Os jornalistas são-tomenses “não devem ser uma caixa-de-ressonância da propaganda dos partidos políticos concorrentes” às eleições legislativas no país, agendadas para 25 de setembro, alertou o presidente da Associação dos Jornalistas São-tomenses (AJS), Juvenal Rodrigues, esta segunda-feira.

A propaganda, regra geral, visa bloquear a reflexão crítica, levar a comportamentos automáticos e à passividade conformista”, sublinhou o responsável, num discurso que antecedeu o início de dois dias de formação dos profissionais da comunicação social são-tomense, destinada à “capacitação em matéria de cobertura” noticiosa das eleições.

A iniciativa é realizada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pela Comissão Eleitoral Nacional (CEN), em parceria com o Sindicato dos Jornalistas São-tomenses (SJS).

“O eleitor espera que o ajudemos a fazer uma escolha consciente e esclarecida. Temos que privilegiar a troca, o debate de ideias, as propostas realistas e inovadoras. Como é sabido, no que respeita aos objetivos a alcançar, acho que a questão central é como pretendem fazê-lo, com destaque para soluções nas vertentes económica e organizativa”, afirmou Juvenal Rodrigues.

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Para o presidente da AJS, “os jornalistas e a imprensa pública e privada não devem ser uma caixa-de-ressonância da propaganda dos partidos políticos concorrentes ou dos seus tempos de antena, sobretudo nos períodos eleitorais”, aconselhando os seus camaradas de profissão a “terem na sua posse os manifestos e programas eleitorais”.

Só assim é que podem conduzir entrevistas e debates com centro em questões inteligentes, com a finalidade de esclarecer os eleitores”, justificou.

O vice-presidente do SJS, Josimar Afonso, deu conta no início da formação que, a poucas semanas do início do período oficial de campanha eleitoral, registou já “práticas muito pouco abonatórias para a dignificação” da profissão.

“Ouvimos jornalistas em pleno exercício de profissão a darem voz aos tempos de antena dos partidos políticos, assistimos a peças jornalísticas contendo elementos de plena propaganda política, e ainda, como se não bastasse termos visto num passado muito recente jornalistas inscritos nas listas como delegados aos congressos dos partidos, temos agora jornalistas, em pleno exercício de funções, inscritos nas listas dos partidos como candidatos a deputados”, enumerou o dirigente do SJS, num discurso proferido na abertura da sessão.

O sindicato manifestou “reconhecer” que o salário auferido pela classe “é insignificante” relativamente ao papel que assume na sociedade e que “as ofertas e promessas políticas no período eleitoral parecem ser muito mais atraentes e tentadoras”.

Mas “nada disso” justifica “a violação da ética e deontologia da classe, sobretudo numa altura” em que se reivindica, “com a devida justeza, a implementação do estatuto de carreira e a consequente melhoria salarial”, sublinhou o SJS.

O sindicato exortou “todas as estruturas reguladoras do exercício da profissão jornalística e dos órgãos de comunicação social”, nomeadamente o Conselho Superior de Imprensa, a Comissão de Carteira Profissional, e o próprio Conselho Deontológico do SJS, assim como as direções dos órgãos de comunicação social e estruturas afins, a serem “pró-ativos no sentido de travar tais práticas, e, se necessário, sancionarem e afastarem das redações os jornalistas que demonstrem sinais de propagandistas eleitorais ou comissários políticos”.

“Deixemos a política para os políticos e façamos o jornalismo, dignificando a nossa profissão e acima de tudo respeitando o dever da verdade nas informações veiculadas e que chegam aos ouvintes, leitores e telespetadores”, defendeu o sindicato.

Sara Santos, secretária da CEN presente no lançamento da sessão, exortou à participação de todos os jornalistas nos dois dias de formação, sublinhando a intervenção de Juvenal Rodrigues no que disse respeito à deontologia profissional e à ética, que “não devem ser descuradas neste processo”.