A Saudi Aramco, a petrolífera saudita, bateu o seu recorde de lucros trimestrais ao ganhar 48,4 mil milhões de dólares (47,5 mil milhões de euros) no segundo trimestre. É um salto de 90% face aos lucros do mesmo período do ano passado e reproduz os lucros extraordinários que as petrolíferas têm registado, inflamados pela valorização dos preços do petróleo e do gás, muito acentuada pela guerra na Ucrânia e pelas sanções impostas à Rússia, um dos maiores exportadores mundiais de energia.
De acordo com a agência Bloomberg, o lucro trimestral da Saudi Aramco não só é um recorde desde a estreia em bolsa da empresa há três anos, como é também o mais alto de sempre anunciado por uma empresa a negociar ações em mercado para um trimestre.
Apesar de ter uma reduzida parte do capital aberto a investidores, o grosso da Saudi Aramco está nas mãos do Estado saudita, a quem também caberá a parte de leão dos dividendos previstos para o próximo trimestre: 18,8 mil milhões de dólares. A Arábia Saudita é o maior exportador mundial de petróleo. O segundo maior fornecedor era a Rússia.
A Saudi Aramco segue as pisadas de outras grandes petrolíferas que também anunciaram resultados recorde no segundo trimestre. As cinco maiores petrolíferas ocidentais — Exxon Mobil, BP; Shell, Chevron e Total — registaram no total lucros de mais de 55 mil milhões de dólares no segundo trimestre, um valor que é quase atingido pelo resultado da empresa saudita. Este é o valor que resulta da soma dos resultados ajustados de efeitos extraordinários que podem ser perdas como a que foi reconhecida pela BP pela sua participação na petrolífera russa Rosneft.
Os super-lucros das empresas de energia têm sido apontados como excessivos por cada vez mais políticos, fazendo subir a pressão para criar impostos especiais sobre estes lucros caídos do céu (windfall taxes). Impostos que permitam gerar receitas para financiar políticas de apoio aos consumidores que são confrontados com preços caros e inflação. Uma das vozes mais tem atacado a indústria das energias fósseis é a do secretário-geral das Nações Unidas. António Guterres acusou o setor e os seus investidores de uma “ganância grotesca” que está a castigar os mais pobres e vulneráveis.
The combined profits of the largest energy companies in the first quarter of this year are close to $100 billion.
This grotesque greed of the fossil fuel industry and their financiers is punishing the poorest and most vulnerable people, while destroying our only home.
— António Guterres (@antonioguterres) August 4, 2022
António Guterres tem sido um dos defensores da aplicação de impostos sobre estes lucros extraordinários por parte dos governos ocidentais, uma medida que dificilmente atingirá a Saudi Aramco na Arábia Saudita. O Reino Unido, Itália e Espanha foram alguns dos países que já anunciaram estas taxas. Em Portugal, o Governo diz que está a estudar o assunto, mas até agora tem afastado a opção, sublinhando que já existem taxas extraordinárias sobre as empresas de energia.
Governo está a estudar novo imposto sobre lucros excecionais das empresas
A Galp apresentou um lucro de 420 milhões de euros no segundo trimestre, mais 153% do que em junho de 2021, graças à produção de petróleo e aos ganhos de refinação, sendo a principal visada potencial por uma medida desta natureza.
De acordo com um levantamento feito pelo Washington Times, não são apenas as petrolíferas a apresentarem lucros avultados, dando como exemplo a Glencore, o maior armador de navios de transporte de carvão que vai devolver aos seus acionistas 4,5 mil milhões de dólares após lucros recorde na primeira metade do ano.
Os resultados ajustados de efeitos extraordinários das petrolíferas no segundo trimestre
- Saudi Aramco: 48,8 mil milhões de dólares
- ExxonMobill: 17,9 mil milhões de dólares
- Chevron: 11,6 mil milhões de dólares
- Shell: 11,5 mil milhões de dólares
- TotalEnergies: 9,8 mil milhões de dólares
- BP: 8,5 mil milhões de dólares