O argumentista Nuno Artur Silva vai contar em palco, em janeiro em Lisboa, o que foi “vivendo nos últimos anos” no espetáculo “Onde é que eu ia?”, incluindo o tempo no Governo e na administração da RTP.

“Acho que sou o primeiro governante que sai do Governo para fazer stand-up. Também fui o primeiro comediante, creio eu, a integrar um Governo em Portugal, pelo menos voluntário”, disse Nuno Artur Silva, em declarações à Lusa, a propósito do espetáculo “Onde é que eu ia?”, que estará em cena entre 12 e 22 de janeiro na Sala Mário Viegas, do Teatro Municipal São Luiz.

Embora seja um espetáculo “completamente novo”, “Onde é que eu ia?” é uma espécie de continuação de um projeto que Nuno Artur Silva iniciou em 2014 com o desenhador António Jorge Gonçalves.

Nesse ano, o escritor e argumentista estreou, no Famous Humor Fest, em Lisboa, “Nuno Artur Silva. A sério?”, espetáculo no qual fazia um solo, mas acompanhado por António Jorge Gonçalves e pelos Dead Combo ao vivo, e que teve depois, em 2015, apresentações no Teatro Municipal São Luiz, também em Lisboa.

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Pouco depois, Nuno Artur Silva foi nomeado para o conselho de administração da RTP, onde se manteve durante três anos, e “Nuno Artur Silva. A sério?” acabou por ficar pelo caminho.

O espetáculo deveria ter regressado no final de 2019, com outro nome, “Onde é que eu ia?”, e material novo. Já havia data de estreia, mas Nuno Artur Silva foi convidado para integrar o Governo, como secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, cargo que ocupou até março deste ano.

“A ver se à terceira é de vez, janeiro no mesmo sítio, com um dos parceiros da altura, o António Jorge Gonçalves. O espetáculo chama-se ‘Onde é que eu ia?’, como se tivesse sido interrompido”, referiu.

Embora mantenha o nome do solo que deveria ter estreado em 2019, este “é um espetáculo completamente novo, que passa um pouco por aquilo” que Nuno Artur Silva foi “vivendo nos últimos tempos“.

“Portanto, é inevitável que fale da experiência de ter sido membro do Governo, numa circunstância especial, na pandemia. Vou falar disso, porque é inevitável falar”, partilhou.

Nuno Artur Silva recorda que trabalhou durante muitos anos com humoristas, nas Produções Fictícias, e nesse tempo fizeram “humor político”.

“Não pode não ser cómico eu, passados estes anos todos, ter tido uma oportunidade única de ir para o outro lado, que era normalmente o lado em relação ao qual eu fazia humor”, considerou.

A primeira fase do percurso de Nuno Artur Silva, de comediante, comentador, diretor do Inimigo Público, do Canal Q e das Produções Fictícias, “está lá” — “pensar um bocadinho sobre o que é que é esta vida de ser argumentista, de fazer piadas, de escrever, de escrever guiões”.

Além disso, o solo inclui o “passar para a direção da empresa pública de televisão e rádio e todos os desafios que isso trouxe, as peripécias”.

“Por simplicidade dizemos que é “stand-up comedy“, mas é como se fosse uma exposição, uma conferência animada. Em que há um jogo sempre entre aquilo que eu digo e aquilo que o [António] Jorge [Gonçalves] desenha, que é de certa maneira o que me vai pela cabeça. É uma espécie de ponto/contraponto, em que eu vou dizendo e ele vai desenhando à volta do que eu vou dizendo ou interpretando o que eu vou dizendo. É um solo acompanhado, passo a contradição”, descreveu.

O texto “parte muito” de observações que fez nos cargos que foi ocupando, mas também das mudanças que têm ocorrido no mundo.

“Agora cá estou eu do ponto de partida, sendo que não é um ponto de partida, porque entretanto sou eu mais tudo o que aconteceu”, disse.

Em “Onde é que eu ia?” “há uma circunstância que infelizmente não se pode repetir”, a presença dos Dead Combo em palco, visto que um dos elementos do duo, o contrabaixista Pedro Gonçalves, morreu no ano passado. Por isso, “desta vez não haverá músicos em palco”, só mesmo Nuno Artur Silva e António Jorge Gonçalves.