A ministra da Justiça assumiu esta quarta-feira que a proposta do Governo sobre recurso às bases de dados das operadoras de telecomunicações como alternativa à lei dos metadados é, atualmente, a “solução possível” sem excluir outro enquadramento no futuro.

Em declarações à Lusa à margem da renovação da Bolsa de Firmas e Denominações, no Registo Nacional de Pessoas Coletivas do Instituto dos Registos e Notariado (IRN), em Lisboa, Catarina Sarmento e Castro realçou as limitações legais a nível europeu e garantiu compreender as críticas do diretor nacional da Polícia Judiciária (PJ), Luís Neves, que, no dia 15, considerou a proposta de lei “curta para o futuro” e que devia ser considerada transitória.

Estamos todos, no fundo, a pensar a mesma coisa. Neste momento, essa solução que foi apresentada pelo Governo — no grupo de trabalho em que participou também a PJ — é a solução possível neste quadro que é o quadro europeu. Não significa que, eventualmente, a nível europeu não possa um dia haver ajustamentos, mas neste momento é o quadro possível e o parlamento, certamente, fará o seu caminho”, afirmou.

Catarina Sarmento e Castro assinalou ainda a decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE), emitida em 20 de setembro, que confirmou a ilegalidade da conservação “generalizada e indiferenciada” dos dados de tráfego ou de localização, permitindo, no entanto, uma conservação “seletiva e/ou rápida” na luta contra a criminalidade grave. O acórdão europeu surgiu na sequência de dúvidas manifestadas pelo Supremo Tribunal Administrativo alemão.

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“Houve uma decisão europeia muito recente que, de facto, demonstra que aquele caminho que foi apontado pelo Governo é o caminho possível neste momento”, observou a governante, reiterando: “Neste momento, perante o quadro europeu e o quadro constitucional, este é o quadro possível”.

Em Portugal, o Tribunal Constitucional (TC) considerou, em abril, inconstitucionais normas da lei dos metadados que determinam que os fornecedores de serviços telefónicos e de internet devem conservar os dados relativos às comunicações dos clientes – entre os quais origem, destino, data e hora, tipo de equipamento e localização – pelo período de um ano, para eventual utilização em investigação criminal.

Para responder a este acórdão, foram apresentadas uma proposta de lei do Governo, tal como projetos-lei do PSD, Chega e PCP sobre a mesma matéria, que baixaram à discussão na especialidade sem votação em 3 de junho.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já disse que vai solicitar ao TC a fiscalização preventiva da nova lei que venha a ser aprovada pelo parlamento.

Ministra diz que proposta para novo estatuto dos oficiais de justiça “está em marcha”

A revisão do estatuto profissional para a carreira dos oficiais de justiça “está em marcha”, assegurou esta quarta-feira a ministra da Justiça, sem, contudo, se querer comprometer com uma data para a apresentação do documento.

Esse é um processo que está em marcha. Nos roteiros que tenho feito pelo país, tenho conversado nos tribunais com os funcionários e é um processo que está em cima da mesa. O senhor secretário de Estado está neste momento em conversações sobre essa matéria para podermos ver, finalmente, esse estatuto aprovado”, disse à Lusa Catarina Sarmento e Castro.

A governante reiterou que o trabalho para a definição do documento “está a decorrer” e expressou o seu respeito pelo “direito à greve de todos os funcionários”, depois de dois dias de greve no setor no início deste mês e do anúncio de novas paragens nos tribunais para o início de outubro.

Questionada sobre um prazo limite para a apresentação do novo estatuto para a carreira profissional dos oficiais de justiça, Catarina Sarmento e Castro recusou definir uma data: “Estas coisas têm os seus próprios timings, até legislativos e de publicação de propostas de estatutos. Têm o seu tempo, mas está a acontecer”.

Entre as principais reivindicações da carreira de oficial de justiça estão o preenchimento dos lugares vagos, a abertura de procedimentos de promoção e acesso a todas as categorias com lugares disponíveis, a inclusão no vencimento (com retroativos a 2021) do suplemento de recuperação processual, a regulamentação do acesso ao regime de pré-aposentação e a apresentação da proposta de um novo estatuto profissional.