A Rússia ameaçou reavaliar a cooperação com o secretário-geral das Nações Unidos, António Guterres, se forem enviados especialistas da organização à Ucrânia para investigar os drones usados na guerra e que os países ocidentais dizem ser de fabrico iraniano.
Em declarações depois de uma reunião à porta fechada do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador adjunto russo, Dmitry Polyanskiy, pediu a Guterres e à sua equipa que se “abstenham de um envolvimento em qualquer investigação ilegítima”. “De outra forma teremos de reavaliar a nossa colaboração com eles, o que é dificilmente no interesse de alguém. Não o queremos, mas não haverá outra escolha”, afirmou, citado pela Reuters.
Polyanskiy condenou as “acusações infundadas e teorias de conspiração”, insistindo que as armas são de fabrico russo. Questionado sobre o porquê de se opor que a ONU examinasse os equipamentos, visto serem russos, respondeu que a organização não tem mandato para uma investigação como essa. Também voltou a ameaçar que a Rússia poderá decidir retirar-se do acordo do Mar Negro de exportação dos cereais ucranianos.
O Conselho de Segurança da ONU reuniu-se sobre o uso de drones iranianos pela Rússia, a pedido dos Estados Unidos, França e Reino Unido, que dizem que o seu uso é uma violação da resolução de 2015 que apoia o acordo nuclear do Irão.
Polyanskiy considera que é absurdo os EUA acusarem o Irão de violar o acordo nuclear, uma vez que partiu de uma decisão do ex-Presidente norte-americano, Donald Trump.
Nos últimos dias, a Ucrânia acusou a Rússia de usar drones kamikaze Shahed-136, de baixo custo, para atingir danos à infraestruturas de energia do país, provocando apagões massivos em todo o país.
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Os Estados Unidos disseram esta quinta-feira que têm “muitas evidências” de que a Rússia está a usar os drones iranianos para atacar o território ucraniano. “Os Estados Unidos começaram a avisar em julho que o Irão estava a planear transferir veículos aéreos não tripulados para a Rússia usar na guerra brutal contra a Ucrânia e agora temos muitos provas de que estão a ser usados para atacar civis e infraestruturas importantes”, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, citado pela CNN.
Já o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, disse que há provas de que há militares iranianos no terreno na Crimeia a fornecer assistência técnica às tropas russas para lançarem os drones.
Os relatos têm sido negados pelas autoridades russas e iranianas por várias vezes. No entanto, dois altos funcionários iranianos e dois diplomatas disseram que o Irão prometeu fornecer à Rússia mísseis terra-terra e drones.
Segundo as mesmas fontes, o envio das armas foi acordado depois de uma série de reuniões, incluindo a 6 de outubro, quando uma delegação composta pelo vice-presidente iraniano Mohammad Mokhber, dois oficiais da Guarda Revolucionária e um oficial do Conselho Supremo de Segurança Nacional viajaram até Moscovo.