Rui Afonso, deputado do Chega, e Jerónimo Fernandes, ex-presidente da concelhia do Chega no Porto, envolveram-se numa discussão acesa nos corredores da Assembleia da República em que, segundo apurou o Observador, chegou a existir agressão física. O partido liderado por André Ventura garante que “não tem conhecimento da existência de qualquer agressão a envolver um deputado do grupo parlamentar”.

Questionados pelo Observador sobre o incidente, o ex-dirigente do Porto não desmentiu nem confirmou a situação e recusou-se a prestar quaisquer declarações, enquanto o deputado, até ao momento da publicação desta notícia, não respondeu aos contactos.

A relação entre os dois, um já foi e outro ainda é dirigente local no Porto, há muito que se deteriorou, numa distrital marcada pelas lutas internas, nomeadamente devido à rivalidade entre José Lourenço — ex-presidente da distrital que sugeriu Jerónimo Fernandes para a concelhia, foi suspenso do partido e que acabou por se desfiliar — e o atual presidente da distrital do Porto que é também deputado municipal na cidade.

Aliás, devido aos trabalhos parlamentares em Lisboa, de acordo com as atas da Assembleia Municipal do Porto, Jerónimo Fernandes é muitas vezes o substituto de Rui Afonso nas reuniões. Mas também este tema é sensível entre ambos, tendo em conta que Rui Afonso nem sempre pede para ser substituído e voltou mesmo a faltar na última sessão, o que terá levado ao aquecer dos ânimos no Parlamento.

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Na passada quarta-feira, no dia em que a reunião plenária foi marcada pelo debate de urgência sobre a TAP, Jerónimo Fernandes esteve na Assembleia da República, ao que o Observador apurou devido à apresentação de uma sugestão de lista de delegados à Convenção, e terá confrontado Rui Afonso sobre a falta de empenho na Assembleia Municipal do Porto — uma conversa que não agradou ao deputado.

No corredor, próximo do gabinete parlamentar do Chega, os dois trocaram palavras ofensivas, que se ouviram até noutros gabinetes, e, de acordo com fontes do Observador, os ânimos exaltaram-se e houve mesmo contacto físico agressivo entre os dois militantes do Chega.

Porém, fontes do Chega ouvidas pelo Observador que confirmam a existência de uma discussão, gritos, não corroboram a tese de que houve agressões físicas. É um bocado “exagerado“, assegura um dos dirigentes, esclarecendo que o nível de voz subiu, que houve ameaças e uns “empurrões“, mas “não agressão no verdadeiro sentido da palavra“.

Questionado pelo Observador sobre o caso que ocorreu nos corredores da Assembleia da República e as possíveis consequências para o deputado Rui Afonso, o grupo parlamentar do Chega referiu que “não tem conhecimento da existência de qualquer agressão a envolver um deputado do grupo parlamentar”.

Esta não é a primeira vez que membros do Chega se envolvem em confrontos físicos. No seguimento do polémico caso que envolveu Gabriel Mithá Ribeiro, em que o deputado se demitiu da direção do partido, e em que acusou o Chega de falta de liberdade de expressão — um acontecimento que ficou resolvido com um vídeo em que Mithá Ribeiro e André Ventura fizeram as pazes publicamente — foi noticiada pelo Diário de Notícias uma agressão do deputado Bruno Nunes numa reunião parlamentar.

Na altura, Mithá Ribeiro, numa conferência de imprensa, confirmou-o nas entrelinhas, já que, quando questionado sobre o caso, disse que essa agressão “não teria relevância se não surgisse num conjunto de manifestações em que [mostrou] insatisfação”.

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Pouco tempo antes, o Observador tinha noticiado que o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, ameaçou de violência física um assessor do grupo parlamentar socialista nos corredores da Assembleia da República. O episódio aconteceu depois de uma tarde especialmente tensa, após o debate no plenário sobre alterações à lei de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros do território nacional que fez os deputados do partido de André Ventura abandonarem o plenário em protesto com o presidente da Assembleia da República.

No mesmo dia, o ex-assessor Manuel Matias também questionou um dos jornalistas que estava numa conferência de imprensa. Quem assistiu relata que se tratou de um tom intimidatório e que o ex-assessor acabou por se afastar quando foi questionado sobre o porquê de estar naquele local, depois de já não trabalhar no Parlamento.

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Nota: O Observador recebeu um direito de resposta a este artigo.