira no Coliseu do Porto, apresentou-se em Lisboa acompanhado por uma banda de grande qualidade, que esteve à altura da sua voz bela e suave. Com Bridges, o Super Bock Super Rock teve finalmente oportunidade de dançar, mas também de voar bem alto, guiado por temas doces e emotivos.

Na verdade, houve canções para todos os gostos — a mais mexida “Smoth Sailin’” (“Vamos tocar algum rock ‘n’ roll esta noite”, anunciou o cantor); a sexy “Brown Skin”, que Bridges dedicou a todas as raparigas na plateia; e a apaixonante “Beyond”, para todos os que estão apaixonados (“Não sou um amante, mas estou apaixonado por todos vocês; estou apaixonado pela música”, revelou), que teve direito a uma das maiores ovações da noite, vinda de uma plateia que tinha crescido substancialmente por essa altura (quando o concerto arrancou, o espaço junto ao palco Super Bock, no interior da Altice Arena, estava apenas meio cheio).

Intercalando temas mais lentos com mais mexidos, Bridges pegou na guitarra para “Texas Sun” (talvez o tema menos soul do alinhamento, mas tão grande quanto a voz do músico), enquanto o sol se punha, vermelho, no écrã atrás de si. Reduzindo o ritmo, passou para “Sweeter”, tema do último álbum, Gold-Diggers Sound, editado neste mês de julho, em que o saxofone predomina (na versão original, tocado por Terrence Martin). A canção, que aborda a questão do racismo da perspetiva de um homem negro que está a morrer, não era para integrar Gold-Diggers Sound, mas um próximo disco. Os recente eventos nos Estados Unidos da América, nomeadamente a morte de George Floyd, levaram o músico a lançá-la mais cedo. Foi um momento emotivo na Altice Arena, e o público não pode ter deixado de sentir um arrepio enquanto Bridges cantava:

Hoping for a life more sweeter,
Instead I’m just a story repeating.
Why do I fear with skin dark as night?
Can’t feel peace with those judging eyes.

O concerto terminou com “Rivers”, do disco de estreia do cantor — e aquele que continua a ser o preferido dos fãs –, Coming Home (2015), e uma plateia apaixonada. Afinal, é tão fácil cair de amores por Leon Bridges.

Bruno Poeira/World Academy

O algodão doce dos Metronomy está gasto ou ainda move multidões?

Há fenómenos cada vez mais certos na vida portuguesa. Ao lado da seca, das selfies do Presidente e do calor cada vez mais extremo no verão, está um concerto dos Metronomy. A banda britânica de pop eletrónica deu esta quinta-feira o seu décimo concerto em Portugal nos últimos 12 anos — e o terceiro só este ano, depois de atuações há apenas quatro meses no Hard Club, no Porto, e no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.

Se recuarmos à pré-pandemia, os Metronomy nunca passaram sequer dois anos sem atuar num festival de música português. Essa constância, tão certa como as purpurinas em recinto festivaleiro, é ao mesmo tempo sintoma e consequência: se por um lado revela um público fiel, que leva os programadores a contratá-los vez atrás de vez, por outro parece provocar em quem não é fã algum cansaço e desgaste. À chegada a Altice Arena, às 21h, ouvíamos mesmo um rapaz dizer a um amigo enquanto se encaminhava (aparentando alguma resignação) para a sala: “Lá vamos nós ver mais um concerto dos Metronomy”.

É fácil perceber o sucesso daquela pop, daquelas cantigas indie delicodoces, com aroma a rebuçados e algodão-doce, capazes de levar os ouvidos para cenários coloridos, alegres, descomplicados e em certa medida juvenis. Entende-se a popularidade daqueles teclados a borbulhar, de instrumentos que soam a brinquedos de música tocados com prazer, daquele balanço gingão direto às ancas — tudo isto são marcas dos Metronomy. E no entanto, porventura fruto do cansaço, talvez culpa também de um dia sem muitos nomes sonantes, a Altice Arena mostrava-se demasiado despida à hora do início do concerto.

Na plateia em pé estava perto de meia casa, o público a preencher aproximadamente metade daqueles mais de quatro mil metros quadrado (no total, bancadas incluídas, são 5.200 metros quadrados). Nas bancadas destinadas a quem se queria sentar, o cenário era ainda pior, com a larga maioria dos lugares vazios. Ao longo da hora que durou o concerto, a sala foi-se compondo, é certo, mas não se aproximou nunca, nem perto, da lotação total.

Nada que tivesse acanhado particularmente os Metronomy. Reconhecendo que esperavam “tocar lá fora, no exterior” — isto é, no Meco — mas garantindo que era “ótimo estar de volta” a Portugal, partiram para um concerto que nunca foi brilhante mas que foi, ainda assim, melhorando e crescendo à medida que o fim se aproximava.

EPA/JOSE SENA GOULAO

Se o arranque pareceu cativar sobretudo as primeiras filas de fãs, com “Love Factory” e “It’s good to be back”, temas que fazem parte do disco que lançaram este ano (Small World), o concerto começou a chegar a melhor porto com “Reservoir”, incluída no disco Love Letters, de 2014. Após um regresso ao álbum mais recente com “Things Will Be Fine”, vieram os êxitos: primeiro “Salted Caramel Ice Cream” e a fechar, já depois do regresso momentâneo ao passado recente com “Right on Time”, “The Look” — a que mais levantou telemóveis — e “Love Letters”.

