As autoridades pró-russas nas regiões ucranianas de Zaporijia, Kherson e Lugansk reivindicaram uma vitória do “sim” à anexação pela Rússia, sendo que se prevê que Vladimir Putin possa estar a preparar-se para anunciar já na próxima sexta-feira, dia 30, a adesão das regiões à Federação Russa.
Nas redes sociais, somam-se relatos de irregularidades nas votações e de urnas transparentes levadas porta a porta e até às camas de cidadãos hospitalizados, para que ninguém deixe de votar.
Entretanto, o porta-voz de Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia, garantiu esta terça-feira ao fim da manhã que vão ser impostas sanções aos organizadores dos referendos, considerados “ilegais”. Já os Estados Unidos garantiram que a Ucrânia terá acesso a armas norte-americanas para recuperar o território conquistado pelas forças russas, incluindo as regiões onde decorreram os referendos.
Haverá consequências para todas as pessoas que participam nos referendos ilegais e ilegítimos”, avisou Peter Stano em declarações aos jornalistas.
Tudo isto acontece no 216.º dia de guerra na Ucrânia, o mesmo em que danos “sem precedentes” foram registados nos gasodutos Nord Stream 1 e 2, que ligam a Rússia à Europa e que durante a manhã vazaram gás diretamente para o Mar Báltico — Dmitry Peskov, o porta-voz do Kremlin, já disse aos jornalistas que não põe de parte a hipótese de sabotagem.
Eis o que de mais relevante aconteceu ao longo do dia:
O que aconteceu durante a noite
- O governo da Letónia declarou situação de emergência em três áreas ao longo da fronteira com a Rússia. Em causa está o aumento do fluxo de cidadãos russos a abandonar o país após o anúncio de mobilização parcial.
- Dinamarca e Suécia descrevem fugas de gás como uma “ação deliberada”, no entanto não olham para o caso como ataques contra o país. A presidente da Comissão Europeia sublinhou a necessidade de investigar a situação. “Qualquer disrupção deliberada da infraestrutura energética europeia ativa é inaceitável e conduzirá a uma resposta o mais forte possível”, escreveu Ursula von der Leyen no Twitter.
Spoke to @Statsmin Frederiksen on the sabotage action #Nordstream.
Paramount to now investigate the incidents, get full clarity on events & why.
Any deliberate disruption of active European energy infrastructure is unacceptable & will lead to the strongest possible response.
— Ursula von der Leyen (@vonderleyen) September 27, 2022
- Várias bombas deflagraram perto da central nuclear ucraniana de Zaporíjia, ocupada por tropas russas, e estilhaçaram vidros em alguns edifícios, mas com danos limitados, denunciou a Agência internacional de Energia Atómica.
- A Ucrânia confirmou ter recuperado a localidade de Kupiansk-Vuzlovy, na região de Kharkiv, avança a agência NEXTA. No mesmo dia, as forças ucranianas recuperaram também a localidade de Ridkodub, na região de Donetsk.
- A agência de inteligência norte-americana (CIA) avisou há várias semanas o governo alemão da possibilidade de um ataque aos gasodutos no Mar Báltico, noticia o jornal alemão Der Spiegel. A informação foi divulgada depois de serem detetadas três fugas de gás em três tubos dos gasodutos Nord Stream 1 e 2.
- Foram ouvidas três explosões na cidade ucraniana de Kharkiv, disse à Reuters uma testemunha. Maria Avdeeva, especialista em desinformação e em segurança na Ucrânia, disse que foi registado um “ataque massivo” no qual foram disparados cinco mísseis.
- Os cidadãos russos que estejam a fugir da mobilização parcial vão poder requerer asilo nos Estados Unidos, divulgou uma porta-voz Casa Branca. “Acreditamos que, independentemente da sua nacionalidade, poderão candidatar-se a asilo nos EUA”, disse Karine Jean-Pierre.
- Moscovo não vai pedir a extradição dos cidadãos russos que saíram do país para evitar serem convocados para combater na Ucrânia, numa altura em que os homens em idade militar têm procurado sair da Rússia após o anúncio de mobilização parcial.
- Ao longo da última semana, cerca de 66.000 cidadãos russos entraram na União Europeia, mais de 30% em comparação com a semana anterior, divulgou a Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex).
O que aconteceu durante a tarde
- Se os resultados dos referendos de anexação à Federação Russa forem favoráveis, a câmara alta do parlamento russo poderá considerar uma incorporação das regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia já no dia 4 de outubro, avança a CNN.
- Philip Lane, economista-chefe do BCE e “braço direito” de Christine Lagarde, defende que governos devem aumentar os impostos sobre os mais ricos para ajudar os mais prejudicados pela crise energética.
- A Meta, empresa a que pertence o Facebook, desativou uma extensa rede de contas falsas que estavam a disseminar propaganda russa sobre a guerra na Ucrânia, avança a Associated Press.
- A Geórgia e o Cazaquistão, dois dos países vizinhos da Rússia, confirmaram um aumento acentuado da chegada de russos desde 21 de setembro, quando Moscovo decretou uma mobilização parcial para a guerra na Ucrânia.
- Foram divulgadas imagens que mostram a mancha provocada pela fugas detetadas nos gasodutos Nord Stream. As autoridades alemãs, dinamarquesas e suecas estão a investigar a origem das explosões.
