A Grécia e a Turquia partilham séculos de uma rivalidade histórica. Questões como a divisão do Chipre, a soberania de algumas ilhas no Mediterrâneo oriental e a política migratória levam os dois países a elevarem o discurso e a trocar acusações de parte a parte. Apesar das tensões, Atenas e Ancara pertencem ambas à NATO, estando numa aliança militar que estipula que um ataque a um Estado-membro é um ataque a todos. Mas nem isso parece travar as recentes ameaças.
O Presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, veio aumentar ainda mais a tensão. No último fim de semana, o chefe de Estado afirmou que a “ocupação da Grécia nas ilhas do Mar Egeu” não faz com a Turquia esteja imóvel. “Um dia”, Ancara poderá ter “de fazer o necessário”. “Podemos ir a qualquer momento”, ameaçou, aludindo a uma possível invasão.
“Há algumas ameaças ilegítimas contra nós”, atirava Erdoğan à Grécia, lembrando a violação do espaço aéreo turco por parte de Atenas: “Se essas ameaças ilegítimas continuarem, há um fim para a paciência. Não é um bom sinal ver nos radares os vossos aviões. Essas coisas feitas pela Grécia não são um bom sinal”. “Gregos, olhem para a História. Se forem mais longe, pagarão um preço elevado.”
Numa visita à Bósnia-Herzegovina esta terça-feira, o Presidente turco foi questionado sobre se mantinha o tom das ameaças. E garantiu que o que havia dito no fim do semana não era um “sonho”. “Se disse que [a Turquia] poderia vir uma noite assim de repente [às ilhas gregas], então, quando o tempo chegar, claro que pode vir de repente uma noite.” “Espero que Atenas analise as relações com a Turquia. Caso contrário, como já disse, pode haver um ataque a qualquer momento”, reiterou.
A Grécia tem manifestado a sua indignação com as palavras do Presidente turco. No fim de semana, o ministério dos Negócios Estrangeiros helénico emitiu um comunicado, assegurando que o país “não ia acompanhar a Turquia” nas ameaças diárias “ultrajantes” e que “ultrapassam todos os limites”. “Informaremos os nossos aliados e parceiros no que diz respeito a estas declarações provocativas, de maneira a tornar claro quem está a minar a coesão da aliança”, destacou a diplomacia grega, que também assegurou que “continuaria a ser um pilar de estabilidade e segurança para toda a região”.
Esta terça-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros grego, Nikos Dendias, voltou a reiterar que a Turquia está a fazer “comentários ultrajantes”. “Aconselho a qualquer pessoa que sonhe atacar e conquistar [a Grécia] para pensar três ou quatro vezes”, insinuou. O primeiro-ministro grego, Kyriákos Mitsotákis, também considera “inaceitáveis” as ameaças de Ancara.
Por seu turno, a União Europeia posicionou-se ao lado da Grécia. O porta-voz da Comissão Europeia, Peter Stano, classificou as declarações da Turquia de “hostis” e pediu para “se abster de uma retórica crescente”, ao mesmo tempo que sublinhou que “a soberania e a integridade dos Estados-membros da União Europeia devem ser respeitadas”.
E a Grécia não se esgotará nessa frente diplomática. O ministério dos Negócios Estrangeiros vai enviar uma carta ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e ao secretário-geral, António Guterres. Também a Turquia fará o mesmo.