Qualquer semelhança com as canções de Björk é pura imaginação. É verdade que numa entrevista ao jornal britânico The Guardian, na passada sexta-feira, a cantora islandesa falou do novo álbum, “Fossora”, que deverá sair no outono. Mas o som divulgado é dos confins do espaço e não um novo single vindo da ilha-Estado do Atlântico Norte, ao contrário do que sugeriram alguns internautas, após a divulgação do áudio pela NASA.

Almas penadas, um mantra, o efeito sonoro de um thriller antes de um acontecimento trágico ou uma versão da banda sonora do “Senhor dos Anéis”, são outras das hipóteses lançadas pelos internautas, em reação ao áudio divulgado pela agência espacial norte-americana (NASA). Nas reações à publicação no Twitter multiplicaram-se também os memes sonoros, com músicas conhecidas sobrepostas ao som divulgado.

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O grupo da NASA dedicado a estudar os planetas fora do nosso sistema solar (exoplanetas) e aos sistemas estelares onde estes exoplanetas estão, começa por explicar que o som existe no espaço, nós é que não o conseguimos ouvi-lo ou captá-lo. Porquê? Porque sem um meio para se propagar, as ondas sonoras não têm como viajar pelo espaço — as moléculas no espaço estão demasiado espaçadas e, essencialmente, o espaço é vácuo.

Neste caso, porém, o Observatório de Raios-X Chandra conseguiu captar as ondas provocadas pelo buraco negro nas nuvens de gás que o envolvem — sendo o gás resultado da presença de centenas ou milhares de galáxias neste aglomerado de Perseus. Estas ondas foram extraídas radialmente, do centro para o exterior, e a linha que se assemelha a um radar a percorrer a imagem de raios-x do aglomerado de galáxias permite ouvir as ondas sonoras emitidas em várias direções.

Há quase 20 anos que este buraco negro é associado à produção de som: “Os astrónomos descobriram que as ondas de pressão enviadas pelo buraco negro causavam ondulações no gás quente do aglomerado que podiam ser traduzidas numa nota”, lê-se no comunicado de maio da NASA. No entanto, era uma nota que os humanos não conseguiam ouvir. Já este ano, o som foi amplificado milhares de biliões de vezes para se tornar audível ao ouvido humano — 144 e 288 milhares de biliões de vezes a frequência original (ou seja, some-lhe 15 zeros à direita).

Um outro som divulgado na mesma altura — bastante mais parecido com uma suave melodia — foi o de um “arroto” do buraco negro Messier 87. Na imagem tripartida, o buraco negro aparece do lado esquerdo e o jato para a direita é emitido pelo Messier 87 depois da matéria cair no seu centro — posto de outra forma, depois de M87 “engolir” essa matéria.

Os três painéis correspondem a uma imagem de raios-X do Observatório Chandra (em cima), a uma imagem captada com luz visível pelo Telescópio Espacial Hubble (ao meio) e às ondas de rádio captadas pelo complexo de observatórios em Atacama, no Chile. Além de captarem espetros de luz diferentes, a sonorização também varia para cada um dos casos.

Os áudios foram divulgados inicialmente na Semana dos Buracos Negros, no início de maio, mas a publicação no Twitter (com o som fantasmagórico) foi feita este domingo, dia 21 de agosto. Até às 14h30 desta terça-feira já tinha mais de 400 mil “gostos”, tinha sido republicada quase 120 mil vezes e reunia perto de 10.000 comentários.

Para que servem estas transformações artificiais do som do espaço? São uma forma diferente de representar uma realidade que nos está muito distante — o aglomerado de galáxias Perseus está a 240 milhões de anos-luz e M87 a 55 milhões de anos-luz [cada ano-luz são 9,5 biliões de quilómetros]. Ao mesmo tempo, é criada uma imagem sonora útil a quem não consegue ver as fotografias e cores captadas pelos telescópicos e observatórios espaciais.

O que é um buraco negro?