Gina Lollobrigida, “Lollo”, a musa italiana que conquistou Hollywood, a mulher mais bonita do mundo. A atriz, que morreu esta segunda-feira aos 95 anos, encarnou junto do público todos estes papéis e é lembrada (por quem viveu os tempos em que mais de evidenciou) como um dos maiores exemplos do glamour e da sofisticação clássica dos anos 40 e 50.

Em Portugal, grande parte do público da época habituou-se a vê-la no grande ecrã, uma mulher tornada em mito como os grandes ícones que a câmara eterniza. Os filmes foram marcando presença assídua nos cinemas portugueses do meio do século – e as duas passagens por território nacional fazem ainda assim parte do imaginário popular, oferecendo uma janela do jet-set português em período de ditadura.

Morreu a atriz italiana Gina Lollobrigida. Tinha 95 anos

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A primeira visita a Portugal foi só de passagem. Corria o ano de 1954 quando Gina Lollobrigida aterrou em Lisboa. No aeroporto, que viria anos mais tarde a chamar-se Humberto Delgado, Lollo aterrou num país cinzento e dominado pelo Estado Novo. Essa realidade e a curta duração da estadia, uma escala rumo aos Estados Unidos, não impediu uma multidão de fãs de se reunirem na Portela, ansiosos para verem a estrela de “Pão, Amor e Fantasia” ao vivo e a cores.

Mas foi a sua segunda visita que se celebrizou na história do jet-set português. O dia 6 de setembro de 1968 entrou na história por dois motivos: primeiro, porque foi nesta data que Salazar foi hospitalizado, semanas após a queda da cadeira que metaforicamente deu início à queda do regime; segundo, porque nessa mesma noite, Portugal se abriu ao mundo com um evento que ficou conhecido como a “Festa da Quinta Patiño”.

O infiltrado no “baile do século”, as moradias dos milionários e uma morte misteriosa: a história da Quinta Patino

Eram mais de 1.500 os convidados da festa organizada pelo empresário boliviano Antenor Patiño. Desta multidão destacavam-se duas estrelas, que concentraram em si todas as atenções: Lollobrigida, a italiana, e a também atriz Audrey Hepburn. Se a franzina britânica, estrela de filmes como “Cinderela em Paris”, “Breakfast at Tiffany’s” ou “Minda Linda Lady”, arrancou olhares e elogios vestida de branco, Lollo, tida por muitos como a mulher mais sexy da época, não foi tão consensual.

“Estava pirosíssima. Sempre a achei assim, mas desta vez exorbitou”. A apreciação de Vera Lagoa (pseudónimo jornalístico da então cronista social Maria Armanda Falcão) pode ser vista como um presságio do que estava por vir, quando a estrela do grande ecrã lhe viu ser recusada a entrada na discoteca Van-Gogo, à época um conhecido espaço da noite de Cascais por, na opinião do porteiro, que não a reconheceu, lhe parecer uma senhora de “aspeto duvidoso”.

Quando a noite caía o PREC renascia

A noite, contudo, não foi inteiramente para esquecer, pelo menos para alguns: Firmino, engenheiro Viana do Castelo que resolveu viajar até Cascais e infiltrar-se sem convite na Quinta Patiño, conseguiu dançar com a diva. “Ficou tão entusiasmado que não queria deixar de contar a história, inclusive à minha mãe”, contou o filho de Firmino ao Observador em 2021. “Lembro-me de estar de férias e da minha mãe estar ao telefone a ouvir a história… Ele a vangloriar-se por ter estado a dançar com a Gina”.

Gina Lollobrigida em Portugal

Gina Lollobrigida, aquando da sua segunda vinda a Portugal.