A direção da Conservatória dos Registos Centrais (CRC) foi pressionada para acelerar o processo de naturalização de Roman Abramovich — e a pressão resultou. Usando argumentos como “interesse nacional” ou o interesse até do próprio Governo, a Comunidade Israelita do Porto (CIP) conseguiu colocar o processo do oligarca próximo de Vladimir Putin no topo da lista, sempre de forma sigilosa.

As conclusões fazem parte de uma investigação do Público, que se debruça sobre a naturalização de Abramovich (que está, de resto, a ser investigada pelo Ministério Público). Como o jornal escreve, o processo de Abramovich entrou na CRC, em Lisboa, em outubro de 2020, mas não avançou até fevereiro do ano seguinte, por entre os muitos outros pedidos semelhantes, motivados pela lei nacionalidade pensada para descendentes de judeus sefarditas.

Ora foi nessa altura que a CIP decidiu exercer a sua influência para acelerar o assunto. A 3 de fevereiro de 2021, a direção do organismo enviou um e-mail à diretora do CRC, Maria de Lurdes Serrano, onde pedia que o processo de Abramovich fosse classificado como “urgente”, garantindo estar a agir “por razões de interesse nacional, que envolvem o próprio Governo, a B’nai B’rith Internacional e um conjunto de sefarditas portugueses que estão listados na Forbes”.

O cidadão português Roman Abramovich é um dos sete oligarcas russos sancionados pelo Reino Unido

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E o processo correu, discretamente e rapidamente: cinco dias depois, a diretora do CRC classificava o pedido como “urgente”; todos os restantes passos — a passagem pela Policia Judiciária, SEF e Ministério da Justiça — foram tão rápidos que a 30 de abril Abramovich acabou mesmo por se tornar português (o mais rico do mundo).

No processo não foi considerado nenhum argumento semelhante ao que foi usado, por exemplo, pelas autoridades suíças em 2017, quando recusaram um pedido de residência ao oligarca por o considerarem “uma ameaça à segurança pública e um risco à reputação” do país que o viesse a acolher.

Como a Renascença noticiou, o processo de Abramovich já motivou a abertura de um inquérito na Procuradoria-Geral da República e um inquérito interno no Instituto de Registos e Notariado.