Não foi um concerto memorável e em alguns momentos aquela pop brincalhona chegou a parecer algo auto-complacente, demasiado presa a uma fórmula pouco imaginativa. Para quem é fã e vibra com “The Look” e “Love Letters”, porém, foi exatamente o que se desejava, o regresso ao velho normal que é dançar as canções dos Metronomy num festival de verão. Desta vez, entre quatro gigantes paredes.

Fora dessas paredes, ouvimos, imediatamente antes (pouco passava das 20h), Fred. O baterista e compositor português, que faz parte dos grupos Orelha Negra e Banda do Mar e que ao vivo acompanha regularmente, por exemplo, Mallu Magalhães e Slow J, apresentou-se em sexteto, com dois teclistas, um baixista, um saxofonista que também tocou flauta e um xilofonista.

No cardápio do alinhamento constaram os temas da recente carreira a solo de Fred, músico que se tem vindo a aproximar (especialmente no disco mais recente, Series Vol 1 – “Madlib”) de águas rítmicas do funk-jazz e do hip-hop mais jazzístico e instrumental. Com agradecimentos àqueles que “heroicamente” conseguiram mudar o festival do Meco para o Parque das Nações em três dias, Fred proporcionou uma boa viagem sonora para aquela hora de transição entre dia e noite.

Seguindo quase sempre o caminho do groove, mas permitindo aqui e ali acelerações e um certo caos rítmico saboroso à banda (que conduzia com as baquetas, marcando o ritmo), o músico parecia genuinamente feliz em poder tocar no festival e ao ar livre. O público mantinha-se maioritariamente sentado nas escadarias do antigo Pavilhão Atlântico, pouca gente a dançar nas primeiras filas, mas o calor que ainda se sentia também convidava à pachorrice.

Diogo Pereira/World Academy

Depois de Fred, e enquanto os Metronomy estavam na Altice Arena, as rockeiras Hinds subiram ao palco EDP, um dos dois palcos instalados na Sala Tejo. Tendo em conta o horário, o recinto estava só meio composto — uma imagem recorrente ao longo do dia. Isso não as desanimou — durante cerca de uma hora, tocaram temas antigos e novos (retirados do mais recente disco de originais, The Prettiest Curse, editado em 2020), gritaram contra o preconceito contra as mulheres e apresentaram uma canção inédita em espanhol, a única na sua língua materna. Alegres e sorridentes, criaram um bom ambiente no palco EDP, mas estiveram longe de oferecer um espetáculo inesquecível no primeiro dia do Super Bock Super Rock.

David & Miguel: pagávamos até irmos à falência

Ainda o ambiente estava a aquecer no palco Super Bock Super Rock, onde A$AP Rocky atuava, quando David & Miguel apareceram na Sala Tejo, na ponta oposta do recinto do festival. Depois da habitual introdução de António Bandeiras, que esta noite passou dois grandes hits da música em Portugal (cada um à sua maneira) — “Mila”, de Netinho, e “Tu És A Que Eu Quero (Não Prendas o Cabelo)”, de José Pinhal –, o duo arrancou com “Passadiços do Paiva”. Os dados estavam lançados, mas David (Bruno) e Miguel (Mike El Nite) foram obrigados a fazer “marcha à rez” (para parafrasear “Amor Pago”) após Marquito ter avariado “o equipamento”. O guitarrista referiu um problema com “um cabo” (não se percebeu bem qual), e o técnico de som Zé Pedro teve de entrar em cena. “Estamos com um problema técnico, mas a vida é um problema ténico”, disse Miguel, pedindo a Bandeiras que entretivesse os convivas com uma passagem de modelos e “um som”. Ainda Miguel gritava “Sigura!” quando Marco Duarte anunciou que a questão estava resolvida.

Com o guitarrista de volta, o duo avançou para-se “Sónia”, a causa de muita “insónia”, e pediu muitas palmas para “o Marquito que resolveu o seu problema técnico”. “Vamos falar de uma instituição que, infelizmente, acabou. A última coisa boa que aconteceu a esta instituição foi David & Miguel”, introduziu Mike El Nite, antes de se ouvir as primeiras batidas de um dos temas mais famosos do grupo: “Inatel”. Para “Dias de Varão”, o vocalista pediu ao “sr. técnico de som” luzes “tipo casa de alterne” e mais palmas ao público, desta vez para “as pessoas que ganham dinheiro a tirar a roupa”. “Amor Pago”, canção que podia integrar qualquer álbum de Marante, teve direito a um complexo solo de Marquito, “o Satriani português”, que serviu de introdução a um tema triste, mas com a sua dose de poesia, como no refrão, em que se canta: “E a indecência que é este amor ser pago, mas se é pago então eu pago / Até ir à falência”.

A festa que foi o concerto de David & Miguel era para ter terminado com “Interveniente Acidental” — que lançou o duo nestas andanças –, mas como ainda havia tempo para “mais uma”, os músicos repetiram “Inatel”, mas em “versão karaoke”. Miguel atirou-se para o meio do público, rasgou as calças e Bandeiras voltou a desfilar, fazendo inveja com as suas calças de envernizadas.

Foi um bom fim de noite no palco Sommersby, onde se cantou sobre motéis, casas de alterne e a simples portugalidade onde cabe tanto os Passadiços do Paiva como as saudades do Inatel. Se fosse uma questão de dinheiro, pagaríamos de bom grado até irmos à falência (mais uma vez para parafrasear “Amor Pago”) só para ter David & Miguel mais uma vez neste Super Bock Super Rock. As coisas boas são sempre para repetir.

Esta sexta-feira, o festival prossegue com atuações de, entre outros, C. Tangana, DaBaby, Nathy Peluso, Hot Chip, Goldlink e os lusófonos Silva, Samuel Úria, Capicua e Classe Crua.

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