Para o antigo ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, o argumento do Governo de que aumentos mais significativos a pensionistas e funcionários públicos poderiam alimentar a inflação, ao invés de a conter, pode ser enganador.

Em entrevista ao jornal Público, o antigo governante explicou porque não percebe esta tese: “É-me difícil perceber em que é que o aumento das pensões e até mesmo o aumento dos vencimentos da Função Pública vão fazer aumentar o custo de produção das empresas”.

Essa inflação é aumentada pelo aumento de custos e não estou a ver em que é que os vencimentos da Função Pública e as pensões entrem diretamente nos custos das empresas“, referiu Teixeira dos Santos.

Ainda que reconheça que um aumento mais significativo dos salários na Função Pública, por exemplo, poderia “ter um efeito de arrastamento na negociação salarial do setor privado”, o que por sua vez poderia contribuir para aumentos dos preços de bens e serviços, Teixeira dos Santos acredita que esse impacto seria reduzido: “Não há um impacto significativo que possa ser decisivo no aumento de custos e consequentemente na alimentação dessa espiral inflacionista“.

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Também o argumento do Governo de que aumentos mais significativos de pensões poderiam comprometer a sustentabilidade da Segurança Social mereceu reparos do antigo ministro das Finanças. “Ouvi falar do impacto da medida das pensões do lado da despesa da Segurança Social, mas e quanto à receita [do Estado]? Não ouvi falar no impacto que a inflação está a ter do lado da receita. O mercado de trabalho está com alguma tensão, os salários tenderão a subir, as contribuições para a Segurança Social tenderão também a subir”, notou Teixeira dos Santos, acrescentando: “Olhar só para o lado da despesa pode ser enganador”.

Estas contas do Governo, relativas ao impacto de um aumento de pensões em linha com uma taxa de inflação extraordinariamente alta, têm vindo a ser contestadas por vários partidos, da esquerda à direita. O principal partido de oposição, o PSD, tem uma posição diferente e defende aumentos em linha com a inflação. Já Iniciativa Liberal pediu mais “transparência” nos cálculos do Governo. Também o Bloco de Esquerda, o Chega e o PCP manifestaram críticas, assim como o PAN e o Livre.

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