Um dano “irreparável”. É este o balanço que as autoridades chilenas fazem do grande incêndio que deflagrou esta semana na Ilha da Páscoa, famosa pelas grandes estátuas de pedra “moai”, parte das quais estará agora danificada sem solução possível.

Não se sabe, para já, quantas estátuas — a ilha situada no Pacífico, e também conhecida por Rapa Nui, conta com mais de mil — foram afetadas pelos efeitos do fogo. Mas os cálculos do governo chileno apontam para que uma área de cerca de 60 hectares tenha sido consumida pelas chamas.

Na página de Facebook do município de Rapa Niu, Ariki Tepano, o líder da comunidade indígena Ma’u Henua — responsável pela gestão e manutenção daquela zona — descreveu danos “irreparáveis e com consequências além do que os olhos podem ver”: “As moai estão totalmente queimadas e vê-se o efeito do fogo sobre elas”.

Nas fotografias que acompanham o texto, é possível ver algumas das icónicas estátuas escurecidas pelas chamas.

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Numa altura em que as autoridades justificam o descontrolo do fogo com uma “falta de voluntários” para trabalhar na conservação das estátuas, à rádio chilena Pauta o presidente do município, Pedro Edmunds Paoa, avisou: “Todos os incêndios em Rapa Nui são provocados pelo ser humano”.

E quis apontar o dedo aos responsáveis chilenos: o Estado, acusou, “esteve ausente o tempo todo”. Perante a situação de caos na ilha, assegurou que só os serviços municipais funcionam, mas ainda assim a autarquia conta com “poucos recursos para a dimensão dos problemas que tem esta ilha” e para executar os planos de prevenção que estão desenhados.

E o problema agora, explicou, é que ao permitir que a pedra rachasse, graças aos fogos, isso vai agora fazer com que, com o tempo, chuvas fortes e desgaste natural tenham efeitos mais graves sobre as estátuas, que se “transformam em areia”. Isso prejudicará as estátuas presentes no parque que conta no total com 16 mil hectares, lembrou, e é “o maior museu ao ar livre do mundo”, sendo também património da UNESCO.

“É a coisa mais relevante que o Chile tem, e não é conservado. E não está porque é preciso recursos para isso, é delicado”, atacou o autarca, pedindo guardas permanentes para aquela zona.

Entretanto, o governo chileno, através da subsecretária do Património, Carolina Pérez Dattari, veio assegurar que está a dar todo o apoio necessário à ilha e que responsáveis do Conselho de Monumentos Nacionais do Chile já estão no local para verificar a dimensão dos danos.

As “enigmáticas” estátuas, como lhes chama a BBC, têm cerca de quatro a dez metros de altura e são conhecidas pelas suas cabeças gigantes. Foram construídas por uma tribo polinésia, calcula-se que há mais de 500 anos. Já a ilha da Páscoa fica a cerca de 3500 quilómetros da costa do Chile, sendo que depende fortemente do turismo — esteve fechada a visitantes até há três meses, graças à pandemia de Covid-19, e volta agora a estar inacessível enquanto os danos são calculados.

Quando o parque passou a ser património, a UNESCO explicou que os polinésios estabeleceram uma “tradição poderosa, criativa e original para a escultura e arquitetura, livre de qualquer influência externa” e que as estátuas “criaram uma paisagem sem igual que continua a fascinar as pessoas à volta do mundo”.