É uma coincidência. Mas a iniciativa da EDP de rever em forte alta os preços dos contratos de gás natural com os seus clientes a partir de outubro, acabou por ter um efeito que poucos terão antecipado. E que será positivo para as concessionárias de autoestradas e negativo para os automobilistas que no próximo ano vão ter de suportar o maior aumento das portagens deste século, pelo menos. Isto se o Governo nada fizer para o travar, já que lhe cabe a homologação das propostas das empresas.

Inflação em outubro ficou nos 10,1%. Subida de 77% do gás natural puxou pelo índice

Fruto dos aumentos de até 30 euros mensais anunciados pela EDP, e replicados com menor dimensão pelos outros comercializadores, o gás natural pago pelas famílias disparou 77,4% face a setembro e justifica mais de metade da subida mensal registada no índice de preços ao consumidor em outubro que apanhou de surpresa alguns. Para uma variação mensal de 0,8 pontos percentuais face ao mês anterior foi determinante o contributo de 0,5 pontos percentuais que veio do preço do gás natural que foi responsável por mais de metade da aceleração verificada de setembro para outubro, confirmou o Vítor Mendonça, diretor de estatísticas de preços do INE numa sessão informativa para jornalistas.

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Na comparação com janeiro, o peso do gás natural para aceleração da taxa de variação homóloga de preços foi de 0,7 pontos percentuais.

Ainda que a inflação trave nos próximos meses, como está a acontecer já em alguns países europeus, o salto de outubro alimentado pelo gás natural terá repercussões na subida da maioria das portagens. Uma vez que a inflação homóloga registada neste mês, excluindo a habitação, é a usada para a atualização anual das taxas de portagem na generalidade dos contratos de concessão. A exceção é a Lusoponte, cujo mês de referência é setembro, no qual a inflação subiu “apenas” 9,3%. Já o Índice de Preços ao Consumidor sem habitação que serve de referência no contrato da Brisa fixou-se nos 10.44% em outubro.

Na mesma sessão, os responsáveis do Instituto Nacional de Estatística indicaram que não é possível antecipar se esse efeito perderá força em novembro. À medida que mais clientes mudem do mercado liberalizado — onde se verificaram os aumentos acentuados do preço — para a tarifa regulada, onde a atualização foi de apenas 3,9%, isso irá contribuir para baixar o preço médio do gás, pelo que o efeito desse aumento será mais diminuto, admitiu Pedro Oliveira, diretor das contas nacionais do INE.

Mas para já, o universo de consumidores que fizeram essa troca — 70 mil até meados de outubro e 104 mil, de acordo com os dados divulgados esta semana pelo ministro do Ambiente, ainda é pouco significativo num universo total de clientes de gás natural de 1,5 milhões.

A possibilidade de regresso à tarifa regulada por um ano para clientes domésticos e pequenos negócios está em vigor desde outubro e foi a medida política anunciada pelo Governo para conter o impacto dos aumentos anunciados pelas comercializadoras e que refletem os recordes na cotação do gás nos mercados internacionais, na sequência da guerra na Ucrânia.