Há três meses que os confrontos no Irão, que exigem a queda da República Islâmica, aumentaram de intensidade. Esta sexta-feira, os manifestantes atacaram o coração do regime, ao incendiar a casa do Aiatolá Khomenei. Os vídeos circulam nas redes sociais e a imprensa iraniana dá conta do sucedido, embora Teerão negue os acontecimentos. David Patrikarakos, jornalista que escreveu um livro sobre o Irão e tem ascendência iraniana, considerou que este foi um ataque “à essência do regime”.

Já o Iran Internacional escreve que “o ato de desafio sem precedentes tornou-se uma sensação nas redes sociais persas, com dezenas de milhares de pessoas a assistir e a partilhar o vídeo do incidente”. Desde o início dos confrontos, 5 manifestantes já foram condenados à morte.

Nas sermões das orações de sexta-feira — um dos momentos mais importantes de adoração a Deus no Islão — Ahmad Khatami, clérigo xiita iraniano, e membro do Conselho dos Guardiões, chamou aos manifestantes “assassinos”, “inimigos de Deus”, e reforçou a ideia de que quem protesta deve ser condenado à morte.

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Khomeini é o pai da revolução de 1979, altura em que foi fundada a República Islâmica do Irão. Nessa altura, foi criado o cargo de Líder Supremo, título que pertenceu a Khomeini até à sua morte em 1989. Foi sucedido por Ali Khamenei que se mantém no poder até hoje.

A casa de Khomeini, na província de Markazi, foi transformada em museu há 30 anos, depois da morte do aiatolá. Nos vídeos publicados, embora não se vejam pormenores do acidente, percebem-se as chamas e vê-se o edifício parcialmente a arder. O ataque aconteceu quinta-feira à noite.

As agências internacionais AFP e Reuters confirmaram a notícia.

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Os protestos contra a República Islâmica aumentaram de intensidade em setembro. A morte de Mahsa Amini no hospital, jovem detida pela chamada polícia da moral por uso incorreto do véu islâmico, foi o gatilho para que cada vez mais iranianos protestem contra o regime de Teerão.

Um total de 227 membros do parlamento iraniano (num total de 290) apelaram ao poder judicial que condene os manifestantes à morte, por considerá-los inimigos de Deus.

As condenações à morte já começaram a acontecer. Segundo a Human Rights Activists News Agency, cinco manifestantes receberam a pena capital e outros 9 estão acusados de crimes que que podem ser punidos com a pena capital.

Além do ataque ao museu de Khomenei, o Iran Internacional dá conta de que também um seminário na cidade religiosa de Qom, perto de Teerão, foi atacado e incendiado. Os protestos, durante a madrugada, multiplicaram-se por todo o país. Em Bukan, foi incendiado um escritório do ministério da justiça e, em Rasht, o escritório de um membro do parlamento.

Várias organizações internacionais têm feito o balanço das mortes ocorridas durante os protestos no Irão. Uma delas, a Human Rights Activists News Agency (HRANA), sediada nos Estados Unidos, tem publicado no Twitter relatórios diários, com dados não confirmados pelas autoridades do Irão.

A 18 de novembro, a organização dava conta de 381 manifestantes mortos durante os protestos, entre eles, 57 crianças. Além disso, já foram detidas 16.088 pessoas, segundo as contas da HRANA.