As autoridades espanholas investigam cerca de 50 casos de mulheres picadas com agulhas em discotecas, bares e festivais, sem que se perceba até agora o objetivo da agressão, por não se terem detetado substâncias químicas nos corpos das vítimas.
Há casos confirmados, desde meados de julho, em diversas regiões do país, com algumas vítimas a relatarem que foram picadas por homens vestidos de preto e que a seguir se sentiram mal, com tonturas, formigueiro nas pernas e braços ou vómitos.
Não há registo de roubos ou de agressões sexuais associadas a estes casos, como acontece em crimes de violação precedidos pela administração de drogas (em bebidas ou com uma injeção), para deixar a vítima inconsciente, segundo afirmaram as autoridades policiais espanholas.
Também não foram detetadas drogas ou outras substâncias químicas nos exames a que as mulheres foram sujeitas, com a exceção de um caso, em que foi identificado haxixe líquido no corpo de uma rapariga de 13 anos.
A maioria dos casos (mais de 20) foram registados na Catalunha e na cidade costeira de LLoret del Mar, onde há também a única queixa confirmada de um homem que foi vítima de uma picada de seringa.
O Governo regional catalão decidiu avançar esta semana com um protocolo de atuação, dirigido às vítimas e aos serviços de saúde, que além de fazerem análises de sangue e à urina das mulheres, devem avaliar a possibilidade de acionar os procedimentos para possível infeção com o vírus da Sida (VIH) e possibilidade de agressão sexual, conforme os casos.
Isto não é uma questão de mulheres que saem à noite, isto interpela-nos a todos”, afirmou o presidente do governo catalão (Generalitat), Pere Aragonès, que pediu a todos os cidadãos para se manterem o alerta e denunciarem possíveis autores destas agressões.
O executivo regional admitiu que os relatos e casos confirmados de agressões com seringas a mulheres, que definiu como “absolutamente execráveis”, estão a provocar “angústia e insegurança”.
Outros governos regionais acionaram também protocolos e alertas por causa destes casos, como a Extremadura, a Comunidade Valenciana ou o País Basco, sendo esta última região a segunda com mais denúncias confirmadas.
“Nova forma de violência contra as mulheres”
A titular da pasta da Igualdade e Justiça no governo basco, Beatriz Artolazabal, pediu na terça-feira calma e prudência e considerou que está em causa “uma nova forma de violência contra as mulheres” que não pode levar ao “regresso do medo, que é a verdadeira ameaça“.
As associações que representam as discotecas e os bares apelaram esta semana à calma, perante o relato e a confirmação de novos casos diariamente, garantindo que os espaços de diversão noturna são seguros e colaboram com as autoridades.
Casos semelhantes em França e no Reino Unido
Os donos das discotecas têm também insistido em que o que está a acontecer em Espanha replica um fenómeno que ocorreu noutros países europeus, em discotecas, entre o outono de 2021 e a primavera deste ano.
No Reino Unido, os casos superaram os 1.300, enquanto em França houve registo de mais de 800.
Na semana passada, a federação de empresários donos de discotecas e bares em Espanha assinou um acordo com o Ministério da Igualdade em que se comprometeu a adotar medidas que previnam e denunciem agressões contra as mulheres dentro destes espaços.
A primeira medida é a colocação nas casas de banho das discotecas de “pontos violeta”, onde será possível obter informação sobre como atuar em caso de violação ou qualquer tipo de agressão e descarregar um guia com instruções através de um código digital QR.
Ao abrigo do acordo, as discotecas comprometeram-se também a avaliar e proteger “zonas ocultas” que potenciem a vulnerabilidade das mulheres.
O acordo contempla ainda formação dos trabalhadores para identificar diferentes tipos de agressão e assédio sexual.
Chegou o momento de nos envolvermos ativamente na luta contra o machismo e a violência de género”, afirmou o presidente da federação, Ramón Mas, no dia da assinatura do acordo.
Já a ministra Irene Montero, saudou o compromisso destes empresários com “a liberdade sexual das mulheres”, embora tenha lembrado que a agressão sexual acontece, fundamentalmente, noutros ambientes, como o contexto familiar e de trabalho.