A utilização de Gio Reyna — ou a falta dela — ao longo do Mundial do Qatar foi um dos principais temas dentro da seleção dos Estados Unidos. O jovem jogador do Borussia Dortmund só participou em duas das quatro partidas que os norte-americanos cumpriram no Campeonato do Mundo e sempre como suplente utilizado, entre sete minutos contra Inglaterra e 45 contra os Países Baixos.
O tópico ganhou novos contornos nos últimos dias, quando o selecionador dos Estados Unidos revelou que um jogador esteve muito perto de ser expulso da concentração da equipa no Qatar. “Tínhamos um jogador que claramente não estava a cumprir as expectativas, tanto dentro como fora de campo. Era um em 26, por isso, destacava-se. Enquanto equipa técnica, estivemos reunidos durante horas a debater o que íamos fazer com este jogador. Estávamos prontos para comprar um bilhete de avião para casa, de tão extrema que a situação era”, explicou Gregg Berhalter na passada terça-feira, em Nova Iorque, durante uma cimeira sobre liderança.
Berhalter não nomeou o jogador e nunca o personalizou. Contudo, logo no dia seguinte, Gio Reyna fez um aparente mea culpa nas redes sociais e deixou praticamente claro que era dele que o selecionador tinha falado. “Na antecâmara do Mundial, o treinador disse-me que o meu papel durante a competição seria muito limitado. Fiquei devastado. Jogo com orgulho e paixão, o futebol é a minha vida e acredito nas minhas capacidades […] Também sou uma pessoa muito emotiva. E admito por completo que deixei que as minhas emoções levassem a melhor e afetassem o meu treino e o meu comportamento durante alguns dias. Pedi desculpa aos meus colegas e ao selecionador por isso mesmo e foi-me dito que estava perdoado”, escreveu o atleta do Borussia Dortmund no Instagram.
Em resumo, o assunto parecia sanado. Mas os desenvolvimentos das últimas horas fazem com que toda a história pareça agora um verdadeiro filme de Hollywood. Ora, a mãe de Gio Reyna e mulher de Claudio Reyna, antigo internacional norte-americano que chegou a representar o Manchester City, anunciou em comunicado que denunciou à US Soccer um episódio de violência doméstica que envolve Gregg Berhalter. O motivo? O facto de estar desagradada com os comentários feitos pelo selecionador sobre o filho, na tal conferência, já depois do fim do Campeonato do Mundo.
“Achei que estava a ser especialmente injusto o facto de o Gio, que já pediu desculpa por ter sido imaturo durante o Mundial, ainda estar a ser arrastado pela lama quando o Gregg tinha pedido e recebido perdão por fazer algo muito pior quando tinha a mesma idade”, defendeu Danielle Reyna. Entretanto, o pai de Gio também já foi acusado de ameaçar fazer as mesmas revelações ainda durante o Mundial, através de mensagens, mas Claudio Reyna já rejeitou a versão e garante que só falou com a US Soccer para partilhar a frustração sobre o facto de o filho não estar a ser utilizado.
Contudo, de acordo com a ESPN, a US Soccer soube do caso de violência doméstica de Gregg Berhalter a 11 de dezembro e depois de uma chamada telefónica com Claudio e Danielle Reyna. Na sequência das alegações, o selecionador norte-americano já emitiu um comunicado a detalhar toda a situação — sem esquecer o facto de a mulher, Rosalind, ser colega de quarto de Danielle na Universidade da Carolina do Norte à altura dos factos.
Former USMNT captain Claudio Reyna, father of Gio Reyna, sent multiple messages to U.S. Soccer executives during the World Cup threatening to reveal sensitive details about USMNT coach Gregg Berhalter's past, multiple sources told ESPN. https://t.co/Hp1fDz0mJ0
— ESPN FC (@ESPNFC) January 4, 2023
“No outono de 1991, conheci a minha alma gémea. Tinha acabado de fazer 19 anos e era caloiro na universidade quando conheci a Rosalind. Uma noite, depois de termos estado a beber num bar local, a Rosalind e eu tivemos uma discussão acesa que se prolongou no exterior. Tornou-se física e dei-lhe um pontapé nas pernas”, referiu, garantindo que as autoridades nunca foram envolvidas e que procurou acompanhamento psicológico na sequência do episódio. “As lições que aprendi nessa noite, há mais de três décadas, tornaram-se a fundação para uma relação de amor, devoção e apoio”, acrescentou, indicando que o namoro foi retomado sete meses depois e culminou num casamento que já leva 25 anos e quatro filhos.
Em reação, a US Soccer abriu uma investigação e já anunciou que será Anthony Hudson, adjunto de Gregg Berhalter, a orientar um estágio na Califórnia durante o mês de janeiro. Ainda assim, o presidente da federação norte-americana abriu desde logo a porta ao regresso do selecionador se as conclusões da tal investigação corroborarem a versão de Berhalter.