No dia em que se comemora o bicentenário da independência do Brasil, Jair Bolsonaro aproveitou a plateia de milhares de apoiantes para um verdadeiro discurso eleitoral. Muito perto do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, o líder brasileiro nada disse sobre a comemoração, mas teceu verdadeiros elogios à sua mulher, apelando mesmo a todos que encontrem a sua “princesa” e não poupou críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) com quem nos últimos meses tem tido uma relação tensa.

No final do desfile cívico-militar, em Brasília, o Presidente brasileiro garantiu que a “vontade do povo se fará presente no dia 2 de outubro”: “Vamos todos votar, vamos convencer aqueles que pensam diferentes de nós do que é o melhor para o Brasil”, disse, naquilo que mais parecia um comício e não uma cerimónia a assinalar o país que preside. No seu apelo ao voto, Bolsonaro voltou a sublinhar a sua posição contra o aborto e contra a liberalização das drogas.

Com mensagens patrióticas como “Brasil terra prometida” e “Brasil um pedaço de paraíso”, o chefe de Estado brasileiro garantiu que o povo brasileiro tem um “Presidente que acredita em Deus” e que, sobretudo, “defende a família” — aproveitando para elogiar a mulher.

Ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o chefe de Estado brasileiro considerou que os solteiros devem procurar “uma princesa” e casar-se com ela para serem “mais felizes ainda”.

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Podemos fazer várias comparações, inclusive entre as primeiras-damas. Não há o que discutir. [Michelle é] uma mulher de Deus, família e ativa na minha vida”, declarou antes de beijar a companheira.

Logo depois de beijar a primeira-dama, Bolsonaro gritou “imbroxável” várias vezes, sendo acompanhado em coro pela multidão que o apoia. Com essa palavra, o Presidente brasileiro pretendeu defender a sua masculinidade — considernado-se um homem sexualmente viril. Os jornais brasileiros dão conta de que a reação de Michelle terá sido constrangimento. Ainda assim ela própria falou aos apoiantes do marido: “Não estamos aqui por poder, muito menos por status: estamos aqui para cumprir um chamado”, garantindo que “o inimigo não vai vencer”.

Bolsonaro afirmou também que o país trava uma luta “do bem contra o mal”, expressão que costuma utilizar para se referir ao seu rival nas eleições, Lula da Silva, antigo Presidente do Brasil.

“Sabemos que temos pela frente uma luta do bem contra o mal, um mal que perdurou por 14 anos no nosso país, que quase quebrou a nossa pátria e que agora deseja voltar à cena do crime. Não voltarão. O povo está do nosso lado. O povo está do lado do bem. O povo sabe o que quer”, afirmou.

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A História “pode repetir-se”: Bolsonaro recorda “momentos difíceis” para os brasileiros

Ainda antes das cerimónias comemorativas do bicentenário da independência do Brasil, Bolsonaro citou momentos de crise política para avisar que a história “pode repetir-se”.

A imposição da Ditadura Militar, em 1964, destituição de Dilma Rousseff, em 2016, e a sua eleição, em 2018, foram alguns dos momentos citados por Bolsonaro, de acordo com a Folha de São Paulo.

“Estamos aqui porque acreditamos no nosso povo e o nosso povo acredita em Deus. Tenho certeza que com perseverança, fazendo tudo aquilo que poderemos fazer continuaremos a orgulhar-nos do futuro que deixaremos para essa criançada que está aí”, acrescentou Bolsonaro, em declarações aos jornalistas durante o pequeno-almoço no Palácio da Alvorada.

Nas intervenções do Presidente, quer no discurso oficial, quer nas frases ditas durante o pequeno-almoço, ficou de fora qualquer menção ao bicentenário da independência do Brasil, que se celebra esta quarta-feira.

O início das comemorações comemorações do bicentenário da independência do Brasil

O desfile cívico-militar em Brasília para comemorar o bicentenário da independência do Brasil foi acompanhado pelo Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e pelo Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa.

Milhares de brasileiros estiveram reunidos, em Brasília, coração do poder do Brasil, para o desfile, com as cerimónias a decorrerem em plena campanha presidencial. Atiradores especiais e equipas anti-bombas estiveram no local a acompanhar a cerimónia.

Ainda antes do desfile, na madrugada desta quarta-feira, passavam pouco das 05h30 e as ruas em volta da Esplanada dos Ministérios já estavam a ganhar vida, com vários grupos de pessoas vestidas com as cores da bandeira brasileira a irem caminhando para os cerca de 20.000 lugares das bancadas.

“Lula ladrão, seu lugar é na prisão”, ouviu-se um pouco por toda a cidade. Os vendedores de toalhas e bandeiras só tinham à disposição uma cara: Jair Bolsonaro.

O povo hoje [esta quarta-feira] mostra quem vai ganhar. Nem o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] vai conseguir”, contou à Lusa Marcelo, o ‘líder’ de um grupo de sete pessoas que vieram juntos de Alexania, uma pequena cidade brasileira do cerrado a cerca de 100 quilómetros da capital.

“Hoje [esta quarta-feira] é dia de mito. É agora ou nunca!”, disse um dos integrantes do grupo, numa alusão a Bolsonaro, empunhando uma bandeira do Brasil, uma t-shirt de Bolsonaro e um chapéu de cowboy.

Já em frente à bancada onde as principais personalidades assistiram ao desfile cívico-militar encontrava-se outro grupo que veio do sul do país. Empunhando uma bandeira do Paraná, com a bandeira brasileira a fazer de capa, Irene, sorridente, gritava: “Hoje [esta quarta-feira] é dia de liberdade!”, ao mesmo tempo que a sua filha Juliana entoava o ritmo que outrora serviu para chamar a cantora Ivete Sangalo: “Bolsonaro, cadê você, eu vim aqui só para te ver”.

Oriunda da cidade de Curitiba, Karla conta à Lusa que para ela esta quarta-feira “é um dia de esperança”, personificada pelo “seu mito, Bolsonaro”. Por ele, explica, já esteve em São Paulo no ano passado, só para o ver.

Tanto Brasília como Rio de Janeiro acolhem desfiles cívico-militares e manifestações de apoio ao Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, por ocasião do bicentenário da independência do Brasil, eventos que colocaram as duas cidades em estado de alerta de segurança.

A Força Nacional de Segurança Pública foi acionada para atuar em Brasília: “O emprego da Força Nacional, em caráter episódico e planeado, nas ações de preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do património, na defesa dos bens e dos próprios da União, no interior do Palácio da Justiça”, lê-se num texto divulgado no Diário da União.