A Polícia de Segurança Pública (PSP) garantiu que “apenas foi utilizada a força estritamente necessária” para deter quatro ativistas climáticos que desde segunda-feira ocupavam a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Num comunicado, o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP sublinhou que a detenção dos ativistas, “por desobediência à ordem de dispersão”, “foi objeto de amplas filmagens por parte dos visados”.
A porta-voz do movimento “Fim ao Fóssil: Ocupa!”, Alice Gato, tinha dito à Lusa ter ficado “desiludida com os órgãos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa por terem utilizado brutalidade policial” com os quatro ativistas detidos.
Os ativistas “estavam a protestar desde segunda-feira de uma forma pacífica com reivindicações super justas (…) e depois a direção da Faculdade de Letras decide arrancá-los de lá. Eles estavam colados ao chão e retiraram-lhes as mãos sem qualquer precaução”, acusou.
No comunicado, a PSP confirmou que a 2.ª Divisão Policial foi chamada ao local, “a pedido da Direção da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa”, porque a permanência dos ativistas estava a colocar “em causa a liberdade de circulação e ensino”.
Os alunos em protesto tinham-se reunido na noite de sexta-feira com a direção da faculdade, mas, segundo Alice Gato, da reunião não resultou qualquer entendimento.
Os ativistas climáticos que desde segunda-feira ocupam a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa começaram a sair da instalação académica às 23:40 de sexta-feira, constatou a Lusa no local.
A PSP confirmou que, “após longas horas de conversação com os visados, logrou obter, já cerca das 23:00, o abandono voluntário de grande parte do grupo”.
No total saíram nove membros do movimento estudantil “Fim ao Fóssil: Ocupa!”, tendo ficado quatro. Segundo a PSP, os quatro jovens, entre os 19 e 24 anos, “encontravam-se ligados entre si através de tubos de PVC e mosquetões e com as mãos coladas ao solo”.
Depois de retirados da faculdade, os detidos “foram conduzidos à esquadra dos Olivais, tendo, após cumprimento das formalidades processuais, sido libertados e notificados para comparência no dia 14 de novembro, na Instância Local Criminal de Lisboa — Secção de Pequena Criminalidade”, disse a PSP.
Alice Gato disse que “a semana foi surpreendente” e que “os estudantes demonstraram a sua força e a sua determinação” num combate por um futuro melhor.
“Não estamos sozinhos nesta luta e vamos continuar a crescer”, salientou.
Atualmente, encontram-se ocupados quatro estabelecimentos de ensino.
De acordo com Alice Gato, as instituições ainda ocupadas são a Faculdade de Ciências, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, a Escola Artística António Arroio e o Liceu Camões, em Lisboa.
No início da noite de sexta-feira, Alice Gato, porta-voz do movimento, organizado nomeadamente pela Greve Climática Estudantil, e integrado no movimento internacional “End Fossil: Occupy!”, disse que na escola António Arroio, onde nos últimos dois dias não houve aulas devido à “ocupação”, estão e vão permanecer cerca de 50 alunos.
Outros tantos, disse, estão no Liceu Camões, onde vão ficar também durante todo o fim de semana.
Na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, os estudantes estiveram dentro das instalações, num espaço cedido pela própria faculdade e onde organizaram mesmo uma “cantina vegan”, mas foram desalojados e estão agora no exterior, no jardim, onde tencionam passar o fim de semana também.
A responsável disse que os alunos já foram ameaçados de expulsão, mesmo do jardim.
Sempre dizendo que as ocupações são para continuar, Alice Gato acrescentou que na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas os alunos, que hoje fizeram ações de sensibilização dirigidas aos restantes alunos, também vão permanecer todo o fim de semana.
O protesto terminou no Instituto Superior Técnico, porque os alunos foram forçados a sair, com alguns deles a integrarem ações noutros estabelecimentos de ensino.
Os estudantes reivindicam principalmente o fim dos combustíveis fósseis até 2030 e a demissão do ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, por, dizem, não ter preconceitos em relação a projetos de exploração de gás e por ser, até recentemente, presidente do Conselho de Administração de uma petrolífera.
As ocupações, que começaram na segunda-feira e que não têm data para terminar, coincidem com a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), que decorre desde domingo em Sharm el-Sheikh, no Egito, até ao próximo dia 18.