O prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina foi atribuído a um único investigador, Svante Pääbo, “pelas suas descobertas sobre os genomas dos hominíneos extintos e a evolução humana”. O anúncio foi feito esta segunda-feira, pelas 10h30 (hora de Lisboa), na Assembleia do Nobel do Instituto Karolinska, em Estocolmo (Suécia).

Entre os feitos científicos mais importantes atribuídos a Svante Pääbo estão a sequenciação genética de um neandertal (a leitura dos genes deste homem pré-histórico) e a descoberta de uma nova espécie de hominíneo, os denisovanos. Os hominíneos são um grupo que inclui os humanos, os seus antepassados e até os primatas mais próximos, como o chimpanzé.

Svante Pääbo nasceu “ali mesmo”, em Estcolmo, em 1955, conforme anunciou Thomas Perlman, secretário da Assembleia do Nobel. O investigador completou os seus estudos na Universidade de Munique e no Instituto Max Planck.

Muitos de nós ainda têm na memória as imagens do arqueólogo aventureiro Indiana Jones ou de paleontólogos de roupas beges e pincéis nas escavações empoeiradas. Mas o estudo das espécies extintas vai, atualmente, muito além dos ossos ou artefactos deixados, a genética traz cada vez mais informação que nos ajuda a criar a árvore genealógica dos nossos antepassados longínquos.

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O trabalho de Svante Pääbo que mostrou como os genes dos antepassados dos humanos moldaram o homem moderno (Homo sapiens) e os impactos que isso tem ainda hoje na humanidade. As suas descobertas sobre a genética e a evolução dos hominíneos abriram portas a uma nova área científica, a paleogenómica, o estudo dos genomas antigos.

As suas descobertas já tinham sido homenageadas pelo prémio Breakthrough em Ciências da Vida, em 2016. De acordo com o site do prémio, o laureado foi “pioneiro na sequenciação de ADN e genomas antigos, iluminando assim as origens dos humanos modernos, as nossas relações com familiares extintos como os neandertais e a evolução das populações e dos traços humanos”.

Svante Pääbo vivia fascinado com a ideia de poder usar as metodologias modernas de análise do ADN para estudar os neandertais, mas tal tarefa mostrou ser muito mais complicada do que antevia, refere o comunicado do Nobel. Com o passar do tempo, a molécula de ADN degrada-se, as amostras encontradas estavam fragmentadas e contaminadas com o ADN de outras espécies (de humanos modernos a bactérias).

Foram dezenas de anos a tentar encontrar a melhor forma de estudar o material genético dos nossos antepassados, mas foram recompensados (e não apenas com o Nobel que agora lhe é atribuído).

Primeiro, o investigador pegou nas mitocôndrias e estudou o seu ADN. As mitocôndrias são pequenas estruturas (organelos) dentro das células responsáveis, entre outras coisas, pela produção da energia que a célula precisa para funcionar. As mitocôndrias têm um ADN próprio, ainda que seja uma pequena fração do ADN das células, mas foi o suficiente para mostrar que os neandertais eram diferentes dos chimpanzés e dos humanos modernos.

Depois, encetou o desafio de encontrar material genético no núcleo das células e analisá-lo. Uma coisa simples nos dias de hoje: qualquer pedaço de pele ou tecido humano terá centenas ou milhares de células, mas no caso dos hominíneos extintos era preciso encontrar esse ADN intacto no interior dos ossos fossilizados. O que não é uma tarefa fácil.

Ainda assim, a equipa de Svante Pääbo conseguiu e, em 2010, publicaram o primeiro genoma de um neandertal (a sequenciação do genoma humano moderno era dos anos 1990). Entre as revelações, o facto de os neandertais e os humanos modernos se terem reproduzido entre si durante os milhares de anos da sua existência.

Quando um fragmento de um osso de um dedo de alguém que tinha vivido há 40 mil anos foi descoberto contendo ADN bem preservado, era claro que isso era trabalho para a equipa de Pääbo. Depois de sequenciado o genoma e analisados os genes, os investigadores verificaram que não se tratava nem de neandertais, nem de humanos modernos, era uma espécie nova que tomou o nome do local onde foi encontrada em 2008, Denisova — daí, denisovanos.

As populações da Melanésia, no extremo oeste do oceano Pacífico, e do sudeste asiático ainda hoje têm genes de denisovanos, cerca de 6% do seu ADN.

Pode rever a sessão na página do YouTube da Academia do Nobel (aqui).

O prémio Nobel tem um valor total de 10 milhões de coroas suecas (cerca de 920 mil euros) e pode ser atribuído a uma, duas ou três pessoas, sendo o valor do prémio distribuído entre elas. Neste caso, Svante Pääbo receberá a totalidade do prémio.

Curiosidades sobre o prémio Nobel da Fisiologia e Medicina:

  • 112 prémios foram atribuídos entre 1901 e 2021, chegando a 226 laureados
  • 40 prémios foram entregues a um único laureado — contando com o laureado de 2022
  • apenas 12 mulheres receberam o prémio Nobel da Medicina até agora
  • 32 anos era a idade do laureado mais novo de sempre em Medicina, Frederick G. Banting, em 1923, pela descoberta da insulina

  • 87 anos era a idade do laureado mais velho, Peyton Rous, em 1966, por ter descoberto vírus que causam tumores

Em 2021, foram dois os investigadores laureados, David Julius e Ardem Patapoutian, “pelas suas descobertas de recetores para temperatura e tato”.

Nobel da Medicina vai para dois cientistas que descobriram os recetores da temperatura e tato

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