O projeto para avançar com as obras de melhoria no aeroporto de Lisboa foi entregue pela ANA ao Governo ainda em 2020, quando o setor estava a meio gás devido à pandemia. Mas “apesar do empenho e determinação” do ministro das Infraestruturas (Pedro Nuno Santos), havia uma força de bloqueio que não permitiu que avançássemos com as obras que foi o ministro João Leão”, afirmou o presidente não executivo da ANA, José Luís Arnaut, esta terça-feira na cimeira do turismo.
“Somos uma PPP (parceria público privado) e qualquer obra ou investimento só pode ser feito com o acordo da UTAP, a Unidade Técnica de Apoio de Projeto que é tutelada pelo Ministério das Finanças. Arnaut referiu que foram enviadas seis cartas para que o ministro nomeasse um representante na comissão de negociação do contrato de concessão. Mas isso nunca aconteceu, apesar de a empresa e do Ministério das Infraestruturas terem indicado os seus representantes. “Agora que temos um novo ministro (Fernando Medina), espera que a situação seja ultrapassada” e que seja possível avançar com as obras de melhoria da Portela enquanto se aguarda pela decisão do novo aeroporto de Lisboa.
Em causa está um projeto de melhoria das condições de operação em Lisboa de forma a mitigar os efeitos do congestionamento na operação. Este investimento que é da ordem dos 280 milhões de euros não aumenta a capacidade do aeroporto e não está associado necessariamente ao projeto que integrava o aeroporto do Montijo e o crescimento da Portela e que foi chumbado em 2020 por duas autarquias. Mas permite melhorar as condições de operação e reduzir os atrasos, incluindo ainda melhorias de natureza ambiental. Um dos objetivos deste projeto é a instalação de mais mangas para agilizar o acesso dos passageiros aos aviões, reduzindo os tempos de embarque e desembarque.
O avanço destas obras que têm de ser renegociadas com o concedente já tinha sido pedido por Luís Montenegro quando apresentou a proposta do partido para a tomada de decisão sobre o aeroporto e foi referida por António Costa quando anunciou o roteiro para a tomada de decisão na sexta-feira passada. A ANA já tinha afirmado que o projeto estava pronto para avançar e que aguardava apenas luz verde do Governo sobre a decisão global relativa ao aeroporto.
Estrutura para decidir novo aeroporto é “complexa”. ANA pede independência na escolha das pessoas
O modelo conciliado entre o Governo e o PSD para decidir a localização do novo aeroporto de Lisboa é uma “estrutura algo complexa” porque envolve demasiadas entidades, considerou o presidente do conselho de administração da ANA — Aeroportos de Portugal que é detida pela francesa Vinci. José Luis Arnaut pede uma “comissão equitativa” e que não seja apenas composta por académicos e que envolva consultores e associações, mas ao mesmo tempo alerta para a necessidade de que sejam pessoas que “não tenham tomado posição no passado”.
O gestor falou na VI Cimeira do Turismo Português, que se realiza esta terça-feira no Centro Champalimaud, depois do primeiro-ministro, António Costa, ter dado mais detalhes sobre o roteiro que o Governo vai seguir para escolher o coordenador da equipa que vai desenvolver a avaliação ambiental estratégica das soluções aeroportuárias.
O presidente da ANA sublinhou também: “Espero que a independência seja mantida de modo a não se levantarem nuvens”. Apesar destas ressalvas, José Luís Arnaut saudou a iniciativa do Governo e do PSD. “É melhor esta solução do que nenhuma”. E assinalou também que a decisão final sobre a solução proposta pela comissão independente só terá uma decisão em 2024 porque será necessário fazer uma avaliação ambiental.
E considerou que um aeroporto perto de Lisboa é “de bom senso”, mas considera positivo que sejam estudadas todas as soluções, considerando que existe muito ruído à volta do tema. José Luis Arnaut revelou ainda que tendo o acordo com o Governo para o aeroporto do Montijo caído por terra em 2020 (devido à oposição das autarquias), os requisitos previstos no contrato de concessão para desencadear o processo de decisão do novo aeroporto ainda não se verificam.
Considerando o impacto da pandemia e que o número de passageiros na Portela está a 87% do nível de 2019, Arnaut admite que esses pressupostos — slots, movimentos por hora e número de passageiros — venham novamente a ser cumpridos até ao final do ano ou início de 2023. A partir do momento em que esses triggers (gatilhos) são alcançados, a ANA notifica as autoridades e tem três anos para propor uma solução e chegar a um acordo com o Governo. Se não alcançar esse acordo, a empresa tem mais um ano de exploração exclusiva do aeroporto de Lisboa, afirma.
No entanto, o gestor defendeu a necessidade de adotar a solução “o mais rapidamente possível”, lembrando que quando esses patamares foram atingidos em 2015 foram necessários apenas seis meses para chegar a um acordo de princípio com o Governo (ainda com Passos Coelho, mas que só foi validado em 2019 pelo Governo do PS).