A população do sul de Cabo Delgado, província moçambicana palco de violência armada há cinco anos, relatou esta quarta-feira a descoberta de quatro residentes mortos no campo.

Um morador de Mbonge, no distrito de Ancuabe, testemunhou a recolha dos corpos de dois residentes na aldeia, pai e filho, encontrados mortos com sinais de violência no caminho que liga as zonas de cultivo às habitações.

“As vítimas viviam na aldeia e voltavam da machamba (horta) durante a tarde”, na terça-feira, relatou.

Segundo a mesma fonte, os corpos foram encontrados nas margens do rio Muaguide, horas depois de os residentes acharem estranha a demora de ambos, o que levantou suspeitas dada a insegurança que se vive em Ancuabe, com ataques desde junho.

O distrito fica a cerca de 100 quilómetros de Pemba, capital provincial.

Outro residente em Metoro, no mesmo distrito, reconstituiu o relato de familiares de um casal de idosos encontrado morto numa horta a 10 quilómetros do núcleo populacional, também com sinais de agressão.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Estamos a chorar” com a situação, referiu, e há “medo” em voltar às machambas, referiu um outro residente.

O caso foi confirmado por diferentes fontes locais.

A população e autoridades locais suspeitam que estas mortes junto ao rio Muaguide e nas imediações de Metoro sejam da autoria de um grupo armado que se esconde nas matas daquela zona.

Na segunda-feira, um grupo não identificado de homens encapuzados e com armas saqueou e queimou casas em Nacuale, outra aldeia do distrito.

Um movimento insurgente cujas origens continuam por clarificar aterroriza Cabo Delgado desde outubro de 2017.

Uma ofensiva militar com apoio de vários países africanos libertou desde há um ano as zonas em redor dos projetos de gás, no norte de Cabo Delgado, mas grupos dispersos têm atacado outros locais da província.

Desde junho, a violência tem atingido a área de Ancuabe, a sul, próxima de Pemba, capital provincial.

O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) alertou em julho para a gravidade destes novos ataques, provocando 36.000 deslocados em distritos até agora considerados seguros.

O número acresce aos cerca de 800 mil deslocados que a onda de violência já provocou, com a estimativa de mortes a rondar, pelo menos, cerca de 4.000 vítimas.