Nas profundezas do oceano existem peixes com a cabeça transparente e olhos “esferas cor de esmeralda hipnotizantes”. Esta podia ser a descrição de uma nova obra de ficção científica mas trata-se apenas da pormenorização de uma espécie aquática, a Macropinna microstoma, mais conhecida como peixe olhos-de-barril.

Segundo o The Guardian, o seu nome advém do formato tubular dos olhos, que podem ser vistos através da transparência da cabeça, e que lembra aos investigadores o formato de um barril. A tonalidade verde (que surge de um pigmento amarelo) age como uns “óculos de sol” que os ajuda a encontrar as suas presas.

Nas águas escuras do oceano, as espécies têm dificuldade em esconder-se dos seus predadores e muitos animais têm barrigas brilhantes que utilizam para disfarçarem o seu verdadeiro tamanho: presas bioluminescentes ou seres vivos que emanam luz própria, como explica o jornal britânico, são difíceis de detetar especialmente por se colocarem em frente à fraca luz do sol que penetra a água.

O biólogo Bruce Robison, do Monterey Bay Aquarium Research Institute, na Califórnia, explicou que  pigmento ocular do peixe permite que este consiga distinguir a luz solar da bioluminescência. Tal permite como que “apagar as sombras” dos animais, conseguindo assim ver onde as presas se escondam.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os olhos tubulares do peixe olhos-de-barril são extremamente sensíveis e absorvem toda a luz do seu meio ambiente. No início das pesquisas, Bruce acreditava que o peixe fixava a sua visão num ponto logo acima da sua cabeça. “Sempre me intrigou que os olhos estivessem sempre virados para cima e o campo de visão não incluísse o que via para além da boca. Ou seja, isto criava um problema: o peixe estaria a tentar comer restos de comida a flutuar à sua frente, enquanto fixava os olhos no teto”, explica Bruce Robison.

Depois de vários anos a analisar espécies capturadas na rede, Robison e os seus colegas analisaram os olhos vivos através de câmaras de alta definição de um veículo operado remotamente. “De repente a lâmpada acendeu e pensei ‘a-ha, é isso que está a acontecer. Eles podem girar os olhos, isso significa que o peixe pode seguir a presa e descer pela água até que ela esteja à sua frente”, desenvolveu ao jornal britânico.

Robison acredita que a”armadura transparente” protege os olhos das picadas de outros animais enquanto lhes rouba o alimento. Isto porque encontrou uma mistura no estômago de um destes peixes que incluía tentáculos de sifonóforos (animais conhecidos pelos seus longos e mortais tentáculos) e pequenos crustáceos chamados copédodes.

O biólogo admite que encontrar peixes olhos-de-barril não é fácil e que, na sua carreira de 30 anos, só os encontrou vivos umas oito vezes. “Passamos muito tempo a explorar em águas profundas, posso afirmar com alguma confiança que estes peixes são bastantes raros”, concluiu ao The Guardian.