Blasts occurred near Nord Stream gas leaks, seismologist tells SVT https://t.co/4WrMIQgJSI pic.twitter.com/snulDmetew
— Reuters (@Reuters) September 27, 2022
- Foram detetadas duas fortes explosões submarinas, junto à área onde foram detetadas fugas nos gasodutos Nord Stream 1 e 2.
- Artem Kamardin, um poeta e ativista que se manifestou em Moscovo contra a mobilização de reservistas russos e contra a guerra na Ucrânia — através da leitura de um poema anti-belicista — foi detido na segunda-feira à noite no seu apartamento. O Novaya Gazeta, que cita o advogado do poeta, diz que este foi agredido violentamente pelas forças de segurança e seviciado com um haltere.
- O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a realização de referendos de anexação organizados por Moscovo em quatro regiões da Ucrânia com o objetivo de “salvar a população” russófona desses territórios. No mesmo dia, o secretário-geral da NATO descreveu os referendos como uma clara violação da lei internacional.
- Pelo menos doze Estados-membros da União Europeia, entre os quais Portugal, subscreveram uma carta conjunta na qual defendem a imposição de um teto para o preço do gás, que querem ver discutido já no Conselho extraordinário de Energia.
- O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, disse que os referendos nos territórios ocupados ucranianos não terão reconhecimento da comunidade internacional.
- Os CTT lançaram um selo solidário com o povo ucraniano e anunciaram que toda a verba angariada com a sua venda será aplicado em iniciativas de apoio.
O que aconteceu durante a manhã
- Horas depois de ser anunciada detenção do cônsul-geral japonês, por acusações de espionagem, o Japão emitiu um “enérgico protesto” e exigiu um pedido de desculpas à Rússia. A Motoki Tatsunori foram concedidas 48h para sair do país.
- Edward Snowden, o ex-analista de dados dos serviços de informação norte-americanos que está desde 2013 refugiado na Rússia, depois de ter divulgado documentos secretos sobre as atividades da Agência de Segurança Nacional (NSA), já reagiu ao anúncio de que lhe foi concedida a cidadania russa. “Após anos de separação dos nossos pais, eu e a minha mulher não temos qualquer desejo de nos separarmos dos nossos FILHOS”, escreveu Snowden no Twitter.
- Depois de nos últimos dias terem vindo a público denúncias de que pessoas sem experiência militar, idosas ou com deficiência terão sido chamadas para combater na Ucrânia, o porta-voz do Kremlin admitiu esta segunda-feira que em algumas regiões do país foram cometidos erros na mobilização de reservistas. “De facto, há casos em que o decreto está a ser violado”, disse Dmitry Peskov.
- Milhares de pessoas continuam a sair da Rússia, após na semana passada Vladimir Putin ter anunciado a mobilização parcial de 300 mil pessoas para combater na guerra da Ucrânia. A procura por jatos privados aumentou em Moscovo, com um lugar num voo para fora do país a custar quase 28 mil euros. “A situação está absolutamente louca “, disse o diretor de uma empresa de aluguer de aviões privados. “Talvez recebêssemos 50 pedidos por dia; agora são cerca de 5 mil”. Na fronteira com a Mongólia, as filas para sair da Rússia chegam a demorar 16 horas.
- Num texto publicado esta terça-feira de manhã, Dmitry Medvedev relançou os receios de ataque nuclear sobre a Ucrânia, ao garantir que as ameaças russas não são “certamente um bluff”. “Tudo faremos para evitar que os nossos vizinhos, que são hostis para connosco, adquiram armas nucleares. Por exemplo, a Ucrânia nazi que é hoje diretamente governada pelos países da NATO”, disse o ex-presidente do país e atual presidente adjunto do Conselho de Segurança da Rússia, apelando ao “bom senso e o sentido de auto-preservação” dos países do Tratado do Atlântico Norte. “Compreendam que se a ameaça à Rússia exceder o limite de perigo estabelecido, teremos de responder”.
- A diretora-geral da Organização Mundial do Comércio previu a chegada de uma recessão global, numa altura de crises simultâneas devido à guerra na Ucrânia, aos elevados preços da energia e dos alimentos e aos efeitos adversos das alterações climáticas. “A recessão está a chegar, as indicações não são positivas numa altura em que tanto o Banco Mundial como o Fundo Monetário Internacional baixaram as suas previsões de crescimento”, disse Ngozi Okonjo-Iweala.
- “O presidente da Academia de Cinema da Rússia decidiu não nomear um filme nacional para o prémio Óscar da Academia Americana de Artes e Ciências Cinematográficas em 2022”, anunciou a academia russa esta segunda-feira em comunicado, num claro boicote à cerimónia marcada para 12 de março de 2023. Entretanto, esta terça-feira, Pavel Chukhrai, realizador e presidente da comissão de nomeação russa aos Óscares, tornou pública uma carta a apresentar a sua demissão por a decisão de não participação ter sido tomada “nas suas costas”.
- As Forças Armadas da Ucrânia revelaram esta manhã que nas últimas 24 horas as forças russas no país dispararam 9 rockets e empreenderam 22 ataques aéreos contra alvos ucranianos. A cidade de Zaporíjia, já tinha anunciado esta manhã o governador local, Oleksandr Starukh, voltou a ser atingida, tendo sido lançados ataques contra infraestruturas locais, mas não contra a central nuclear, que permanece sob controlo das forças ocupantes.