O som da marreta é grave. Ouve-se com insistência, uma e outra vez, enquanto a marreta esmaga a cabeça de Yevgeny Nuzhin. O vídeo, que mostra toda a execução do russo, foi publicado no Telegram pelo Grey Zone, site ligado ao Grupo Wagner, o batalhão de mercenários que atua do lado russo na guerra da Ucrânia. “Punição de um traidor” é como a execução é apresentada.

Yevgeny Nuzhin estava detido numa prisão russa. Tal como muitos outros prisioneiros foi recrutado pelo Grupo Wagner para ir para a frente da batalha. Quando se alistou, Yevgeny já sabia o que pretendia fazer: entregar-se às forças ucranianas e, se possível, lutar contra o exército russo. O próprio contou a sua história durante uma entrevista a um órgão de comunicação social ucraniano.

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No vídeo publicado no Telegram essa parte da sua história é relembrada, com imagens de Yevgeny Nuzhin a falar com a jornalista ucraniana. Nessa entrevista, conta como os prisioneiros estão a ser mobilizados para o exército russo e de como ele próprio estava disponível para se juntar às forças ucranianas.

A seguir, o mesmo homem aparece vestido com um uniforme militar ucraniano. A sua cabeça está colada a uma bigorna que parece feita de pedra. Está vivo e diz as suas últimas palavras. “Chamo-me Yevgeny Nuzhin, e nasci em 1967.” A seguir, segundo os relatos dos jornais Pravda Ucrânia e Meduza, afirma que a 4 de setembro foi para a Ucrânia lutar contra os russos. A seguir, a marreta cai sobre a sua cabeça. Várias vezes. O vídeo termina.

Yevgeny Prigozhin, o magnata russo que criou o Grupo Wagner, reagiu ao vídeo também no Telegram: “Um excelente trabalho de diretor.” Prigozhin, que tem ganhado cada vez mais notoriedade entre a elite do Kremlin, escreve ainda que no vídeo “fica claro que Nuzhin não encontrou a felicidade”.

A imprensa ucraniana não detalha como é que o prisioneiro regressou às mãos do Grupo Wagner, mas assume que pode ter acontecido durante uma troca de prisioneiros de guerra.

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Pena de 24 anos por matar um homem

Na entrevista que deu à imprensa ucraniana, Yevgeny Prigozhin conta que foi detido em 1999 depois de ter matado um homem a tiro. À sua pena somaram-se mais 4 anos, depois de ter tentado escapar. Foi durante uma visita de Prigozhin à cadeia onde estava que decidiu juntar-se ao Grupo Wagner, já que lhe prometeram perdão de pena.

Depois de fazer treino militar em Lugansk, entre agosto e setembro passado, acabou por ir para a frente, segundo contou. Os prisioneiros eram “carne para canhão”: se não cumprissem o que era esperado de si “eram anulados”, ou seja, executados, contou Nuzhin.

A 4 de setembro Yevgeny Nuzhin rendeu-se. Queria lutar pela Ucrânia. “Porque não foi a Ucrânia que atacou a Rússia. E Putin atacou a Ucrânia. E os meus familiares moram aqui. O meu tio está na região de Ivano-Frankivsk e a minha irmã está em Lvov.”

O que aconteceu depois não é certo. No vídeo que termina com a frase “liquidado”, Nuzhin descreve as últimas recordações: “Estava a andar pela rua em Kiev quando recebi um golpe na cabeça, e perdi a consciência. Acordei neste porão, onde me disseram que seria julgado.” Na mensagem que acompanha a execução lê-se que “o traidor recebeu a tradicional punição wagneriana”.