Dois meses depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter visitado oficialmente o Brasil e de Jair Bolsonaro ter cancelado o encontro entre ambos, o Presidente da República português assistiu ao desfile do 7 de setembro, que assinalou os 200 anos da independência do Brasil, perto do seu homólogo. Entre os dois chefes de estado, no entanto, estava o empresário Luciano Hang, um dos oito empresários bolsonaristas alvo de buscas ordenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por causa de mensagens partilhadas via WhatsApp. A escolha não terá sido feita ao acaso. Bolsonaro convidou para a tribuna os oito empresários suspeitos e durante o seu discurso, em que aproveitou para apelar ao voto, deixou recados ao STF.

Bolsonaro aproveita discurso oficial do bicentenário da independência do Brasil para apelar ao voto e mostrar virilidade

Em inícios de julho, Marcelo viu Bolsonaro cancelar os encontros agendados entre ambos depois de ter percebido que o Presidente português ia também encontrar-se com Lula da Silva. No discurso que devia ter assinalado os 200 anos da independência do Brasil, Bolsonaro pouco se referiu à História, mas aproveitou para um discurso político em que apelou ao voto e lançou críticas a Lula da Silva e ao próprio Supremo Tribunal Federal com quem a relação tem azedado nos últimos meses.

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Marcelo diz estar no Brasil a representar Portugal num “momento histórico” e nega desconforto

No final, Marcelo Rebelo de Sousa demarcou-se da posição política do seu homólogo. “Eu, na tribuna onde estava, não ouvi essas palavras de ordem, nem essas, nem outras palavras de ordem”, garantiu. “Representar a nação portuguesa é a responsabilidade do chefe de Estado no Brasil”, disse, reiterando diplomaticamente que está nas cerimónias do bicentenário não enquanto “o professor Marcelo Rebelo de Sousa”, mas sim “a representar Portugal num momento histórico”. O que não evitou, porém, foi ser fotografado com Jair Bolsonaro ao lado de um dos oito empresário bolsonaristas alvo de buscas depois de terem partilhado mensagens na rede social Whatsapp em que defendiam um golpe de Estado caso Lula da Silva ganhasse as eleições presidenciais previstas para o próximo dia 2 de outubro, como noticia a Veja.

Polícia brasileira faz buscas a empresários pró-Bolsonaro que terão defendido golpe caso Lula ganhe eleições

Os oito empresários (além de Luciano Hang, da Havan, José Isaac Peres, da rede Multiplan, Ivan Wrobel, da Construtora W3, José Koury, do Barra World Shopping, André Tissot, do Grupo Serra, Meyer Nigri, da Tecnisa, Marco Aurélio Raimundo, da Mormai, e Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu) foram alvo de buscas e viram as suas contas nas redes serem bloqueadas, assim como as suas contas bancárias.

Hang, que aparece entre Marcelo e Bolsonaro vestido com um fato verde, confirmou na altura à Folha que fazia parte do grupo que foi alvo de buscas, mas garantiu que quase nunca participa ativamente nem falou sobre nenhum golpe, apesar de ver o seu nome envolvido em “toda a polémica possível”: “Sou pela democracia, liberdade, ordem e progresso”.

Bolsonaro cancelou encontro com Marcelo no Brasil. PR português vai encontrar-se com Lula