Os alemães não vão ter um Inverno fácil, a braços com a mais que certa escassez do gás natural e do petróleo que até aqui importavam preferencialmente da Rússia. Daí que o Governo tenha testado soluções para reduzir o consumo em todas as áreas possíveis. E o automóvel não foi poupado, apesar da indústria que o produz ser a mais forte do país. Para convencer os automobilistas e as respectivas famílias, que tradicionalmente se deslocam em veículo próprio, passaram a ser propostos bilhetes de comboio que permitiam viajar para todo o lado, durante um mês, por somente 9€.
No papel, esta medida tinha tudo para funcionar. Pelo menos, para aqueles que são mais bem servidos pela ferrovia germânica. Os habitantes reduziriam os gastos mensais, a poluição baixava enquanto as filas de trânsito diminuíam, em simultâneo com o consumo de petróleo. E todos os comboios estavam incluídos neste acordo, dos nacionais aos regionais, excepção feita para os de alta velocidade, com o bilhete a baixo preço a garantir também o acesso a autocarros e eléctricos. Mas como que a provar que até as melhores ideias podem não funcionar tão bem como o previsto, os alemães não aderiram como esperado a esta troca do carro pelo comboio.
Depois de três meses de experiência, começaram a ser tornadas públicas as primeiras conclusões do ensaio, que apontavam para 38 milhões de bilhetes vendidos nestas condições muito aliciantes, quase metade da população alemã. Contudo, estudos demonstraram que se as estações e as carruagens estavam mais cheias, o número de carros em circulação caiu apenas marginalmente. Em Munique, por exemplo, foram apenas 3% a menos de veículos a circular na via pública, com a conclusão a apontar que os germânicos utilizaram o comboio para férias e passeios de fim-de-semana, com os indivíduos mais idosos, ou de rendimentos mais baixos, a ter assim a possibilidade de materializar aquela viagem que tinham em mente há muito.
A análise dos resultados permitiu ainda concluir que a população usou 35% mais determinado tipo de transportes públicos, como os autocarros e os eléctricos, e que 22% recorreu ao transporte público pela primeira vez. Os inquéritos aos utilizadores revelaram que o novo bilhete de 9€ tinha simplificado as viagens através da Alemanha, um ganho evidente sobretudo nos locais em que seria necessário suportar diversas tarifas e realizar muitas ligações, entre comboios e transportes públicos urbanos.
Com um custo aproximado de 2,5 mil milhões de euros, este subsídio aos comboios e outros transportes públicos foi considerado muito caro pelo poder político e demasiado barato por muitos utilizadores, o que significa que há margem para acertos, pese embora a conclusão menos favorável do programa tenha sido o ganho relativamente fraco na redução do número de veículos em circulação nos dias laborais. E esse era o objectivo prioritário.