Os portugueses retidos no Peru estão “em segurança” e a ser acompanhados em “permanência” pelo Governo português, numa altura em que sobe o número de mortos nos protestos nas ruas peruanas e em que o país entra em estado de emergência, já com aeroportos fechados (Alejandro Velasco Astete, em Cusco, Alfredo Rodríguez Ballón, Arequipa, e Alfredo Mendívil Duarte, em Ayacucho) e e outros com acesso limitado, avança a imprensa peruana. A embaixada de Portugal no Peru já veio, de resto, desaconselhar deslocações no interior do país, lembrando que o poder das autoridades nas zonas mais remotas “é frágil”.

Francisco Rodrigues dos Santos, um dos jovens portugueses que se encontra no Peru, revelou à Rádio Observador que Marcelo Rebelo de Sousa o contactou esta quinta-feira de manhã. Segundo Francisco Rodrigues dos Santos, o Presidente português estabeleceu contactos com a Embaixada de Portugal no Peru e falou com várias entidades da União Europeia para que os cidadãos europeus possam voltar aos respetivos países.

Fonte oficial da Presidência da República confirmou à Rádio Observador que o Marcelo Rebelo de Sousa contactou o jovem, que informou o grupo. Entretanto, foi publicada uma nota no site da Presidência com a mesma informação.

O jovem disse que o grupo foi contactado esta quarta-feira pelo embaixador português em Lima, que prometeu esforços redobrados, incluindo no repatriamento. Francisco Rodrigues dos Santos afirmou que tanto ele como os outros estudantes portugueses de Medicina não falaram diretamente com o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, e que este apenas falou com os pais de alguns deles.

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Questionado pelo Observador, fonte oficial do ministério dos Negócios Estrangeiros garantiu que o Executivo está a acompanhar a situação “desde o início” através da embaixada de Portugal em Lima, “na sequência da situação de instabilidade política que se vive no país”.

Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros informou que “tem conhecimento de 40 cidadãos portugueses, que se encontram nas regiões de Cusco, Arequipa e Águas Calientes (Machu Pichu), retidos devido ao encerramento dos aeroportos e vias ferroviárias.” O Governo garantiu agora que a embaixada tem estado ocupada a realizar “todas as diligências possíveis” junto das autoridades peruanas e tem mantido contacto com os portugueses e as suas famílias “tendo em visto a sua saída em segurança do país”.

Mas não estará a fazê-lo de forma isolada: “Uma vez que existem outros cidadãos comunitários no Peru, em idêntica situação, está em curso a articulação com os representantes diplomáticos dos demais países da União Europeia no Peru, bem como com o Delegado da União Europeia”, esclareceu o Executivo.

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Na mesma resposta, o Governo assegurou ainda que os portugueses que estão no Peru neste momento estão “em segurança” e continuarão a ser acompanhados “até à reabertura dos aeroportos, para poderem viajar e sair do país de forma segura. O MNE continuará a acompanhar e a prestar todo o apoio necessário”.

“Capacidade de intervenção é limitada”, alerta embaixada

Já a embaixada de Portugal no Peru veio desaconselhar deslocações no interior do país devido à presente instabilidade política que “gera conflitos sociais” alertando sobre as dificuldades de intervenção nas zonas mais remotas.

“O poder das autoridades centrais nas zonas mais remotas é frágil, pelo que a capacidade de intervenção é limitada”, indicou a embaixada de Portugal em Lima, através do portal diplomático.

A mesma nota, referindo-se à “presente instabilidade política”, “desencoraja” a realização de viagens não essenciais, em particular por via rodoviária porque os bloqueios de estrada são frequentes.  “Caso se veja forçado a viajar, deve fazer-se acompanhar dos seus documentos e prever água e comida para eventuais distúrbios (como cortes de estrada ou manifestações, que podem bloquear a circulação por muitas horas)”, indica o aviso.

Esta quarta-feira, a mãe de um dos jovens portugueses retidos no Peru confirmava à Lusa que serão sete os jovens que estão, neste momento, num hotel na segunda maior cidade do Peru, em Arequipa. “Seguiam num autocarro onde ficaram durante 50 horas porque as estradas foram cortadas por manifestantes”, disse à Lusa Paula Rodrigues.

Estes jovens, que são colegas do curso de Medicina da Universidade de Coimbra, estavam a fazer uma viagem de duas semanas entre Brasil e Peru para comemorar o fim do curso. Tinham viagem de regresso marcado para esta quarta-feira às 16h30, mas encontram-se assim num hotel a cerca de 1.200 quilómetros de Lima, capital do Peru.

Os protestos no país têm-se intensificado nos últimos dias, tendo já feito oito mortos. Continua neste momento o bloqueio das estradas pelos manifestantes, assim como a ocupação do segundo maior aeroporto do país, o de Arequipa.

Os protestos, que arrancaram como resposta à destituição e detenção do até aqui Presidente do Peru, Pedro Castillo, acusado de promover um golpe de Estado, não acalmaram com as garantias da nova Presidente, Dina Boluarte, de que convocará eleições em breve (falou primeiro em 2026, depois 2024 e agora já se coloca a hipótese de organizar eleições em 2023). Entretanto, o novo governo anunciou que declarará o estado de emergência por 30 dias no país, condicionando a circulação no Peru durante o próximo mês e colocando em uma ordem de recolher obrigatório.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros informa que em contexto de dificuldades, os cidadãos portugueses no Peru devem sinalizar o caso através dos contactos: gec@mne.pt; lima@mne.pt ou pelos telefones + 351 217 929 714 e + 351 961 706 472.