Roman Abramovich pode ser o mais mediático caso de um oligarca russo que conseguiu nacionalidade portuguesa (em tempo recorde), mas não é o único. Há mais um multimilionário com ligações a Moscovo, Andrei Rappoport, que conseguiu naturalizar-se graças à sua certidão, emitida pela Comunidade Israelita do Porto, que comprova que tem origens sefarditas. E há mais dois oligarcas que estão à espera de concluir o mesmo processo para se tornarem portugueses.
As conclusões resultam de uma investigação publicada esta quarta-feira, no Público. Segundo o jornal, o novo multimilionário português é Andrei Rappoport, que terá uma fortuna a rondar os 1,2 mil milhões de euros. Nasceu na Ucrânia quando esta ainda era uma república soviética, mudou-se para a Rússia e desde então foi banqueiro e administrador de empresas estatais de energia. Tornou-se português por naturalização a 30 de dezembro de 2019.
Em espera está God Nisanov, outro multimilionário que chegou a ser vice-presidente do Congresso Mundial Judaico — afastado pelo organismo depois de ter passado a integrar a última lista de sanções dos Estados Unidos contra aliados do regime de Vladimir Putin. Nascido em Azerbeijão, também enquanto república soviética, deu início ao pedido de nacionalidade portuguesa em junho de 2020.
No caso de Lev Leviev, é conhecido como o “Rei dos Diamantes”, é sócio de Isabel dos Santos em Angola e amigo de Putin. Fez o mesmo pedido a 6 de novembro de 2020.
Todos estes pedidos acontecem no quadro da lei da nacionalidade, que, numa tentativa de fazer justiça histórica, admite a concessão da nacionalidade a quem provar que é descendente dos judeus sefarditas que foram expulsos de Portugal no século XV. Entre março de 2015 e 31 de dezembro de 2021 foram aprovados mais de 56 mil pedidos de naturalização nestes moldes.
No entanto, o processo tem estado envolto em polémica. Desde logo, há suspeitas, também noticiadas pelo Público, de tráfico de influências na rápida naturalização de Abramovich, graças a pressões da Comunidade Israelita do Porto à Conservatória dos Registos Centrais para que o oligarca russo conseguisse a nacionalidade portuguesa rapidamente, um processo que está, de resto, a ser investigado pelo Ministério Público.
Ainda na semana passada houve buscas da Polícia Judiciária na Comunidade Israelita do Porto, por suspeitas de corrupção na atribuição das certidões a sefarditas. Em março deste ano, já tinha sido detido o rabino da Comunidade Israelita do Porto, Daniel Litvak, o principal suspeito de crimes como corrupção, tráfico de influência ou falsificação de documentos.