“Há um farol no Mar Negro. Um farol de esperança, possibilidade, de alívio, num mundo que precisa disto mais do que nunca.” As palavras foram proferidas pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, após a assinatura dos acordos de Istambul que permitiram a exportação cereais que estavam retidos em portos ucranianos desde o início da invasão.

Agora, Moscovo ameaça romper o acordo. O embaixador russo das Nações Unidas em Genebra, Gennady Gatilov, disse, esta quinta-feira, que a Rússia enviou uma carta a António Guterres, em que diz estar pronta para não renovar o acordo vigente sobre a exportação de cereais, isto a não ser que certas circunstâncias (que não foram detalhadas) sejam cumpridas.

A Rússia apresentou a Guterres, de acordo com a Reuters, uma lista de reclamações sobre o acordo, que foi assinado a quatro partes (Turquia, Rússia, Ucrânia e ONU) no final de julho, em Istambul. Por um lado, as negociações permitiram a Kiev exportar os cereais retidos e, por outro, facilitaram a Moscovo a exportação de cereais, produtos alimentares e fertilizantes.

No entanto, a Rússia alega que a parte do acordo não está a ser cumprida e continua a enfrentar dificuldades para realizar as suas exportações. “Se não virmos nada a acontecer do lado russo do acordo — a exportação de cereais e fertilizantes — então vão ter de nos desculpar e vamos olhar para isto de uma maneira diferente”, afirmou Gennady Gatilov.

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Assegurando que a Rússia “não é contra a distribuição de cereais”, Gennady Gatilov sublinhou que o “acordo deve ser igualitário, justo e implementado por todas as partes”. Para discutir a renovação do acordo por mais um mês, uma equipa das Nações Unidas deslocar-se-á no domingo a Moscovo.

À Reuters, o porta-voz das Nações Unidas, Stephane Dujarric, garantiu que “mantém em contacto constante com os dirigentes russos, assim como os da União Europeia, os do Reino Unido e dos Estados Unidos, de forma a remover os últimos obstáculos que facilitem a exportação de cereais e fertilizantes russos”.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, acusou Moscovo de “jogar os jogos da fome ao ameaçar a iniciativa do Mar Negro”. “A Rússia está a fazer exatamente o que nós avisámos”, lamentou Dmytro Kuleba.

Enviando uma mensagem no seu Twitter “a toda a família africana e asiática”, Dmytro Kuleba garantiu que a Ucrânia “não está a fazer exigências adicionais” no que diz respeito a este acordo. “Queremos que o corredor continue aberto”, assegurou, acrescentando que é “tempo de o proteger”.

Dmytro Kuleba apelou a que todos os “Estados e organizações deixem bem claro a Moscovo” que a “chantagem deve parar”. “A Rússia não deve ser capaz de colocar milhões de pessoas em risco.”

A Rússia e a Ucrânia são um dos principais exportadores de cereais no mundo e teme-se que a crise alimentar global se agrave se o acordo acabar suspenso.