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Maxim foi arrastado pelos russos para a cave de uma estação da polícia em Kherson no início de março. A cidade estava sob controlo das forças russas desde os primeiros dias da invasão e ex-soldados como ele eram os principais alvos, mas não os únicos. Desde que as forças ucranianas recuperaram, na última semana, o controlo da cidade, foram descobertas várias câmaras de tortura. Num primeiro dia de investigação foram encontrados 11 centros de detenção, incluindo quatro locais usados para prender e torturar civis.

Na rua Teploenerhetykiv, os russos tomaram controlo da esquadra local. Foi lá que, durante três semanas, Maxim foi interrogado, espancado e eletrocutado. “Torturaram-nos porque pensavam que estávamos a passar informações sobre os movimentos das tropas russas aos militares ucranianos“, contou numa entrevista ao The Telegraph. Os captores prendiam ex-combatentes ucranianos, mas também todos aqueles que suspeitavam ser contra a liderança russa na cidade, seguindo, em parte, as ordens dos superiores, mas agindo também por “ódio”.

Os nossos captores estavam, em parte, a seguir ordens, mas também pareciam estar a agir por ódio.”

A 11 de novembro, depois de oito meses de ocupação, as tropas russas saíam de Kherson sem luta, sem resistência, e as celebrações tomavam as ruas. Os soldados ucranianos eram recebidos em ambiente de festa num dia que o Presidente Volodymyr Zelensky descreveu como “histórico”. Nos dias seguintes começava o trabalho: repor a eletricidade e água nos territórios desocupados, detetar a presença de minas e armadilhas deixadas para trás e recolher as provas de todos os crimes cometidos.

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“É nosso.” Ucranianos regressam a Kherson e a festa toma conta das ruas

A escala de tortura em Kherson é “horrível”, descreveu um político local à AFP: “Nunca vi nada a esta escala antes”. Segundo Dmytro Lubynets, foram descobertas várias câmaras de tortura onde dezenas de pessoas eram eletrocutadas, espancadas com canos de metal e, “depois disso, eram mortas”. “Este é o sistema construído pela Federação Russa”, sublinhou.

As autoridades continuam a investigar e é esperado que mais locais destes vão sendo descobertos. Esta quinta-feira, o ministro do Interior ucraniano, Denys Monastyrsky, revelou que uma equipa de investigadores descobriu em Kherson 63 corpos com sinais de tortura. “As buscas acabaram de começar, há muitas mais masmorras e locais de enterros para descobrir”, afirmou, citado pelo The Guardian.

Parece que [os militares russos] obtêm alguma satisfação quando matam e torturam os nossos cidadãos”, afirmou.

Na quinta-feira, o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) divulgava a descoberta de uma câmara de tortura na cidade, onde foram encontrados “objetos que indicam diretamente sinais de tortura”. Os residentes de Kherson foram brutalmente interrogados e torturados”, diz o SBU.

Enterros em massa e câmaras de tortura descobertas em Kherson

Jornalistas do New York Times estiveram presentes num destes locais enquanto investigadores ucranianos recolhiam provas dos abusos e tortura. Nas paredes era possível observar desenhos, datas e nomes gravados nas paredes. Numa das divisões alguém desenhou a forma de uma casa e noutra alguém escreveu a palavra “liberdade”.

“Estamos a tentar recolher o máximo de evidências possível para abrir os processos criminais”, disse numa conferência de imprensa Mary Okopyan, vice-ministra do Interior. As autoridades detiveram três categorias de civis: pessoas que suspeitavam pertencer a grupos de resistência pró-ucranianos; familiares de soldados ucranianos; funcionários do governo que recusaram trabalhar na administração pró-russa instalada durante a ocupação. Até agora os procuradores já recolheram testemunhos de mais de 800 detenções.