As ondas de choque na sequência da demissão de Kwasi Kwarteng, o ex-ministro das Finanças inglês, estão a intensificar-se. Na sexta-feira, com apenas 38 dias de governo, a primeira-ministra Liz Truss fez a primeira mudança estratégica, ao substituir Kwarteng por Jeremy Hunt, um histórico dos Conservadores.

A demissão do ministro das Finanças, associada ao recuo no mini-orçamento, que Truss reconheceu ter surpreendido os mercados por “ir demasiado longe e demasiado rápido”, está a ser alvo de críticas por parte da oposição – e até do próprio partido.

Este domingo, são já três os deputados conservadores a pedir a demissão de Truss: Crispin Blunt, Andrew Bridgen e Jamie Wallis.

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O primeiro a pedir uma mudança de liderança foi Crispin Blunt, um histórico do partido Conservador, que durante uma entrevista ao Channel 4 disse que “o jogo acabou” para Truss. Já depois da intervenção no programa, partilhou em comunicado declarações mais completas. “A maioria dos deputados percebem claramente que a autoridade da primeira-ministra Liz Truss está agora fatalmente danificada. Precisa de sair agora, uma vez que não consegue ganhar ou manter a confiança dos seus colegas, muito menos do público e dos incansáveis media.”

“O nosso partido tem de responder coletivamente a este momento de crise suprema para nós”, acrescentou. Em relação à nomeação de Jeremy Hunt para a pasta das Finanças, diz que “é necessária mas uma mudança insuficiente”. Na ótica deste conservador, é necessário haver uma “transição”, que em algum momento “junte os talentos de Rishi Sunak, Penny Mordaunt e Jeremy Hunt nas posições de topo de liderança do partido”.

Mais tarde, seguiu-se o pedido do deputado de North West Leicestershire, Andrew Bridge, a pedir a demissão de Truss. Durante a corrida à liderança do partido Conservador, este deputado foi um apoiante de Rishi Sunak. Numa publicação feita este domingo, disse que “Liz afundou a sua própria liderança e o potencial regresso do seu antecessor, tudo ao mesmo tempo e em tempo recorde”.

A crítica vai mais longe e aponta que “Liz Truss já ficou sem amigos”. “Agora só tem o apoio de um terço dos deputados eleitos. Devemos esperar mais fogo de artifício no Parlamento esta semana. A menos que isto seja resolvido de forma rápida, estamos a caminhar para eleições gerais”.

Na semana passada, no Parlamento, Liz Truss descartou a hipótese de novas eleições. “A última coisa de que precisamos agora é de eleições”, respondeu, após críticas da oposição.

Jamie Wallis foi o terceiro deputado do partido Conservador a pedir a demissão da primeira-ministra. “Nas últimas semanas, vimos como o Governo tem minado a credibilidade económica da Inglaterra e fraturado o nosso partido de forma irreparável. Já chega”, escreveu no Twitter, onde partilhou a totalidade da carta que enviou a Truss.

“Acredito que estas falhas surgiram de erros muito básicos e evitáveis na sua abordagem”, é possível ler na missiva. “Assim, peço-lhe que abandone o cargo de primeira-ministra, já que acredito que já não consegue ter a confiança do país ou do seu partido parlamentar. Esta é a coisa certa a fazer para garantir a estabilidade, segurança e prosperidade das pessoas a quem deve tudo.”

Além dos deputados, também Robert Halfon, que teve funções na área da educação durante o governo de Theresa May, está entre os críticos conservadores. Em declarações citadas pela Sky News, acusa o atual governo de agir “como jihadistas libertários”, que estão a tratar o país como um “ratinho de laboratório” ao longo das últimas semanas.

Novo ministro das Finanças diz que nada está fora de questão

Enquanto os deputados do próprio partido pedem a demissão de Liz Truss, o novo ministro das Finanças dá algumas entrevistas. Em comentários feitos à  BBC, frisa que vai “pedir a todos os departamentos do governo para encontrarem mais formas eficientes de poupar”.

Na curta conferência de imprensa de sexta-feira, após o despedimento de Kwarteng, Liz Truss frisou que queria um Estado mais eficiente, que fizesse melhor uso do dinheiro público na altura de crise que o Reino Unido enfrenta. O país está a ser pressionado pela escalada da inflação e pela significativa subida dos preços da energia.

Jeremy Hunt é o novo ministro das Finanças do Reino Unido. Histórico conservador apoiou Liz Truss no final da campanha

No âmbito económico, Jeremy Hunt, um experiente político, diz que “não tira nada da mesa”. “Não quero tirar nada a mesa, quero manter o maior número de cortes de impostos que seja possível, porque a nossa saúde a longo prazo depende de sermos uma economia com poucos impostos. E acredito firmemente nisso”.

Críticas também do outro lado do Atlântico

Não é só no Reino Unido que Liz Truss está a ser alvo de críticas. Este sábado, de acordo com a Reuters, o Presidente dos Estados Unidos teceu críticas ao plano económico original da governante britânica.

“Não fui o único a pensar que era um erro”, disse Biden sobre a proposta do mini-orçamento. “Acho que a ideia de reduzir impostos aos mais ricos numa altura [como esta] – discordo da medida, mas acho que fica ao critério da Grã-Bretanha fazer esse julgamento, não a mim.”

Biden disse ainda que não “está preocupado com a força do dólar”, mas sim “com o resto do mundo”.

Biden considera “erro” recuo de primeira-ministra britânica face a inflação mundial