Através de um comunicado conjunto, a Richemont, a Farfetch e a Symphony Global, um dos veículos de investimento do magnata Mohamed Alabbar, anunciaram mudanças no grupo Yoox Net-A-Porter (YNAP), que controla a plataforma de comércio electrónico de luxo Net-A-Porter.
O acordo detalha que a participação da Richemont, empresa que detém marcas como a Cartier ou a Montblanc, vai ser adquirida pela Farfetch, que ficará com 47,5% do grupo. Já a Alabbar ficará com uma participação de 3,2% na YNAP, grupo que tem uma base global de clientes de luxo na ordem dos quatro milhões de utilizadores.
Após estar concluída a venda de 47,5% do capital da YNAP à Farfetch, a Richemont vai receber entre 53 e 58,5 milhões de ações classe A da empresa de José Neves, sendo “expectável que represente entre 10 e 11% do capital diluído de ações da empresa e 12 a 13% do capital emitido”. Além disso, a Richemont receberá também 250 milhões de dólares no quinto aniversário da conclusão da fase inicial da transação. A nota detalha que é expectável que estes 250 milhões de dólares sejam também pagos através de ações da Farfetch.
A Richemont já tinha uma ligação com a Farfetch. Em novembro de 2020, a empresa anunciou uma parceria com a chinesa Alibaba para investir 1.100 milhões de dólares na Farfetch. Dessa parceria, as empresas ficaram com uma participação combinada de 25% na operação da plataforma de moda de luxo na China.
O acordo abre caminho para que a Farfetch possa comprar a totalidade da YNAP. Está inscrita no acordo uma opção para que a empresa luso-britânica possa mais tarde comprar as restantes ações da YNAP, ainda que haja um conjunto de condições associadas, que é descrita como “uma potencial segunda e última fase da transação”. Nessa fase, a Farfetch tem a opção de comprar todas as ações da YNAP “que não tenha no momento do exercício, algo que pode ser acionado a qualquer momento desde a conclusão da fase inicial da transação até ao quinto aniversário (…)”.
Caso a empresa de José Neves queira exercer esta opção, a potencial operação será feita através de ações da Farfetch. E, na possibilidade de o unicórnio com ADN português comprar a totalidade da YNAP, a Richemont “terá o direito de nomear um diretor não executivo para o conselho de administração da Farfetch”.
Já relativamente à participação da Alabbar, a empresa do magnata de imobiliário de luxo, conhecido pelo projeto do Burj Khalifa ou pelo Dubai Mall, vai receber as ações que tem na joint-venture com a YNAP no Conselho de Cooperação do Golfo. “Como resultado desta troca de ações, a YNAP vai controlar 100% do seu negócio na região”, é referido.
Em comunicado, é explicado que, com as aquisições de participações feitas pela Farfetch e pela Alabbar na YNAP, esta empresa deixará de ter um acionista maioritário. A operação “representa um passo significativo na concretização da visão da Richemont de transformar a YNAP numa plataforma neutra na indústria”, refere a nota divulgada esta quarta-feira.
É expectável que esta transação esteja concluída antes do fim de 2023.
Em novembro do ano passado, já havia sido noticiado que a Richemont estava em conversações com a empresa de José Neves para vender a participação da YNAP. Na altura, as ações da Farfetch dispararam 20% apenas com a notícia de um possível acordo em cima da mesa.
Esta quarta-feira, ainda antes da abertura do mercado, os títulos da empresa de José Neves estão a disparar 13% em reação ao acordo com a Richemont. Por sua vez, as ações da Richemont estão a valorizar 3,05%.
Richemont Maisons vai usar tecnologia da Farfetch
Além disso, o acordo determina também que as soluções tecnológicas desenvolvidas pela empresa do português José Neves vão ser adotadas pelas diversas marcas do grupo de luxo Richemont. José Neves, citado em comunicado, descreve o tema como “um avanço significativo na visão de novo retalho de luxo para a digitalização do luxo.” “Esta é uma parceria significativa que sem dúvida estabelece a Farfetch como uma plataforma global” na área do luxo.
É detalhado que as soluções da Farfetch vão marcar presença nas operações de comércio eletrónico da Richemont Maisons e ligar as boutiques físicas. Desta forma, marcas como a Cartier, Chloé, Montblanc ou a Serapian vão usar tecnologia desenvolvida pelo unicórnio luso-britânico.
“A maioria das [marcas] Richemont Maisons vão também lançar concessões eletrónicas no marketplace da Farfetch” refere o comunicado, que aponta que a implementação destas duas questões comece de forma imediata após a conclusão da primeira fase da transação.