Chamamos-lhe genericamente moscas-da-fruta, mas existem várias espécies e algumas até preferem os legumes — aliás, muitas vezes são estes a origem da pequena infestação em sua casa (mas já lá vamos).
A investigadora da Universidade de Lisboa (UL) dedicada a estes insetos, Margarida Matos, diz que não há razão para nos preocuparmos: nem com os ovos ou larvas que inadvertidamente engolimos, nem com os próprios adultos. Exceção feita para a espécie “de asa manchada”, Drosophila suzukii, que ataca os frutos saudáveis e se tornou uma praga nos pomares, com prejuízos reais para a produção agrícola.
Já as espécies que nos vão aparecendo em casa — umas mais nas estações amenas (primavera e outono), outras com o calor do verão e outra até no inverno — não nos estragam a fruta, não se preocupe. Se as vê na fruteira é porque os frutos já estavam demasiado maduros ou amassados e os pequenos insetos só estão a aproveitar uma boa refeição.
Na verdade, explica Margarida Matos, muitas vezes, as moscas-de-fruta que tentamos enxotar em casa vieram com as batatas e as cebolas. As frutas ficam menos tempo nas cestas antes de serem ingeridas ou vão para o lixo assim que damos conta de que estão podres — e assim se resolve o problema. Já as batatas e cebolas, por vezes, ficam estragadas “a partir de dentro” e passam muito mais tempo num qualquer canto escondido da cozinha — o que dá mais tempo para as larvas se desenvolverem e para os adultos irem à procura de alimento.
A investigadora da Faculdade de Ciências da UL não sabe se houve mais moscas-da-fruta este ano ou não — teria de ter feito essas medições em experiências de campo (o que não aconteceu) —, mas encontra algumas explicações para a perceção de que possa ter tido mais destes insetos a voar pela casa do que de costume.
Para começar, a primavera foi mais quente do que o normal, o que pode ter motivado o aparecimento precoce das espécies de verão, diz Margarida Matos, com a ressalva de que só um trabalho de campo o poderia ter confirmado. E, mesmo com o fim do verão e o início do outono, as temperaturas mantém-se altas.
Além disso, com temperaturas altas o tempo de geração é mais curto, o que quer dizer que mais depressa podemos ficar com a casa cheia destes pequenos voadores. Mais, com o calor, a fruta apodrece facilmente e o alimento para as moscas-da-fruta fica disponível.
Contrariando esta ideia de replicação exagerada, Margarida Matos lembra que as temperaturas atingidas durante as vagas de calor são excessivas até para as moscas-da-fruta do verão, como a Drosophila melanogaster, que podem muito bem ter tido uma diminuição nessa altura (mais uma vez, a investigadora alerta que não tem dados quantitativos).
Posto isto, os únicos conselhos que lhe podemos dar fazem parte do senso comum: coma primeiro as frutas e legumes mais antigos e não deixe as frutas a envelhecer na fruteira ou quem as vai comer são as moscas-da-fruta.