Pelo menos seis pessoas já morreram desde sábado numa nova vaga de ataques armados no norte de Moçambique e há combates em curso, anunciou esta quarta-feira o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.

Seis cidadãos foram decapitados, três sequestrados e dezenas de casas foram incendiadas”, referiu na cidade de Xai-Xai, durante o discurso alusivo ao Dia da Vitória, feriado que esta quarta-feira se assinala e que celebra os acordos da independência do país.

Filipe Nyusi confirmou os relatos feitos pela população e autoridades locais desde sábado sobre ataques nos distritos de Ancuabe e Chiúre, na província de Cabo Delgado, e distrito de Eráti, já na província de Nampula.

O chefe de Estado confirmou ainda “combates” durante a última noite (terça-feira) em Chipende, distrito de Memba, sem mais detalhes.

Fonte da congregação das Irmãs Combonianas, em Itália, anunciou esta quarta-feira que uma freira italiana foi morta durante um ataque à missão católica em Chipende, no extremo norte da área que faz parte da diocese de Nacala.

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Trata-se de uma zona próxima do rio Lúrio, fronteira natural entre as províncias de Cabo Delgado e Nampula.

Segundo Filipe Nyusi, a nova vaga de violência surge depois de as Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas terem tomado uma base de terroristas no distrito de Ancuabe.

Tratava-se da base onde grupos armados “se haviam refugiado depois de terem sido desalojados de vilas e aldeias” que agora estão nas mãos de forças governamentais, referiu na intervenção desta quarta-feira.

Depois de tomada a base, os rebeldes ter-se-ão dispersado em grupos mais pequenos, com cinco e 15 membros, para zonas a sul dos rios Montepuez e Lúrio, onde “tentam recrutar” novos membros.

“Estão a ser seguidos” e “estão nervosos”, acrescentou, referindo que, por isso, deixam um rasto de destruição e mortes.

Filipe Nyusi sublinhou que há combates e outras operações em curso por partes das FDS e anunciou a rendição de mais de 40 suspeitos de envolvimento na violência armada em Palma, Mocímboa da Praia e Pemba.

Neste lote há pessoas que se entregaram, estando “protegidos e a colaborar”.

A qualquer momento podem ser devolvidos às comunidades” de origem, “ao convívio das respetivas famílias”, acrescentou.

O chefe de Estado destacou ainda a detenção de um recrutador em Mogincual, distrito costeiro da província de Nampula, que tinha já um grupo de 16 jovens “prontos para integrar fileiras” da insurgência.

Alguns pontos do extremo norte da província de Nampula, juntamente com Cabo Delgado, são palco da instabilidade causada pela presença de grupos armados.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano por forças do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas levando a uma nova onda de ataques noutras áreas, mais perto de Pemba, capital provincial.

Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.