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Residentes em territórios ucranianos sob controlo russo denunciam irregularidades na votação sobre a adesão à Rússia, com urnas por selar, ausência de listas de votantes e sem controlo sobre quem vota ou quantas vezes vota.

“Nunca vi nada tão primitivo numa eleição”, disse um residente de Kherson à agência espanhola EFE, que usou apenas o nome próprio das fontes por razões de segurança.

Poderia votar em 50 destas cabines se quisesse, pois eles não se preocupam em verificar os documentos”, contou Volodymyr.

A mesma fonte disse também ser impossível votar livremente com soldados armados ao lado.

Os referendos sobre a adesão à Rússia estão a ser realizados pelas autoridades pró-russas de Donetsk e Lugansk, no Donbass (leste), e de Kherson e Zaporijia (sul), parcialmente sob controlo russo.

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A votação iniciou-se na sexta-feira, 23 de setembro, e decorre até terça-feira.

A Ucrânia e a comunidade internacional não reconhecem a validade das consultas, idênticas à realizada na Crimeia, em 2014, cujo resultado foi usado por Moscovo para legitimar a anexação daquela península da Ucrânia.

Outra residente de Kherson, Galyna, contou à EFE que membros das comissões eleitorais tentam encorajar as pessoas a votar nas ruas.

Disse ter visto várias mesas de voto ao ar livre espalhadas pela cidade, incluindo três numa rua central.

Uma mulher idosa está sentada numa mesa de plástico com uma urna de voto perto dela e dois soldados armados com pistolas automáticas nas proximidades”, descreveu, salvaguardando que não viu alguém a ser fisicamente obrigado a votar.

Segundo a mesma testemunha, as urnas não são seladas e não há listas de eleitores.

“Basta sentar-se e escrever os seus dados por conta própria para obter um boletim de voto”, contou.

Desde o início da votação, na sexta-feira, as ruas de Kherson têm estado praticamente vazias e os membros das comissões de voto vão de casa em casa, acompanhados por soldados armados.

Outra testemunha, Anton, contou que três soldados armados e uma mulher com uma urna transparente apareceram na casa do pai, que está de cama por ter sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) e que se encontrava acompanhado apenas por uma enfermeira.

Os soldados tentaram forçá-lo a colocar uma cruz com a resposta no boletim de voto”, escreveu numa mensagem enviada à EFE.

Quando viram que o doente era fisicamente incapaz de votar, forçaram a enfermeira a fazê-lo, apesar de ela ter dito que não tinha consigo os documentos de identificação.

A enfermeira dobrou o boletim de voto e colocou-o na urna transparente, tendo os russos sacudido a caixa para tentar ver se o voto era a favor ou contra a anexação à Rússia.

Volodymyr disse estar desapontado com os locais que concordaram em trabalhar nas comissões eleitorais.

Admitiu que algumas pessoas fariam qualquer coisa por dinheiro, mas mesmo assim não esperava que “vendessem a sua pátria e os seus filhos” desta forma.

As pessoas que falaram com a EFE admitiram que cerca de 60-70 por cento dos habitantes locais partiram para território controlado pela Ucrânia ou para o estrangeiro durante os meses de ocupação anteriores ao referendo.

As autoridades pró-russas em Kherson disseram esperar que 750.000 pessoas compareçam às urnas, enquanto em Zaporijia há 500.000 pessoas registadas para votação, de acordo com a agência oficial TASS.

Em ambos os casos, é pedido aos participantes que respondam a uma pergunta: “É a favor de que a região deixe a Ucrânia, crie um Estado independente e se torne parte da Rússia?”.

No caso de Donetsk e Lugansk, pergunta-se aos eleitores se apoiam “a entrada da república na Rússia como entidade constituinte da Federação Russa”.

As informações divulgadas pelas duas partes sobre a guerra na Ucrânia não podem ser verificadas de imediato de forma independente.