O ministro da Educação destacou esta segunda-feira o papel da arte e da literatura nas “grandes conquistas” do mundo e agradeceu aos estudantes que escolheram Humanidades, defendendo que, ao lado de escritores e artistas, também serão garantes da democracia.

“As grandes conquistas da humanidade não se fizeram com cálculos financeiros”, referiu João Costa, para logo a seguir acrescentar: “Precisamos mesmo dos humanistas e de quem estude humanidades para não deixarmos o mundo nas mãos de quem para tudo faz contas e de quem para tudo desumaniza”.

“Uma desumanização que acontece, desde logo quando a arte, a literatura e a poesia estão ausentes”, sustentou.

O ministro da Educação discursava na cerimónia de entrega do Prémio José Saramago, este ano entregue ao escritor brasileiro Rafael Galo, pelo romance “Dor fantasma”, que será publicado em Portugal pela Porto Editora.

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Escritor brasileiro Rafael Gallo vence Prémio Literário José Saramago 2022

As principais felicitações foram para o vencedor do prémio, que João Costa já conhecia pela obra “Réveillon” e disse estar “desejante de ler” o livro agora premiado.

Perante uma plateia composta por nomes das artes e da cultura, mas sobretudo por centenas de estudantes de várias escolas de ensino secundário, João Costa parabenizou também os alunos de Humanidades pela escolha muitas vezes incompreendida e questionada.

A escolha das humanidades não precisa de justificação, da mesma maneira que a escolha pela poesia, pela literatura e pela arte não precisa de justificação. (…) Elas são e, por serem, fazem-nos melhores”, afirmou.

Por outro lado, o ministro acrescentou que o papel das artes e das humanidades não se esgotou nas grandes conquistas do passado, mas é hoje tão importante na sua garantia.

“Vivemos tempos estranhos, tempos de polarizações, de radicalismos e de discursos fáceis”, disse o governante, sublinhando que a história também mostrou que “quem tem medo da democracia e da liberdade, tem medo dos escritores, dos poetas, da palavra e da arte”.

E é por esse motivo que João Costa considerou que os artistas, neste caso os escritores, e os humanistas são “o garante da liberdade e da democracia”.

“Os populistas são aqueles que encontram respostas simples para problemas complexos. A literatura traz-nos a complexidade para aquilo que, à primeira vista, até parece simples”, concluiu, sob o som dos aplausos que enchia o Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

E dirigindo-se aos estudantes presentes, deixou a missão: “Têm de ser os embaixadores da leitura, os guardiões da democracia e os promotores do conhecimento livre e dos direitos humanos”.

O Prémio José Saramago foi instituído em 1999 e tem uma periodicidade bienal, pelo que a última edição deveria ter-se realizado em 2021, o que não aconteceu devido à pandemia, obrigando ao adiamento para 2022.

A edição deste ano teve como jurados os escritores e anteriores premiados José Luís Peixoto, Gonçalo M. Tavares, João Tordo e Bruno Vieira Amaral, além de Pilar del Rio, presidente da Fundação José Saramago, Guilhermina Gomes, em representação da Fundação Círculo de Leitores e Presidente do Júri, e a escritora brasileira Nélida Piñon, membro honorário.

O Prémio Literário José Saramago foi instituído para celebrar a atribuição do Prémio Nobel da Literatura de 1998 ao autor de “Memorial do Convento”, visando jovens autores, cuja primeira edição tivesse sido publicada num país da lusofonia.

Segundo a organização, foram apresentadas “centenas de candidaturas” a esta 12.ª edição do prémio.

O Prémio José Saramago distinguiu nas edições anteriores, além dos nomes que fizeram parte do júri desta edição, os escritores Paulo José Miranda, Adriana Lisboa, Valter Hugo Mãe, Andréa del Fuego, Ondjaki, Julián Fuks e Afonso Reis Cabral, o último distinguido, em 2019, com o romance “Pão de Açúcar”.