Nada de salto com a pirueta a rodar ao mesmo tempo o dedo indicador da mão direita, nem sinais daquele Siiiiiiiiiiii que ecoava depois nas bancadas. Houve sorrisos, muitos abraços, a expressão facial a denunciar o alívio pelo que tinha acabado de acontecer e uma nova celebração zen, de olhos fechados e dedos juntos como quem medita para passar ao lado do ruído externo. Na semana que assinalava 20 anos do primeiro golo na equipa principal do Sporting frente ao Moreirense, depois de fintar três adversários a picar a bola à saída de João Ricardo, Cristiano Ronaldo chegou ao golo 700 por clubes em Goodison Park, entrando para assinar o momento da reviravolta para a vitória do Manchester United frente ao Everton.

O Rei voltou (como o conhecemos): Ronaldo entra, marca, dá vitória ao United e estabelece mais um recorde

Naquele momento, a maior relevância do feito era mesmo o golo em si. Numa temporada em que levava apenas um remate certeiro e de grande penalidade frente ao Sheriff, o avançado quebrou 222 minutos sem marcar desde o início da Premier League (também isto algo “anormal” mas que se justifica com o facto de ter sido quase sempre suplente utilizado em termos internos) e espantou uma malapata que teve no encontro anterior com o Omonoia um exemplo paradigmático quando sozinho em frente à baliza e sem oposição de guarda-redes acertou no poste. No dia seguinte, é sobre o golo 700 por clubes que se fala (817 juntando os que marcou pela Seleção). E houve até direito a comemoração no balneário.

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Para assinalar o feito, o plantel dos red devils fez uma fotografia de grupo no balneário com a camisola número 700 de Ronaldo (e ainda balões dourados com o mesmo número). “Grande vitória, malta! Outro passo na direção certa”, tinha escrito o capitão da Seleção após o encontro frente ao Everton. “700 golos por clubes, que número bonito que alcançámos juntos! Obrigado a todos os meus companheiros de equipa, treinadores, clubes, família e amigos e, claro, os meus adeptos. Continuamos juntos!”, publicou esta segunda-feira nas suas redes sociais, com imagens no Sporting, no United, no Real e na Juventus.

Também os companheiros de equipa manifestaram a sua satisfação pelo golo do português. “É difícil de acompanhar e contar todos os golos do Ronaldo porque parece que ele bate mais um recorde a cada semana que passa. Estou muito feliz por ele porque ele tem trabalhado muito para conseguir este golo. Conseguiu fazer o golo e a vitória para nós mas o mais importante para ele é que a equipa conseguiu vencer e conquistar os três pontos”, salientou Bruno Fernandes na flash interview após o jogo em Goodison Park. “Que honra a minha, aprendo com ele todos os dias. Mais uma grande marca numa carreira recheada de feitos e conquistas. Que possamos desfrutar ainda mais juntos”, escreveu Antony nas redes sociais.

“É simplesmente brilhante. Ronaldo é um dos maiores jogadores que surgiram neste desporto. Foi uma era em que tivemos ele e Messi. As comparações não importam. Ambos são jogadores incríveis na história do futebol. Continuar a jogar, a mostrar que está tão bem em termos físicos e a marcar golos… Os números que ele tem acumulado são anormais mas para ele passaram a ser normais ano após ano. Quando tinha 699 golos queria que ele tivesse marcado na Liga Europa, porque sentia que podia acontecer connosco”, assumiu Frank Lampard, técnico do Everton. “Se mais alguém vai marcar 700 golos? É difícil dizer. Posso apenas realçar que é uma performance incrível por parte dele. Quero dar os parabéns. Estou muito feliz por ele. Foi o seu primeiro golo da época na Premier League e estou seguro que o vai ajudar a marcar muitos mais golos nas próximas semanas”, disse de forma lacónica o seu treinador, Erik ten Hag.

“Fiquei louco quando o Cristiano marcou. Vi muitas pessoas a desrespeitar o Cristiano e a dizer que ele é o problema. Não podes ser um problema para a a tua equipa quando marcas 24 ou 25 golos na última época. E depois dizem: ‘Ah, mas ele não pressiona’. Esta equipa não parece melhor ou pior quando Ronaldo está em campo ou quando não está a pressionar para recuperar a bola. Não há diferença. Acabem logo com esse argumento. Falei com ele durante este período em que não foi jogando e ele estava muito calmo. Claro que estava um pouco chateado, porque todos os jogadores querem jogar, mas ele estava calmo e disse-me: ‘Sei que a oportunidade vai aparecer e vou marcar golos'”, referiu Rio Ferdinand, antigo central e capitão do Manchester United que jogou vários anos com o número 7 em Old Trafford.