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A primeira-dama ucraniana voltou a chamar a atenção para a violência sexual perpetrada pelas forças russas. Numa intervenção esta segunda-feira na Conferência sobre a Prevenção da Violência Sexual em Conflitos, que decorreu em Londres, Olena Zelenska afirmou que o Kremlin está a patrocinar crimes sexuais em território ucraniano.

É mais um instrumento que [as forças russas] estão usar como arma. É mais uma arma no arsenal deles nesta guerra. É por isso que a estão a usar sistemática e abertamente”, disse a mulher de Volodymyr Zelensky na conferência, em declarações citadas pela Sky News.

As acusações de Zelenska não são recentes — desde o início de conflito que se têm multiplicado os alertas e acusações que apontam para indícios de crimes sexuais sistemáticos por parte das forças russas. Recentemenete, a própria ONU chamou à atenção para aquilo que descreveu como “uma estratégia militar” deliberada por parte da Rússia.

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ONU acusa Rússia de usar violações na Ucrânia como estratégia deliberada

Na sua declaração, a primeira-dama da Ucrânia vai mais longe, dizendo mesmo que o tema é tratado “abertamente” no seio das forças russas e que as próprias mulheres dos militares os encorajam a cometer as violações.

As mulheres deste militares encorajam-nos, dizendo-lhes ‘Vai, viola essas mulheres ucranianas, peço só que não mo digas, não me contes’”, afirmou Zelenska.

Descrevendo a violência sexual como “a forma mais cruel e animalesca de exercer controlo sobre outra pessoa”, Olena Zelenska sublinhou a importância de reconhecer os atos como crimes de guerra e de trazer os responsáveis à justiça.

Mais de 40 casos de violência sexual são “ponta do icebergue”, diz Olena Zelenska

Ilustrando a severidade do problema, Olena Zelenska afirmou que a justiça ucraniana já iniciou mais de 40 processos criminais por violência sexual cometidos durante a invasão russa iniciada em fevereiro, mas que isto é apenas “a ponta do icebergue“.

“Mais de 40 processos criminais sobre violência sexual cometida durante a guerra em larga escala iniciada pelos russos” já foram iniciados, acrescentou a mulher do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, admitindo que “o número real é muito mais alto, e agora estabelecer o número é impossível porque ninguém que enfrentou estes crimes horríveis quer denunciar. (…) Infelizmente, as sobreviventes permanecem muitas vezes em silêncio. Mas quando estiverem prontas para falar, temos de assegurar de que têm acesso a assistência jurídica profissional gratuita e a qualquer tipo de apoio de que possam necessitar”, defendeu.

“É a arma mais barata que o homem conhece.” A violação está a ser usada como arma de guerra na Ucrânia?

A primeira-dama elogiou a atuação da Procuradoria-Geral da Justiça da Ucrânia, que está a fazer “um excelente trabalho na coordenação já da investigação deste tipo de crimes

Olena Zelenska disse estar a ser preparado, em cooperação com o Fundo Mundial de Sobreviventes, um programa provisório para garantir a compensação das vítimas a longo prazo.

“Esta é uma mensagem para todos os russos: vocês vão pagar durante anos por cada pessoa que tenha sido sujeita a estes crimes”, garantiu.

A primeira-dama ucraniana falava na abertura da conferência, que reune representantes de cerca de 70 países neste dia e terça-feira na capital britânica para discutir formas de combater este tipo de crimes em países como a Ucrânia, Etiópia ou Colômbia.

A prémio Nobel da Paz de 2018, Nadia Murad, iraquiana que foi escrava sexual do grupo terrorista Estado Islâmico (EI), afirmou que “a resposta internacional não tem sido adequada” e que a comunidade internacional não deu prioridade à violência sexual.

“Por vezes parece mais fácil falar das limitações da política e dos recursos em vez de nos concentrarmos no que podemos fazer. E acredito que a comunidade internacional pode fazer mais“, declarou.

O procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, admitiu ser necessário “encontrar formas de falar menos e fazer mais”.

“Os crimes sexuais baseados no género não são apenas alegações de violação ou violência sexual, não apenas contra raparigas e mulheres e rapazes e homens, mas abrangem uma variedade de crimes, incluindo a perseguição do género. Estamos a tentar tirar as políticas do papel e implementá-las no TPI de forma mais eficaz”, garantiu.

Na abertura da conferência, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, James Cleverly, anunciou um novo pacote de financiamento de até 12,5 milhões de libras (14,5 milhões de euros) para ajudar vítimas a ajudar vítimas de violência sexual a processar os responsáveis.

O Reino Unido vai também dar separadamente 3,45 milhões de libras (quatro milhões de euros) para o Fundo de População da ONU, destinado a combater a Violência Baseada no Género na Ucrânia.