Se uma declaração política de Dmitry Medvedev, antigo presidente russo, ilustra bem a importância do sistema Patriot na guerra da Ucrânia, os memes que correm as redes sociais resumem ainda melhor a irritação russa. No Twitter, uma fotografia do Presidente russo é acompanhada de uma mensagem irónica: “Putin diz que a entrega do sistema de defesa antimísseis Patriot à Ucrânia violaria grosseiramente o direito da Rússia de bombardear pacificamente seu vizinho.” É uma forma bastante resumida de explicar o que o complexo sistema faz, mas, no final, o objetivo do Patriot é impedir a Rússia de bombardear os céus da Ucrânia.
Esta quarta-feira, 21 de dezembro, o Presidente ucraniano está em Washington. Da sua primeira viagem diplomática (desde que a guerra estalou), Zelensky levará um presente norte-americano precioso no regresso à Ucrânia: os desejados Patriot, que prometem defender Kiev de todo o tipo de ataques russos.
O que é o Patriot?
O nome completo é MIM-104 Patriot e é um sistema de mísseis guiados terra-ar. Traduzindo: é um míssil capaz de atingir um alvo em pleno voo, que tenha sido disparado da terra ou do mar. São sistemas usados essencialmente para defesa, para intercetar ataques aéreos. Abatem aeronaves, mísseis balísticos de curto alcance, mísseis cruzeiro e até drones que podem estar a uma distância de 160 quilómetros — são, por isso, considerados de longo alcance.
São assim tão importantes?
“Tudo aquilo que a Ucrânia puder ter para se defender é positivo”, garante ao Observador Luis Tomé, professor da Universidade Autónoma de Lisboa, onde é diretor do Departamento de Relações Internacionais. A Rússia tem usado o seu domínio do espaço aéreo, recorda o especialista em Relações Internacionais, para atacar todo o tipo de edifícios. “Uma das estratégias tem sido atacar infraestruturas energéticas para quebrar o ânimo de ucranianos”, recorda.
Por outro lado, “a Rússia prepara uma grande ofensiva” e, por isso, Luis Tomé considera que, mesmo que a Ucrânia tenha só um sistema Patriot, já será positivo.
Mas fazem falta a Kiev? Eles não têm já sistemas de defesa?
O major-general Arnaut Moreira defende que o que faz falta à Ucrânia é a capacidade de intervenção a longa distância. “Eles têm sistemas muito bons para áreas reduzidas, têm capacidade de ver longe, mas não de abater o que detetam. Com estes sistemas podem atingir alvos até 160 quilómetros de distância”, explica ao Observador.
“São mais uma camada de segurança. Podem evitar que os mísseis caiam nas cidades e, mesmo que falhem o alvo nas longas distâncias, ainda há a capacidade de intercetá-lo mais de perto”, esclarece.
O que é que a Rússia acha disto?
Ainda antes de estar confirmado que o sistema de defesa seria entregue à Ucrânia, a Rússia reagiu pela voz de Dmitry Medvedev, antigo Presidente russo. “Se, como Stoltenberg insinuou, a NATO fornecesse aos fanáticos ucranianos sistemas Patriot, juntamente com os países da NATO, tornar-se-iam imediatamente um alvo legítimo das nossas forças armadas”, escreveu no Telegram.
Esse é um alerta que deixa também Luis Tomé. Ao receber o Patriot, a Ucrânia corre o risco de que a Rússia encare esta situação como uma escalada, já que considera que o sistema é um alvo militar legítimo. “É muito credível que quando estiverem a ser movidos, a Rússia os tente atacar.”
Medvedev avisa NATO contra envio de sistemas de defesa antiaéreos Patriot à Ucrânia
Quantos sistemas vão ser oferecidos pelos Estados Unidos à Ucrânia?
Será oferecida uma bateria Patriot que tem até 8 lançadores. Cada um dos lançadores dispara entre 4 a 16 mísseis, dependendo da munição usada. Durante a visita de Zelensky, os Estados Unidos vão anunciar novas ajudas à Ucrânia que incluem um pacote financeiro de cerca de mil milhões de dólares (942 milhões de euros) em armas, onde estará incluído o sistema de defesa antimísseis Patriot, e ainda 800 milhões de dólares (753 milhões de euros) em financiamento.
“Depois deste sistema podem vir outros”, acredita Luis Tomé. “Se houver vários espalhados pelo território ucraniano, isso irá dificultar a vida da Rússia.
Zelensky vai levá-los consigo quando voltar ao seu país?
Não. O sistema não irá na bagagem de volta do Presidente ucraniano. “O que se passa neste tipo de situação é que a entrega só é anunciada quando o armamento já está na Ucrânia”, diz o major-general Arnaut Moreira. E este, explica, não é o tipo de armamento que possa ficar guardado num armazém.
“O sistema tem de estar a funcionar, as equipas que o vão operar têm de estar preparadas. Não se vai correr o risco de estar ali parado e ser abatido”, argumenta o militar português. “Quando disserem que o entregam em janeiro, por exemplo, é porque já chegou lá.”
Mas são precisas muitas pessoas para pô-lo a funcionar?
Bastantes. Para uma bateria típica, “são cerca de 80, 90 operadores e demora algum tempo até que as pessoas estejam treinadas para usar um sistema tão complexo quanto este”, frisa o major-general Arnaut Moreira. O treino dos militares ucranianos deverá acontecer numa base na Alemanha.
Há quanto tempo existe o Patriot?
Foi usado pela primeira vez nos anos 1980, desenvolvido pela Raytheon, um conglomerado aeroespacial e de defesa. Em cenário de guerra, estreou-se na Guerra do Golfo e era usado para abater scud iraquianos. Deste então, tem sofrido várias modificações.
Qual o seu custo?
A bateria — atualmente em uso em 16 países — está avaliada em cerca de mil milhões de dólares (942 milhões de euros), mas cada míssil usado custará vários milhões de dólares.