Há quem lhe chame “o vale da morte”. Ou “o caminho das pedras”. O período de tempo entre a validação científica de uma ideia e o momento em que ela pode ter aplicação prática para salvar vidas, para melhorar a qualidade de vida ou para mudar a nossa vida para sempre.

No caso da investigação em saúde, falamos do período em que é necessário provar a um fabricante de equipamento hospitalar ou a um grande laboratório farmacêutico que determinado cateter, determinada molécula ou determinado microsensor pode ser um bom negócio e vale mesmo a pena investir na continuação daquela investigação. A ideia pode ser espetacular, o projeto pode ser incrível, a invenção pode ser brilhante. mas se não se conseguir evidenciar o potencial comercial, dificilmente se consegue o financiamento necessário para ensaios clínicos, testes de toxicidade, etc.

Por isso é preciso dar aos cientistas ferramentas para conseguirem, eles próprios, “vender” uma ideia. Prepará-los para, além do trabalho de bancada no laboratório (que dominam), poderem provar do ponto de vista económico e empresarial que este ou aquele projeto merece o investimento (uma área que não é, de todo, aquela em que se movimentam com mais à vontade). As universidades e centros de investigação têm departamentos criados para isso, mas nada como serem os próprios investigadores a ter algumas luzes sobre modelos de negócio e assim trabalharem melhor com essas áreas.

Para percebermos um pouco melhor do que falamos quando falamos de transferência de tecnologia, o Observador convidou três jovens cientistas portugueses para um debate sobre o tema. Paula Parreira, Inês Mendes Pinto e Diogo Magalhães e Silva juntam-se ao jornalista Paulo Farinha para uma conversa sobre este desafio de levar a investigação para o mercado (a partir das 17h00 do dia 29 de dezembro).

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Paula Parreira é licenciada em Microbiologia, doutorou-se em Engenharia Biomédica e passou pela Universidade do Illinois, nos EUA, e pelo Instituto Nacional de Engenharia Biomédica, atual i3S, Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, onde desenvolve trabalho sobre nanopartículas para controlar a Helicobacter pilory, a bactéria que é a principal causa de cancro do estômago.

Inês Mendes Pinto é também investigadora principal do i3S. Licenciada em Ciências Farmacêuticas, trabalhou em biomedicina e concluiu o doutoramento na Universidade de Harvard e no Stowers Institute for Medical Research, nos EUA, nas áreas de medicina molecular e computação. É igualmente membro associado do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia. Está a desenvolver um biosenssor portátil para monitorizar a insuficiência cardíaca.

Diogo Magalhães e Silva é licenciado em Química pela Universidade do Porto e doutorado pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Foi bolseiro Fulbright para a investigação na Universidade da Califórnia e desenvolve investigação na IMed, Instituto de Investigação do Medicamento, onde procura aperfeiçoar uma forma de tornar os tratamentos contra o cancro coloretal menos tóxicos.

Este artigo faz parte de uma série sobre investigação científica de ponta e é uma parceria entre o Observador, a Fundação “la Caixa” e o BPI. Os projetos de Paula Parreira, Inês Mendes Pinto e Diogo Magalhães e Silva foram selecionados entre centenas de candidaturas internacionais para financiamento pela fundação sediada em Barcelona, ao abrigo do CaixaResearchValidate, um programa que promove a transformação do conhecimento científico criado em centros de investigação, universidades e hospitais em empresas e produtos que geram valor para a sociedade. As candidaturas para a edição de 2023 deverão abrir em breve.