A Vodafone, que tenciona notificar a Autoridade da Concorrência da compra da Nowo em novembro, garante não ter estado nas suas intenções desta aquisição retirar um concorrente do mercado. Num encontro com jornalistas para marcar os 30 anos da operadora em Portugal (feitoa a 18 de outubro), Mário Vaz, presidente da Vodafone Portugal, garante que a base de clientes da Nowo foi o racional por detrás do negócio que, argumenta, não deverá resultar em qualquer questões regulatória e, por isso, acredita que será aprovado. “Não antecipamos complexidade nem remédios substanciais”, realçou.

No passado a Vodafone Portugal já tinha estudado a operação então denominada Cabovisão, mas a migração seria mais difícil, já que a operação desta empresa estava suportada apenas em rede de cabo. Agora, assume Máriuo Vaz, a coincidência de rede é maior, com o desenvolvimento da fibra ótica. A migração será, por isso, “mais rápida e mais fácil”.

Recusa falar em valores do negócio — embora o jornal espanhol Expansión tenha noticiado um valor à volta dos 150 milhões de euros, número que Mário Vaz recusou confirmar — mas explicou que está sob a mesa a aquisição de todos os ativos da Nowo. Aliás, é a própria empresa que detém as operações que será comprada e é por isso que o gestor da Vodafone Portugal diz que não está em causa a limitação que estava estabelecida no regulamento do leilão de 5G que determinava que as frequências não podiam ser transmitidas durante dois anos. Mário Vaz explica que não é isso que está em causa, mas sim a compra da empresa que detém as frequências. “São condições do leilão e não necessariamente de utilização futura”, realça.

Havia um conjunto de limitações associadas ao leilão. Mesmo a questão dos volumes de espetro de cada um, tudo isso são condições do leilão. Não são, necessariamente, condições de utilização futura

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De qualquer forma sobre a acumulação de mais espectro 5G — além do adquirido pela própria Vodafone — deixa nas mãos dos reguladores autorizarem. A Autoridade da Concorrência no âmbito da sua análise à operação irá questionar a Anacom, o regulador setorial, sobre a operação, cuja opinião não é vinculativa.

Mário Vaz diz também que a limitação de espectro imposta no leilão dizia respeito apenas ao momento desse procedimento. “Não consigo antecipar” a decisão dos reguladores, mas, acrescenta, “não há razão objetiva face à dimensão da Vodafone e ao impacto no mercado” para se colocar entraves à compra. “Não se altera do ponto de vista da competitividade do mercado”. A Vodafone assegura que não foi o 5G, nem a rede da Nowo, que a levou à compra, mas antes uma base de clientes de 150 mil assinantes fixos e 200 mil móveis.

“Há sinergias na aquisição da empresa”, assegura sem dar valores, nem revelar o custo de aquisição de cada cliente por via orgânica. Também refuta que esteja a comprar a Nowo apenas para tirar um operador do mercado. “A dimensão neste setor é chave, a consolidação é inevitável”. Reafirma que o mercado português comportará três operadores. Aliás, até afirma que seria se calhar mais fácil manter dois novos operadores no mercado móvel — Nowo e Digi — já que poderiam ficar mais frágeis.

15% dos clientes têm equipamentos 5G

A Vodafone tem cerca de 15% dos seus clientes já com equipamentos 5G, assegurou Mário Vaz, presidente da Vodafone, que continua a ter (para já até 15 de novembro) os tarifários 5G sem acréscimo pela tecnologia.

Mário Vaz realça a dificuldade que está a acontecer no mercado no desenvolvimento da tecnologia por questões logísticas e pela crise económica que está a levar o mercado empresarial a colocar alguns projetos em stand by.

E é por isso que a empresa já alertou para as obrigações de cobertura estabelecidas e que podem não ser fáceis de acontecer.

Vodafone “naturalmente” preocupada com preços e a “fazer gestão muito rigorosa dos impactos da inflação”

Além das questões de cadeias de abastecimento a Vodafone fala num momento difícil também ao nível de contratação de recursos humanos — não diz ainda o que vai acontecer aos cerca de 120 trabalhadores da Nowo, mas fala da dificuldade de conseguir recursos humanos para admitir que serão absorvidos — e também do aumento de custos com a energia. Os custos com esta componente na Vodafone Portugal duplicaram, disse Mário Vaz, passando de um peso nas despesas de 6/7% para cerca de 15%. E assegura que está a ser difícil fechar contratos para aquisição de eletricidade para 2023.

Mário Vaz não revela, para já, se os preços ao consumidor final vão subir em 2023, mesmo prevendo os contratos a sua atualização com base na inflação. “Não posso falar sobre eventuais aumentos”, realça.

Também garante que neste momento ainda não está a sentir-se desligamentos ou incumprimentos no mercado por causa da perda de poder de compra, dizendo que o setor acaba por sentir mais tarde, já que as telecomunicações são dos últimos serviços a serem cortados pelos consumidores em particular nos residenciais. Primeiro sente-se nas empresas, mas ainda não se está a sentir isso.

A Vodafone, que este ano foi vítima de um ciberataque que cortou os serviços, continua a escusar-se a falar do que esteve por detrás do ataque, uma vez que se encontra em segredo de justiça, mas garante que permitiu aos seus clientes comunicações grátis durante um período após o ataque para os compensar.